Plaza de Mayo lotada no Dia da Lealdade

Uma multidão se concentrou no centro de Buenos Aires para comemorar os 76 anos do nascimento do peronismo – o movimento político mais importante do país – e demandar do atual governo a suspensão do pagamento da dívida externa diante do desafio de retomada da economia da Argentina e da erradicação da pobreza.

O ato, no denominado Dia da Lealdade, aconteceu no domingo (17) na Plaza de Mayo. No dia 17 de outubro de 1945 uma enorme mobilização popular ocupou as ruas da capital argentina com trabalhadores de todas as categorias e vindos do país inteiro para exigir a libertação de Juan Domingo Perón, na época afastado do seu cargo de Secretário de Trabalho, e preso por forças da ditadura instaurada por um golpe nos primeiros dias daquele mês com apoio da oligarquia e dos Estados Unidos.

Foi o dia que marcou o início do peronismo e que ficou na memória e na luta do movimento operário e sindical argentino na defesa da soberania nacional e por um governo popular.

Em meio a uma situação difícil enfrentada pelo atual governo de Alberto Fernández e após o revés sofrido pelas forças peronistas, em setembro, nas recentes prévias pré-eleitorais PASO (Aberta, Simultânea e Primária Obrigatória), a manifestação teve o sentido de apoiar o governo e de celebração da memória de dois dos principais líderes da história recente, o general Juan Domingo Perón e sua esposa Eva Duarte, assim como o de expressar as reivindicações dos sindicatos e das organizações sociais.

“A luta política é de todos os dias e a qualquer hora”, declarou Hebe de Bonafini, presidente das Mães da Plaza de Mayo e uma das principais promotoras e organizadoras da manifestação em que também estiveram presentes importantes figuras do peronismo como o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, o ex-vice-presidente Amando Boudou, e o Ministro do Desenvolvimento Territorial, Jorge Ferraresi. Bonafini, dirigindo-se ao presidente Fernández, expressou: “Quero dizer-lhe que este ato é o início de uma luta até que consigamos não pagar a dívida externa. Hoje começamos.”

O que está colocado é que a evolução da economia argentina em 2022, uma economia que foi devastada pelo desgoverno Macri e agravada com a pandemia, está fortemente vinculada à decisão de como agir diante da dívida de 44 bilhões de dólares contraída com o Fundo Monetário Internacional (FMI) pelo ex-presidente Mauricio Macri em 2018. O país sul-americano, duramente atingido após três anos consecutivos de recessão, não tem como enfrentar vencimentos no valor de 19 bilhões de dólares marcados para o próximo ano com a organização ligada à banca internacional sem comprometer o conjunto da economia.

“Acreditamos que é fundamental colocar o desenvolvimento, a produção e o trabalho no debate nacional” como “esteios” para o crescimento do país e a recuperação da economia, afirmou o dirigente da Confederação Geral do Trabalho, Héctor Daer.

O presidente Alberto Fernández enviou através de sua conta no twitter um vídeo com imagens do dia histórico de 1945 e uma mensagem: “Há 76 anos, argentinas e argentinos saíram às ruas para exigir a liberdade de um coronel que defendeu aqueles que trabalhavam. Esse dia marcou um caminho de lealdade inquebrantável para com o povo. Companheiras e companheiros, celebremos esta festa da democracia em unidade”.

Ao lado da bandeira azul e branca da Argentina, também estiveram a de Cuba, com o rosto de Ernesto Che Guevara; a da Palestina, a whipala, bandeira que representa os povos originários da Bolívia, entre canções e frases com as quais milhares de pessoas defenderam o desenvolvimento de uma América Latina unida.