A suspensão da certificação do novo gasoduto vai elevar o preço do gás no mercado europeu

Atrasar a certificação do gasoduto Nord Stream 2 não é um problema para a Rússia, mas para os consumidores europeus, disse o Representante Permanente da Rússia na União Europeia, Vladimir Chizhov, à agência de notícias russa TASS. A declaração foi feita na terça-feira (28), após esta semana a Federal Network Agency da Alemanha anunciar que não será tomada uma decisão sobre a certificação da operadora Nord Stream 2 no primeiro semestre de 2022.

“Isso não é um problema para a Rússia. A Rússia entrega exatamente o volume contratado. Um pouco mais até. Temos reservas, as rotas de transporte duplicadas através da Ucrânia e da Polônia não desapareceram, então temos todas as oportunidades de entregar aos países da UE a quantidade de gás que eles desejem comprar”, ele disse.

“Só os consumidores europeus vão sofrer com os atrasos na certificação do Nord Stream 2. O gás através deste gasoduto, fornecido com base em contratos de longo prazo, será o mais barato. Afinal, nos restantes casos é o consumidor quem paga pelo transporte adicional e outros custos”, explicou.

Enquanto sob os contratos de longo prazo da Gazprom o preço do gás é da ordem de US$ 280 por 1.000 metros cúbicos, no mercado à vista (spot) os preços chegaram a US$ 2.000 por 1.000 metros cúbicos em dezembro.

O que ocorreu em decorrência dos efeitos combinados de um inverno que se prevê mais intenso, insuficiente geração de energia renovável, forte recuperação na demanda asiática e aposta da União Europeia pelo mercado à vista ao invés de contratos de longo prazo.

A maior demanda de gás na Ásia puxou os preços e desviou para lá os navios-tanque, agravando a crise na Europa, onde já eram baixas as reservas nas instalações de armazenamento de gás, por causa do inverno anterior.

Fatos que não impedem que a mídia europeia e certos círculos políticos busquem fazer da Rússia e da Gazprom o bode expiatório pela crise do gás.

“Todas as acusações contra a Rússia e a Gazprom relacionadas ao fornecimento de quantidade insuficiente de gás ao mercado europeu são um monte de mentiras”, observou o porta-voz da Gazprom, Sergei Kupriyanov.

“Este ano, a Gazprom forneceu 50,2 bilhões de metros cúbicos de gás para a Alemanha, o que é 5,3 bilhões a mais do que em 2020. Além da Alemanha, entre os países para os quais a Gazprom já entregou mais gás do que no ano passado estão Itália, Turquia, Bulgária , Hungria, Sérvia, Dinamarca, Finlândia e Polônia”, assinalou. “Vários clientes, incluindo da França e da Alemanha, já receberam seus volumes de contrato anual e, portanto, não apresentam mais pedidos de fornecimento de gás”.

De acordo com o porta-voz, a Gazprom está pronta para entregar alguns volumes adicionais de gás sob os contratos de longo prazo existentes, a preços bem mais baixos do que os ‘spot’.

“Todos os problemas na Europa Ocidental são criados pelos próprios [europeus], não há necessidade de culpar a Gazprom por isso. Seria melhor ligar os holofotes sobre eles próprios”, afirmou o porta-voz.

Gazprom

Quanto a isso, a própria porta-voz do Ministério Federal Alemão para Assuntos Econômicos e Energia, Annika Einhorn, reconheceu na segunda-feira que Berlim não registra interrupções no fornecimento de gás, a segurança do fornecimento de gás foi garantida e a Rússia cumpre todas as suas obrigações contratuais. “Estamos acompanhando a situação do gás de muito perto. A segurança do abastecimento de gás está garantida, não há interrupções no abastecimento”, confirmou.

Na semana passada, em sua coletiva anual, o presidente Putin acusou especuladores na Alemanha de revender o gás russo a preços mais altos para a Polônia e Ucrânia, em vez de aliviar o mercado superaquecido. De acordo com Putin, a Rússia foi “posta de lado” pela Polônia quando se trata de administrar o oleoduto e a Europa teve apenas a si mesma

como culpada pela alta dos preços. É isso que explica a reversão do fluxo de gás no gasoduto Yamal, da Alemanha para a Polônia.

Mais ecológico

Representante Permanente da Rússia na União Europeia, Chizhov, destacou outro aspecto favorável ao gás via Nord Stream 2. “Será o mais ecologicamente correto da Europa se você olhar a pegada de carbono, tão falada em Bruxelas, já que a produção e o transporte serão feitos nos mais modernos padrões”, enfatizou o diplomata.

O Nord Stream 2, que duplica o já em operação há uma década Nord Stream 1, foi totalmente concluído em 10 de setembro de 2021 e o início de operação vem sendo retardado pela Alemanha sob exigências burocráticas. Sob pretexto da suposta ameaça russa à “segurança energética da Europa”, os EUA, que querem vender seu mais caro e poluente gás de fracking, tentaram impedir a conclusão do Nord Stream 2 por meio de sanções e seguem buscando inviabilizá-lo.