Ato contra a vacina | Imagem: Reprodução

Um grupo de 299 bolsonaristas que não superou ainda o medo de tomar vacinas foi para a Avenida Paulista no domingo (01) desabafar contra a vacina da Covid-19. Eles são a favor de deixar o coronavírus livre para infectar um grande número de brasileiros. Desde que não sejam eles, claro.

O fracasso do ato, que eles chamaram da “segunda revolta da vacina”, numa referência à revolta ocorrida em 1904, no Rio de Janeiro, contra a vacina da varíola, reflete o isolamento desta posição na sociedade. Grande parte dos participantes não usava máscara.

Pouquíssimos, porém os manifestantes protestaram contra tudo e contra todos, inclusive o governador João Doria. Mas teve gente que se manifestou a favor: pelo menos um deles carregava um cartaz pedindo votos para Trump. Deve ter angariado muitos votos para o republicano, que está a perigo nos EUA, entre os milhões de americanos que costumam frequentar a Paulista aos domingos.

Uma pesquisa do Ibope divulgada no sábado (31) mostrou que a posição retrógrada, obscurantista e anti-científica de Bolsonaro de se contrapor à vacinação em massa contra a Covid-19 é minoritária no país e na cidade onde a polêmica é maior: São Paulo.

O Ibope mostrou que 67% das pessoas pesquisadas disseram que discordam do presidente e querem a compra da vacina chinesa, que está sendo produzida no Instituto Butantan e testada em todo o Brasil. Ele anunciou na semana passada que não vai comprar a vacina.

Jair Bolsonaro é um defensor ferrenho da ideia de deixar o vírus agir livremente e, se possível, infectar a maior parte da população brasileira. Por isso, ele não usa máscara, sabota os governadores, promove aglomerações, desdenha da pandemia e ataca a vacina. Ele quer a chamada “imunidade de rebanho”, ou seja, quanto mais infectados, melhor.

“Se morrer muita gente – já são mais de 160 mil brasileiros mortos -, paciência. A vida é assim mesmo. Uns morrem e outros seguem em frente”, diz o presidente. “O que vocês querem que eu faça?”, indagou ele, numa das ocasiões em que foi questionado sobre essa estupidez.

A aglomeração, convocada pelo deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (PTB), aconteceu em frente ao Masp e não ocupou nem a frente toda do museu. “Só se vacina quem quer”, disse o deputado organizador do ato.

O governo de São Paulo disse em nota que respeita o direito à manifestação, mas lamentou “que o obscurantismo ideológico insuflado por minoria raivosa seja usado para espalhar pânico e desinformação”. O prefeito, Bruno Covas (PSDB) comentou que não acha necessário obrigar a vacina. “A grande maioria aguarda com ansiedade e vai querer se vacinar”, disse ele.

Na nota do Palácio dos Bandeirantes diz que está fazendo sua obrigação. “[O governo de São Paulo] atua de forma decisiva, desde junho, no desenvolvimento de uma vacina por meio de parceria internacional entre o Instituto Butantan e a biofarmacêutica Sinovac Life Science. Age de forma responsável para coibir impactos na economia e manter o equilíbrio fiscal das contas públicas, sem aumento de impostos e enxugando a máquina administrativa. Incentiva e orienta diariamente a população sobre a necessidade das medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higiene pessoal”, afirmou a nota do governo paulista.

O ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi desautorizado e humilhado na semana passada por Bolsonaro, um dia depois de anunciar, em reunião com 24 governadores, que o governo iria comprar 46 milhões de doses da CoronaVac, a vacina do Butantan em parceria com a Sinovac.

Na ocasião do veto, o candidato do PCdoB à Prefeitura de São Paulo (SP), deputado Orlando Silva, declarou seu apoio à vacina e criticou o governo federal. Ele comunicou ao governador do estado, João Dória, que está à disposição, como deputado federal, para dar todo apoio ao Instituto Butantã, que desenvolve a vacina contra a Covid-19. “É hora de salvar vidas, não de politizar a vacina. A sabotagem de Jair Bolsonaro é um crime contra os brasileiros”, disse Orlando.

O secretário estadual da Saúde de SP, Jean Gorinchteyn, disse que “recebeu com imenso espanto” o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro de não adquirir a Coronavac, mas que o governo de São Paulo vai buscar fornecer a vacina para os brasileiros. “Recebemos com imenso espanto. A vacina é um direito da população, e é a única maneira que temos de evitar que tantas pessoas continuem morrendo. O governo do estado de São Paulo irá, assim que aprovado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], fornecer aos brasileiros a vacina”, disse Gorinchteyn.

Íntegra da nota do Governo de SP

“O Governo de São Paulo não mede esforços para combater uma pandemia que já se aproxima de 160 mil vidas perdidas no Brasil. Desde fevereiro, prioriza a medicina e a ciência, mais que dobrando o número de leitos de UTI para atendimento a pacientes graves e reforçando o

Sistema Único de Saúde para atendimento a mais de 1,1 milhão de pessoas infectadas pelo coronavírus em nosso estado.

Incentiva e orienta diariamente a população sobre a necessidade das medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higiene pessoal. Atua de forma decisiva, desde junho, no desenvolvimento de uma vacina por meio de parceria internacional entre o Instituto Butantan e a biofarmacêutica Sinovac Life Science.

Age de forma responsável para coibir impactos na economia e manter o equilíbrio fiscal das contas públicas, sem aumento de impostos e enxugando a máquina administrativa. E respeita o direito democrático à livre manifestação, mas lamenta que o obscurantismo ideológico insuflado por uma minoria raivosa em redes sociais seja usado para espalhar pânico e desinformação.”