Ataques múltiplos do Irã soam como demonstração de força em meio à escalada de Israel contra vizinhos

Os recentes ataques aéreos entre o Irã e o Paquistão, na região fronteiriça, marcaram uma série de eventos sem precedentes, envolvendo lançamentos de mísseis direcionados por Teerã contra três países distintos. Este incidente levanta questões sobre as motivações por trás dos ataques, os alvos escolhidos e as implicações para a estabilidade regional.

Os ataques começaram quando o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) do Irã visou o grupo armado Jaish al-Adl, localizado em uma região montanhosa do Paquistão. Este grupo étnico balúchi e sunita é conhecido por suas atividades na província de Sistão-Baluchistão, no sudeste do Irã. O Irã atribui a Jaish al-Adl recentes ataques na cidade iraniana de Rask, justificando assim seus ataques.

Em resposta aos ataques iranianos, o Paquistão realizou bombardeios em esconderijos de grupos armados na província de Sistão-Baluchistão, do lado iraniano da fronteira. Essa ação, segundo o Paquistão, visava garantir sua própria segurança nacional.

Ambos os países divulgaram declarações afirmando respeitar a integridade territorial um do outro, mas destacando a necessidade de agir para proteger suas respectivas seguranças nacionais.

Os alvos e as justificativas

O Irã mirou o Jaish al-Adl, classificando-o como um grupo “terrorista” devido a seus ataques a postos avançados iranianos e forças de segurança ao longo da fronteira. O grupo surgiu em 2012, buscando melhores condições de vida na empobrecida província de Sistão-Baluchistão.

Por sua vez, o Paquistão visou a Frente de Libertação do Baluchistão (BLF) e o Exército de Libertação do Baluchistão (BLA), grupos separatistas armados que têm realizado ataques dentro do território paquistanês.

Implicações regionais

Esses ataques acontecem em um contexto de crescente tensão na região, especialmente em meio à guerra em Gaza, que polarizou o “eixo de resistência” apoiado pelo Irã contra os Estados Unidos e seus aliados.

O Irã lançou 24 mísseis em direção ao Iraque e à Síria um dia antes dos ataques ao Paquistão. Essa demonstração militar de força ocorre em meio a conflitos mais amplos, como os ataques dos EUA e do Reino Unido ao Iêmen e o apoio ocidental à guerra de Gaza.

Os ataques iranianos também revelaram as capacidades precisas de seu arsenal de mísseis, destacando a extensão de seu alcance e a eficácia de suas operações.

Este incidente marca um momento significativo nas relações regionais, com o Irã e o Paquistão realizando ataques diretos entre si pela primeira vez em décadas. As implicações para a estabilidade regional e as relações diplomáticas entre os dois países ainda precisam ser completamente compreendidas.

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Reações regionais

Irã –  Antes do ataque com mísseis do Paquistão, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irã disse que as forças do país tinham como alvo o grupo Jaish al-Adl, descrevendo-o como uma organização “terrorista”. O ataque foi em resposta aos recentes ataques do grupo à cidade iraniana de Rask, na província de Sistão-Baluchistão, no sudeste.

Paquistão – O Ministério das Relações Exteriores disse que o ataque do Irã era “inaceitável” e uma violação da soberania do Paquistão, e que se reservava o direito de responder. Após a retaliação do Paquistão, o ministério disse que os ataques foram baseados numa “operação baseada em inteligência” contra esconderijos de grupos armados na província de Sistão-Baluchistão, no Irã.

A ex-ministra das Relações Exteriores do Paquistão, Hina Rabbani Khar descreveu o ataque do Irã ao país como “chocante”, acrescentando que a região não poderia permitir outra escalada.

“Eles foram irracionais, ilegais e escalonadores. Parece que quem autorizou não pensou bem”, disse ela no X.

“O Paquistão transmitiu repetidamente as suas preocupações sobre os esconderijos terroristas no Irã. No entanto, o Paquistão preferiu confiar em soluções diplomáticas e criar mecanismos onde ambos os países pudessem abordar as preocupações um do outro no âmbito do direito internacional e da Carta da ONU.”

O Paquistão chamou de volta o seu embaixador em Teerã depois de denunciar o ataque e proibiu o retorno do enviado do Irã a Islamabad.

O antigo ministro dos direitos humanos do Paquistão descreveu a resposta do país como “rápida e proporcional”, mas questionou a presença de “grupos militantes” em ambos os lados da fronteira.

“Resposta rápida e proporcional. Dissuasão de espectro total reafirmada militarmente – enfrentando a ameaça em um nível de nossa escolha e prevalecendo”, postou Mazari no X.

“Mas uma das muitas questões perturbadoras que surgem é por que ambos os países muçulmanos ‘fraternos’ supostamente amigáveis, com profundos laços históricos e sociais, permitiram a criação de espaço para estes grupos militantes nos territórios um do outro?”

China –  Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse que tanto o Irã quanto o Paquistão deveriam “evitar ações que possam levar a uma escalada de tensão”.

Estados Unidos –  O Departamento de Estado dos EUA condenou os ataques com mísseis iranianos no Paquistão, bem como os no Iraque e na Síria, dizendo que Teerã violou as “fronteiras soberanas de três dos seus vizinhos”.

Afeganistão – O governo talibã classificou os ataques no Paquistão e no Irão de “alarmantes”, apelando a ambos os lados para exercerem contenção.

“À luz da paz e estabilidade recém-adquiridas na região após prolongadas guerras impostas e instabilidade, ambos os lados devem direcionar esforços para fortalecer ainda mais a estabilidade regional e resolver disputas através de canais diplomáticos e diálogo”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do governo talibã, Abdul Qahar Balkhi, no X.

Rússia – A Rússia diz que o Paquistão e o Irã devem diminuir as tensões e prosseguir a diplomacia.

“Estamos observando com preocupação a escalada da situação na zona fronteiriça Irã-Paquistão que tem vindo a crescer nos últimos dias. Apelamos às partes para que exerçam a máxima contenção e resolvam as questões emergentes exclusivamente através de meios políticos e diplomáticos”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores num comunicado.

Turquia – O Irã e o Paquistão não querem aumentar as tensões na região, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, após telefonar a autoridades de ambos os lados.

Falando numa conferência de imprensa na Jordânia, Fidan disse que a Turquia recomendou que os lados não aumentassem a escalada e que a calma fosse restaurada o mais rapidamente possível.

(por Cezar Xavier)