As ilusões da Rússia com o neoliberalismo acabaram, afirma Lavrov
A Rússia “perdeu todas as ilusões” no neoliberalismo do Ocidente e “nunca aceitará” uma visão do mundo dominada pelos Estados Unidos, que quer agir como um “xerife global”, declarou o ministro russo de Relações Exteriores, Sergei Lavrov, em entrevista à agência RT, na sexta-feira (18).
Lavrov denunciou que através de medidas restritivas os EUA querem forçar a manutenção de um “mundo unipolar”. Ele destacou que as sanções impostas a Moscou têm um papel estratégico no quadro dessa política do Ocidente que visa “marginalizar e conter a Rússia”, bem como “reduzir a zero o seu papel” em diferentes áreas de cooperação.
“Mas quero sublinhar que as sanções sempre nos tornaram mais fortes”, acrescentou. O novo pacote de sanções adotado após o início da operação militar russa na Ucrânia representa uma “medida sem precedentes”, mas, neste contexto, a Rússia já começou a corrigir sua política econômica para adaptá-la à mudança da situação.
“Depois de 2014, ganhamos experiência que nos permitiu contar com nós mesmos”, disse Lavrov, avaliando que a lição mais importante daquele período histórico é que “a confiança nos parceiros ocidentais foi completamente destruída”.
O ministro ressaltou que “os Estados Unidos procuram criar uma aldeia global” mas, se esta conseguir existir, “não será uma aldeia global, mas sim norte-americana”. Ao mesmo tempo, constatou que esse fato demonstra mais uma vez a interdependência da Otan e Washington e a subserviência da União Europeia a esta. No entanto, ele especificou que “há atores que nunca aceitarão a existência de uma aldeia global liderada por um xerife americano”, a exemplo da China, Índia, Brasil ou México.
O ministro russo ressaltou que o Ocidente busca semear a divisão entre a Rússia e a Ucrânia, países com uma cultura comum. “Nossos parceiros ocidentais tentaram fazer da Ucrânia uma anti-Rússia por meio de diferentes ferramentas”, disse Lavrov. “Mas espero que a proximidade histórica de dois povos irmãos triunfe”, concluiu.
Lavrov assinalou que o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, percebe que Joe Biden compreende os riscos de criar uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, mas espera receber o apoio de políticos “menos responsáveis”. “Deixamos claro que qualquer carregamento que entrar no território da Ucrânia que, segundo acreditemos, transporte armas, se tornará um alvo legítimo”, reafirmou o ministro, explicando que a operação russa visa “erradicar qualquer ameaça vinda do território da Ucrânia”.
O dirigente russo foi taxativo na afirmação de que a desnazificação – um dos principais objetivos da operação – implica não só a erradicação de todas as leis que apoiam o nazismo, mas também a eliminação de qualquer legislação que discrimine a população de língua russa da Ucrânia.
“Como sempre, estamos abertos a colaborar com todos aqueles que se dispuserem a fazê-lo com base na igualdade, no respeito mútuo, na procura de um equilíbrio de interesses”, disse. “Nós não fechamos a porta ao Ocidente, são eles que o fazem. Mas quando perceberem o que fizeram, quando a porta se abrir novamente, analisaremos os projetos de colaboração que nos oferecem, mas tendo em conta que eles não são parceiros confiáveis de longo prazo”, enfatizou.
Laboratórios dos EUA na Ucrânia
Por outro lado, o ministro disse que a operação militar russa na Ucrânia revelou um grande número de evidências, incluindo documentos do Estado-Maior ucraniano, confirmando que o país estava preparando uma ofensiva em grande escala contra as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. E confirmou que também foi encontrada documentação relacionada às atividades militares e biológicas dos laboratórios dos EUA na Ucrânia.
“A Ucrânia, provavelmente, seja o maior projeto do ponto de vista do Pentágono, que dirige as atividades desses laboratórios”, frisou. Ele também revelou que a Rússia solicitou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, a ser realizada nesta sexta-feira, a fim de abordar essas atividades dos EUA na Ucrânia sob a Convenção de Armas Biológicas.
O chanceler também criticou a “guerra de informação” realizada pela mídia ocidental, que “prefere evitar materiais analíticos e se concentra mais em mensagens compostas por slogans como ‘A Rússia é o agressor’”. “Desde há bastante tempo entendemos que a noção de ‘mídia independente’ não existe”, lamentou.
Nesse contexto, denunciou os bloqueios enfrentados atualmente pelo canal RT e pela agência Sputnik em diferentes países do mundo.