Astronautas da estação chinesa Tianhe fazem a 1ª caminhada no espaço
“Uau, é tão lindo aqui!”, disse o taikonauta Liu Boming ao sair da cabine do módulo central da estação espacial Tianhe da China na manhã de domingo, na primeira caminhada no espaço da missão Shenzhou-12.
O termo taikonauta é usado pelos chineses para descrever seus tripulantes no espaço sideral, equivalente ao “astronauta” dos norte-americanos e ao “cosmonauta” preferido pelos russos.
É a segunda caminhada no espaço na história aeroespacial da China após a missão Shenzhou-7 de 2008.
Três horas depois, seu colega de tripulação Tang Hongbo se juntou a ele na caminhada espacial, registrou a Agência Espacial Tripulada da China (CMSA).
Nie Haisheng, o comandante da missão, permaneceu dentro da espaçonave e operou sistemas a bordo, incluindo o do braço robótico inteligente, para ajudar e apoiar os dois taikonautas que caminhavam no espaço.
Liu e Tang instalaram travas de pé no braço robótico e na estação de trabalho fora da cabine. E por volta das 12h09, eles ergueram a câmera panorâmica do lado de fora do módulo central Tianhe.
“É como configurar um ‘pau de selfie’ para a câmera para que ela possa capturar imagens melhores”, disse o projetista-chefe da câmera ao China Space News, o jornal copublicado pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial e pela Corporação Aeroespacial de Ciência e Indústria da China.
Devido às restrições no lançamento, a câmera panorâmica havia sido inicialmente instalada em uma posição mais baixa com uma visão limitada, o que já foi corrigido. A CCTV descreveu a subida de Tang até o ponto de execução da tarefa como um “homem-aranha espacial”, disse o CCTV.
A atividade de domingo também testou o plano de fuga de emergência. O exercício de retorno de emergência coube ao mais jovem dos três tripulantes, Tang, que tem 46 anos e está em sua primeira viagem ao espaço.
Depois de subir ao ponto mais distante de Tianhe, ele correu de volta para o portão da cabine da maneira mais rápida ao ouvir o comando.
7 horas de caminhada
A caminhada espacial durou 7 horas e, por volta das 14h57 (horário de Pequim), Liu e Tang voltaram com segurança ao módulo central de Tianhe, marcando a conclusão bem-sucedida de todas as tarefas definidas para essa primeira jornada, acrescentou a CMSA.
Analistas saudaram a operação de longa duração caminhada espacial no domingo como outro grande passo em frente no desenvolvimento espacial tripulado da China, assinalou o jornal Global Times (GT), publicação chinesa de língua inglesa.
Em comparação com a caminhada no espaço de 13 anos atrás, que durou apenas cerca de 20 minutos com o único propósito de verificar a tecnologia relacionada, a tarefa de domingo foi mais voltada ao desempenho de tarefas.
“Foi um marco que mostrou que a China dominou todas as três habilidades tecnológicas essenciais exigidas para missões espaciais tripuladas, que são entrar e sair do espaço, o encontro e atracação de espaçonaves e a capacidade de trabalhar fora da cabine”, Wang Ya’nan , um analista espacial e editor-chefe da revista Aerospace Knowledge [Conhecimento Aeroespacial] de Pequim, disse ao GT.
Os três taikonautas tomaram um café da manhã caprichado para apoiar seu alto esforço físico, disse Yin Rui, vice-comandante-chefe do sistema de astronautas da CMSA. A refeição incluiu bolos de flores da província de Yunnan, no sudoeste da China, carne com sabor, nozes e chocolates, com uma carga total de energia de cerca de 600 quilocalorias.
A caminhada no espaço de domingo conduzida pelos taikonautas também verificou o sistema de suporte de vida de longa duração do novo traje espacial, que teve grandes melhorias em relação ao usado na missão Shenzhou-7. Está prevista uma nova caminhada no espaço na atual missão Shenzhou-12.
O sistema de braço robótico exclusivo foi desenvolvido pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), o principal contratante do programa da estação espacial. O comprimento desdobrado dos braços robóticos é de 10,2 metros e sua capacidade máxima de carga é de 25 toneladas, capaz de movimentar os módulos do laboratório espacial da estação no futuro.
Os braços robóticos têm um total de sete articulações que imitam os movimentos dos braços humanos, sendo três no ombro, uma no cotovelo e três no pulso, permitindo agarrar ou operar de qualquer direção para auxiliar o trabalho extra veicular dos taikonautas , bem como a capacidade de “rastejar” para fora da estação espacial e alcançar outros âmbitos.
O sistema é o primeiro manipulador mecânico do país que suporta durações de longo prazo em órbita, tornando a China o terceiro país do mundo a dominar e aplicar a tecnologia de braços robóticos espaciais de grande escala com todos os componentes principais feitos internamente, observou a CAST.
Além de economizar energia dos astronautas no árduo processo de escalada, Wang disse que os braços robóticos também diminuiriam o limite físico para futuros visitantes não profissionais da estação espacial, como pesquisadores científicos conduzindo tarefas fora da espaçonave.
Eles são apoiados por uma “rede espacial” composta por satélites Tianlian locais e um serviço Wi-Fi que cobre toda a estação, incluindo o exterior, que permite a gravação em tempo real das atividades a bordo. A taxa de downlink da rede espacial da estação é de 1,2 gigabits por segundo, o que é equivalente a velocidades de 5G no solo, e o atraso é de apenas 1 segundo, disse à CCTV News o desenvolvedor do sistema.
O GT registrou que internautas que acompanhavam a transmissão ao vivo da caminhada espacial ficaram muito impressionados com a comunicação tranquila entre os taikonautas e o centro de comando de solo, e alta resolução das imagens das tarefas fora da espaçonave.
A estação espacial da China deverá estar inteiramente operacional por volta de 2022. Quando concluída, a estação espacial será capaz de operar em órbita por pelo menos 10 anos, o que pode ser estendido para 15 anos sob manutenção adequada, disseram os projetistas da missão ao GT.
A China precisou desenvolver sua própria estação orbital espacial porque os EUA vetaram sua participação na Estação Espacial Internacional (ISS), alegando que a China não tinha “tradição no espaço” e, em 2011, o Congresso dos EUA agravou a discriminação proibindo qualquer cooperação norte-americana com os chineses no espaço.
O que é o ‘primeiro tiro’ da guerra dos EUA para tentar impedir que a China seja auto-suficiente em alta tecnologia. O que fracassou rotundamente. Em menos de um ano, a China já pousou com sucesso rovers exploratórios na Lua – e inclusive trouxe para a Terra rochas lunares pela primeira vez após 44 anos – e em Marte. Em Marte, em uma só missão a China atingiu o patamar que os EUA levaram quatro décadas, e que ainda não foi alcançado pela Rússia nem pelos europeus.
A China lançou com sucesso o primeiro módulo central da sua estação espacial, conhecido como Tianhe ou Harmonia dos Céus, em 29 de abril. Um mês depois, uma espaçonave de carga, não tripulada, carregando suprimentos e equipamentos, atracou automaticamente na estação espacial. A Shengzhou-12, com Nie, Liu e Tang a bordo, chegou no dia 17 de junho.