A ‘doença americana’ – o tiroteio em massa raivoso e a esmo contra pessoas – voltou às manchetes nos EUA com o ataque de terça-feira (12), que deixou 29 feridos em uma estação de metrô no bairro do Brooklyn, em Nova York, sendo que cinco dos baleados estão em estado crítico.

Os disparos foram feitos por um homem negro usando máscara de gás e colete de construção laranja. Fotografias e vídeos amadores mostraram poças de sangue e pessoas deitadas no chão de um trem do metrô, bem como na plataforma da estação “36th Street”.

10 pessoas foram baleadas e outras 13 ficaram feridas no desespero de tentar escapar dos tiros. Alguns deles pularam em outro trem para fugir para a próxima estação, disseram fontes.

O ataque ocorreu na parte da manhã. O atirador, descrito como um homem de baixa estatura e cerca de 80 quilos, também jogou uma granada de gás para aumentar o caos e conseguiu fugir do local, segundo as autoridades policiais.

Posteriormente, a polícia localizou uma van que pode ter sido alugada pelo atirador, a partir daí identificado em caráter preliminar como Frank James, 62 anos.

“Estamos tentando localizá-lo para determinar sua conexão com o tiroteio no metrô, se houver”, disse a repórteres o chefe dos detetives policiais, Essig. O departamento também compartilhou fotos do homem em um post no Twitter.

Segundo a comissária de polícia Keechant Sewell, que o suspeito fez uma série de “postagens preocupantes” on-line, incluindo sobre “sem-teto”, a cidade de Nova York e o prefeito de Nova York Eric Adams, acrescentando que as autoridades “aumentariam os detalhes de segurança do prefeito”. Ela observou, no entanto, que as postagens não eram necessariamente “ameaças”, mas ainda assim eram alarmantes. O prefeito Adams, democrata, foi eleito prometendo aumentar a segurança na cidade, cujos índices de violência aumentaram no período recente.

Em ano de eleições intermediárias, a repercussão do caso preocupa os democratas, com a governadora de Nova York, Kathy Hokul, dizendo que “Nós (americanos) estamos cansados de ler manchetes sobre crimes”. “As pessoas do estado de Nova York estão apoiando as pessoas desta cidade e desta comunidade, e estamos dizendo: ‘Chega, estamos fartos… Chega de tiroteios em massa, não há mais vidas destruídas, não há mais sofrimento para as pessoas que estão apenas tentando viver suas vidas como pessoas normais. Nova York”, disse ela durante uma entrevista coletiva.

No primeiro trimestre de 2022, o número de tiroteios na cidade de Nova York aumentou de 260 para 296 em comparação com o mesmo período de 2021, segundo dados da polícia da cidade divulgados na semana passada.

A polícia recuperou na estação de metrô outros itens além da chave da van, incluindo uma pistola Glock-17, três carregadores estendidos, 15 balas, várias cápsulas gastas, gasolina, um machado, bem como quatro granadas de fumaça, duas das quais foram usadas durante o ataque.

Como sempre nesses casos que se repetem nos EUA ano após ano, voltou à tona a discussão sobre se foi um “lobo solitário” – alguém que age sozinho, no imaginário norte-americano -, ou um “ato de terrorismo”, provavelmente doméstico.

Também, sobre a insana quantidade de armas – inclusive fuzis semiautomáticos – que todos os anos é adquirida por norte-americanos, o que não muda, chacina após chacina, inclusive em escolas e até cinemas, e sobre o papel do Cartel do Rifle (NRA) para a disseminação desenfreada de armas nos EUA, com ajuda – bem remunerada – de parlamentares republicanos e de blogueiros de extrema direita.

Mas, como já observou o cineasta Michael Moore, de “Tiros em Columbine” – o massacre em uma escola, em 1999 -, o vizinho Canadá igualmente tem um número exorbitante de armas em posse de indivíduos, mas nem por isso ali ocorrem os tiroteios em massa vistos nos EUA.

Em última instância, o que precisa ser respondido é o que leva indivíduos a responderem às frustrações, com um ritual de chacina contra desconhecidos, sem demonstrar a mínima empatia por quem quer que seja.

Cuja resposta, além do estímulo à violência glamourizado no cinema e na mídia norte-americana e da facilidade de acesso a armas letais, está na própria história do país, fundada na escravidão e na guerra de extermínio aos indígenas, mitologicamente descrita como a ‘conquista do Oeste’, a que se sucederam as incursões “dos palácios de Montezuma às praias de Tripoli”, como exalta o hino dos marines, até às “guerras sem fim” do século 21, passando pelas Filipinas, Coreia, Vietnã, Afeganistão e Iraque.

Após um século de chacinas, como em Mi Lai e tantos outros lugares, as galinhas voltam para ‘ciscar em casa’ – uma expressão tipicamente norte-americana. Agora, numa estação de metrô.