Indignados, familiares das vítimas levaram os corpos até a capital provincial, Jalalabad

Ataque com drone dos EUA no Afeganistão assassinou pelo menos 30 civis e feriu 40 – camponeses que colhiam pinhões – na quarta-feira (18) na província de Nangarhar, no leste do país. No dia 7, o presidente Trump dera por encerradas as negociações de paz com a guerilha Talibã, declarando-as “mortas”.

Indignados, familiares das vítimas levaram os corpos até a capital provincial, Jalalabad, na manhã de quinta-feira para denunciar o estúpido massacre. “Meu filho e seus amigos foram mortos pelos americanos. Como eles puderam fazer isso conosco?”, disse Malak Khaiyali Khan, chefe da vila de Jaora na área de Wazir Tangi, que liderava um protesto antes dos ritos funerários.

Ele havia enviado seu filho adolescente junto com três amigos para descascar pinhões. Na noite de quinta-feira, quatro corpos foram entregues a Khan, incluindo o de seu filho.

Conforme carta mostrada à Reuters, doze dias antes da safra de pinhões, o governador da província recebeu dos anciãos da aldeia na área de Wazir Tangi pedido de autorização para a coleta dos frutos, que envolveria 200 camponeses, incluindo crianças e adolescentes. A carta foi parte de um esforço para proteger os trabalhadores de serem pegos em meio aos confrontos entre forças do governo pró-EUAe jihadistas na região, também disputada pelo Talibã e pelo recém chegado Daesh, mais conhecido na mídia ocidental como Estado Islâmico.

Cartas solicitando autorização também foram enviadas às facções jihadistas na área e os moradores da aldeia acreditavam que os trabalhadores na coleta estariam em segurança. Mas na quarta-feira, poucas horas depois que agricultores, trabalhadores e crianças terminaram o dia de trabalho de colher pinhões na área densamente arborizada e acenderam fogueiras perto de suas tendas, um drone norte-americano chegou ao local e cometeu a chacina, que chocou os moradores.

“Nós nos amontoamos em volta de pequenas fogueiras e estávamos discutindo a situação de segurança em nossas aldeias, mas de repente tudo mudou. Havia destruição por toda parte”, disse Akram Sultan, um dos sobreviventes, que se escondeu atrás de uma árvore e depois correu para a floresta junto com algumas crianças.

Até 23.000 toneladas de pinhões são produzidas a cada ano no Afeganistão, e o paíscomeçou a exportar até US $ 800 milhões da colheita para a China anualmente por meio de um corredor aéreo.

“Os lados em guerra deram seu consentimento e os contratistas foram autorizados a trazer trabalhadores de províncias vizinhas … nenhuma atividade ilegal estava sendo realizada, mas mesmo assim o drone americano matou pessoas inocentes”, disse Sohrab Qadri, membro do conselho da província de Nangarhar, à Reuters.

Porta-voz do Pentágono no Afeganistão confirmou na quinta-feira o ataque por drones, supostamente para destruir esconderijos do Estado Islâmico. Questionado sobre a carta enviada ao governador pelos anciãos da vila, o coronel Sonny Leggett disse que isso faria parte da investigação. “Estamos trabalhando com autoridades locais para determinar se houve danos colaterais”.

Segundo relatório da ONU, os ataques aéreos mataram 363 civis e feriram 156 no Afeganistão no primeiro semestre deste ano. Entre os mortos e feridos havia 150 crianças. A província de Nangarhar sofreu o maior número de vítimas civis no ano passado. Um relatório da ONU disse que pelo menos 681 civis morreram na província em ataques suicidas, explosões de minas terrestres e ataques aéreos. A província possui grandes depósitos de minerais.

Em Qalat, no sul do país, o Talibã assumiu a responsabilidade por uma explosão de caminhão-bomba, que matou pelo menos 20 pessoas e feriu outras 97. Uma autoridade local disse que a explosão atravessou o portão de um hospital, mas o alvo provavelmente era uma base de treinamento nas proximidades da poderosa agência de segurança do Afeganistão. Em Jalalabad, homens-bomba atacaram um prédio do governo, ferindo pelo menos nove pessoas em um centro de distribuição de bilhetes de identidade nacionais, que os eleitores precisarão para votar nas eleições de 28 de setembro. Na sequência, na terça-feira, dois ataques mataram 48 pessoas e feriram dezenas de outras. O Afeganistão já é a mais longa guerra da história dos EUA.