Deputada Leci Brandão durante a audiência pública na ALESP.

“Todo mundo tem boas intenções com a capoeira, mas ela não está nos livros, não está nos programas de governo, não é contemplada pelas políticas públicas, ou seja, a capoeira não conta ainda com o respeito que ela merece e que ela tem direito”, afirmou a deputada Leci Brandão durante a audiência pública “Políticas Públicas Para a Capoeira”, convocada pela deputada na Assembleia Legislativa de São Paulo, no dia 7 de novembro.
A audiência reuniu mestres, mestras, professores e alunos de diversas regiões do Estado com o objetivo de debater demandas e elaborar ações de políticas públicas para a capoeira.
Durante o debate, umas principais questões levantadas foi a defesa da capoeira inserida na escola enquanto parte do currículo escolar, e não apenas como projetos temporários.
Para Mestre Gladson de Oliveira, da Federação Paulista de Capoeira, “tudo o que se refere à educação hoje se encontra na capoeira. Ela tem um valor imenso, e temos que ter essa coragem, de levar tudo o que ela proporciona para dentro de uma escola. Porque a partir do momento que entramos numa escola falamos de Zumbi dos Palmares e de toda a história que ela carrega”.
A contramestra Boca (Alessandra Braga), de Jaguariúna, participou da audiência representando o coletivo feminino de capoeira Mulheres da Garoa, e também defendeu a inserção da capoeira na grade escolar: “Não será em cursos de 8 ou 12 meses que as crianças vão absorver alguma coisa. Particularmente acho que isso é uma esmola para a capoeira. Acredito que a capoeira deve estar em grades curriculares, como cultura brasileira e precisa ser valorizada”.
“Nosso coletivo reúne mulheres que atuam em diversas frentes, e nosso objetivo maior é o empoderamento da mulher e levar a capoeira ao mundo, através de grupos de mulheres. Infelizmente nós vivemos um momento muito crítico no nosso país, com um governante de extremos preconceitos. E todos os tipos de preconceitos se atenuam ainda mais quando somos mulheres”.
“Trabalho há 30 anos unicamente com a capoeira, em sete pontos de ensino na minha cidade. Tenho 3 registros na minha carteira, como professora de capoeira, e isso é um orgulho que eu trago para a capoeira, como uma mulher. E nesse período já ouvi muita promessa, muitos movimentos, mas nada com um fundo tão verdadeiro, e nada com um posicionamento tão firme como esse. Espero que esse quadro mude, apesar de termos um governo que está engolindo a nossa cultura, acredito que cada passo ao abismo que ele dá isso nos fortaleça ainda mais para lutar”.
Mestre Valdenor ressaltou o poder da capoeira enquanto força transformadora na educação. “Na escola, a capoeira vai desconstruir um currículo de educação no Brasil que é cristão, que é grafológico – corpo, música e outras artes não têm valor – e vamos também combater a questão do currículo europeu que predomina no nosso ensino. Vai tratar da história dos negros, de como vieram, como viveram e como morreram. Vai trazer os heróis negros, indígenas, escritores, cientistas, que foram esquecidos”.
Para Fabiano Pavio, professor coordenador do projeto Capoeira na UMES (União Municipal do Estudantes Secundaristas), “é necessário debater a regulamentação da profissão do capoeirista para contribuir na atuação da capoeira dentro das escolas”. “Sabemos o quanto a capoeira é fundamental para a juventude hoje enquanto cultura, esporte e educação”, ressaltou.
No encontro estiveram presentes também, entre outros, mestre Alcides, mestre Gildásio, mestre Borboleta, mestre Pelé, mestre Pajé, mestre Zumbi e mestre Gato.
No encontro foi aprovada a criação de um Fórum permanente que passará a se reunir para aprofundar as propostas apresentadas.