Manifestantes no mundo inteiro têm pedido o fim da perseguição ao jornalista

Médicos do mundo inteiro advertiram em carta aberta ao governo inglês que o jornalista e fundador do WikiLeaks, John Assange, está em perigo real de morrer na prisão de segurança máxima de Belmarsh – a “Guantánamo britânica” – e pode até não estar em condições de enfrentar em fevereiro o julgamento para extradição, depois de tantos anos em que lhe foi negada assistência médica adequada.

Pelo pedido de extradição apresentado pelo regime Trump, Assange poderá ser sentenciado a até 175 anos de prisão por ‘espionagem’, isto é, por tornar públicos os próprios registros do Pentágono sobre os crimes de guerra no Iraque e Afeganistão.

Mais de 60 profissionais médicos dos EUA, Austrália, Grã Bretanha, Suécia, Alemanha, Itália e Polônia expressaram seu temor em relação à saúde física e mental do jornalista que liderou a maior denúncia de crimes de guerra desde a década de 1970.

“Temos preocupações reais com as evidências atualmente disponíveis de que Assange possa morrer na prisão”, adverte a carta aberta endereçada à secretária do Interior britânica, Priti Patel. “A situação médica é, portanto, urgente. Não há tempo a perder”, declaram os profissionais médicos.

Os signatários pediram uma avaliação médica urgente do estado de saúde de Assange “em um hospital universitário devidamente equipado e com equipe médica especializada”, em oposição à ala hospitalar do presídio.

A carta cita vários testemunhos da deterioração da saúde de Assange, cujos sete anos de confinamento dentro da embaixada em que pediu asilo foram considerados por um Painel da ONU equivalentes “à detenção arbitrária”.

Durante esse tempo, o cerco da embaixada impediu que Assange recebesse cuidados hospitalares adequados. Médicos que o examinaram na embaixada constataram o clima “de medo e intimação” sofrido por Assange, que a carta considera provavelmente criado deliberadamente.

“Se foi deliberado, nós, como médicos, condenamos comportamentos imprudentes, perigosos e cruéis. O fato de tudo isso ter acontecido no coração de Londres por muitos anos é uma fonte de grande tristeza e vergonha para muitos de nós”, registra a carta.

As preocupações desses médicos de vários países também se baseiam na avaliação de Assange por dois médicos especialistas que acompanhavam o Relator da ONU para Tortura, Nils Melzer, e que aplicaram ao jornalista cativo os chamados Protocolos de Istambul, chegando à conclusão de que Assange tinha os sintomas de uma pessoa submetida por longo tempo à tortura psicológica.

A isso se acresce a aparição de Assange no mês passado numa audiência da extradição, em que ficou patente a piora de sua saúde. Exausto, confuso e muito magro, Assange teve dificuldade até para lembrar o próprio nome e data de nascimento e reclamou que não conseguia pensar direito. Ele é mantido em regime de solitária 23 horas por dia.

Manifestantes no mundo inteiro têm pedido o fim da perseguição ao jornalista e exigido que “libertem Assange e prendam os criminosos de guerra”.