Para o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, confrontar a China será prejudicial a todos

Em declarações à Bloomberg, o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger recomendou ao presidente Biden “alguma flexibilidade nixoniana” e tratar a China com paciência. Embora Washington deva trabalhar para conter a influência de Pequim – salientou -, isso “não pode ser alcançado por meio de confronto permanente”.

Kissinger assinalou que “Biden e os governos anteriores foram muito influenciados pelos aspectos domésticos da visão da China”, e em sua pressa em se opor ao crescente poder, riqueza e influência de Pequim, falharam em compreender “a permanência da China”.

Foi em 1972 a histórica visita de Nixon a Pequim, que se desdobraria depois no estabelecimento de relações diplomáticas EUA-China sob o governo Carter, sob o compromisso de Washington de reconhecimento do princípio de ‘Uma só China’ e encerramento de qualquer relação oficial EUA-Taipei. No início da década de 1970, a República Popular da China teve reconhecida, pela ONU, sua condição de legítima representante do povo chinês, inclusive no Conselho de Segurança, o que fora usurpado pelo regime de Chiang Kaichek por duas décadas.

Nos últimos dias, vários meios de informação ocidentais afirmaram que a presidente da Câmara de representantes dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, irá visitar Taiwan em agosto – o que já foi repelido por Pequim como uma violação escancarada do princípio de ‘Uma só China” e evidente provocação.

Em abril, chegou a ser anunciado que ela visitaria Taipei, mas acabou não indo, supostamente por ter contraído Covid. Agora, agências de notícias relatam que até o Pentágono aconselhou Pelosi a não ir, para não entornar o caldo.

Após o governo Obama ter anunciado seu “pivô para a Ásia”, seu sucessor Trump desencadeou uma guerra comercial e tecnológica contra a China e colocou a nação asiática como o “desafio do Indo-Pacífico”, endossado depois por Biden, que assim tem orientado a Otan.

Anteriormente, durante o encontro anual do Fórum Econômico Mundial de Davos, ao qual se dirigiu por videoconferência, Kissinger alertou que “Taiwan não pode ser o centro das negociações entre China e Estados Unidos”.

“A questão de Taiwan não vai desaparecer”, continuou Kissinger. “Como sujeito direto do confronto, isso levará a uma situação que pode se transformar no campo militar, o que é contra o interesse do mundo e contra o interesse de longo prazo da China e dos Estados Unidos.”

“É claro que é importante evitar a hegemonia chinesa ou de qualquer outro país”, acrescentou Kissinger em seus comentários à Bloomberg. No entanto, ele alertou que “isso não é algo que pode ser alcançado por confrontos sem fim”.

Horas antes da publicação da entrevista, o destroier da Marinha dos EUA USS Benfold desempenhou nova provocação contra a China, navegando pelo Estreito de Taiwan.