Sindicalistas denunciam pressões especulativas dos que "se apropriam da riqueza" e geram inflação | Foto: Elonce

Centenas de milhares de argentinos tomaram, na quarta-feira, o centro de Buenos Aires em repúdio a especuladores e em apoio a medidas anunciadas pelo governo de Alberto Fernández para deter a espiral inflacionária, que arrasa o poder de compra dos salários.

Convocados pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), pela Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA) e inúmeros movimentos sociais, os manifestantes realizaram a marcha na data histórica em homenagem ao libertador, general San Martín.

Com a consigna de “Pátria em primeiro lugar, desenvolvimento, produção e trabalho”, a multidão se manifestou afirmando que é chegada a hora de romper definitivamente com a camisa de força da dependência. Com bumbos, faixas e cartazes com os rostos de Perón e Evita, trabalhadores, estudantes, ativistas do movimento feminino e donas de casa deixaram claro seu respaldo às medidas do gabinete recentemente formado em torno da união dos integrantes da Frente de Todos (Ftd).

Em comunicado conclamando ao ato, os dirigentes sindicais repudiaram “a especulação financeira dos que querem obter lucros a partir de uma desvalorização e a especulação política dos que querem manter a sociedade com a água até o nariz até 2023 para garantir um futuro eleitoral”.

Os bancários se somaram ao ato reforçando o protesto à “intolerável ação das empresas econômico-financeiras”, que por meio de “golpes de mercado” aumentam o custo de vida e semeiam a fome na mesa das famílias, no mesmo país que exporta grande parte do alimento para abastecer os países centrais. Para a Associação Bancária, é essencial que “a economia produtiva seja reativada”, “com inclusão, justiça social e plena vigência dos direitos trabalhistas e previdenciários”.

O dirigente caminhoneiro, Pablo Moyano, instou Fernández a fazer tudo o que estiver ao seu alcance na luta contra estes parasitas, “pois os trabalhadores vão te bancar”, uma vez que a crise chegou a tal ponto que não é mais possível continuar “com este nível de inflação por parte dos especuladores”.

Terminais de exportação

“Na Argentina temos cinco milhões de viagens de caminhões com grãos por ano, sendo que 40% saem sem tributação, o que quer dizer que o agronegócio não paga o que é devido”, disse Moyano, para quem o governo deve “estatizar os terminais portuários de exportação”. Tal descontrole, explicou, beneficia a algumas poucas transnacionais, como é o caso da estadunidense Cargill e da francesa. “Eles mesmos pesam sua produção e vendem. Quem os controla?”, questionou.

Para deixar evidente a gravidade da situação, Moyano exemplificou que “na cordilheira as mineradoras são todas estrangeiras”, que levam os minerais através do Chile, os processam no destino, e três meses depois te dizem que “de 100 mil toneladas de pedra encontramos 100 gramas de ouro”. “Estas são as medidas que têm que tomar o governo: enfrentar os poderosos. como estes tipos que hoje tiram o prato de comida dos argentinos. Caso o governo tomar esta decisão, nós iremos apoiá-lo”, afirmou.

Em um documento conjunto, Moyano, o representante dos trabalhadores da saúde, Héctor Daer, e o da CGT, Carlos Acuña, denunciaram que “a inflação atingiu níveis intoleráveis que pulverizam o poder de compra dos trabalhadores”, e que a responsabilidade por esta catástrofe “são os setores que se apropriam dos lucros” enquanto provocam perdas para os trabalhadores. Diante disso, alertaram que aqueles que se apropriam da riqueza “pressionam por um processo de desvalorização que empobrece as pessoas”.

Para o professor Hugo Yasky, líder da CTA e deputado da Frente de Todos, a marcha deixou claro que “há um povo trabalhador disposto a sair às ruas com a consciência de que neste país os assalariados somos os que podemos construir uma democracia com vida digna”.
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Papiro (BL)