Em Buenos Aires, e em várias outras cidades, o 9 de julho, dia da Independência Nacional da Argentina, foi marcado por manifestações contra a pobreza

Em Buenos Aires, e em várias outras cidades, o 9 de julho, dia da Independência Nacional da Argentina, foi marcado por manifestações contra a pobreza, a fome e as condições de risco com as quais os sem teto estão enfrentando dias de temperaturas muito baixas.

“O presidente não enxerga a realidade do país. Gostaria que percorresse as ruas para que visse o desastre que seu modelo econômico está gerando”, disse Pablo Moyano, secretário-geral adjunto do sindicato dos Caminhoneiros, acrescentando que “todos os dias empresas são fechadas, a indústria está definhando e essa é a prioridade zero: criar empregos para a população”.

Sindicatos e organizações sociais organizaram a solidariedade com a quantidade inédita de famílias em condição de rua. Os Caminhoneiros distribuíram 700 refeições quentes em protesto na Praça do Congresso de Buenos Aires, onde prepararam um ensopado numa grande panelada popular, em meio a críticas à política do governo de Mauricio Macri.

As entidades sociais que compõem a Confederação de Trabalhadores da Economia Popular, CTEP, fizeram o mesmo no Obelisco. Lá, com um forte contingente repressivo que lançou gás lacrimogêneo e efetuou prisões, a polícia evitou que os manifestantes instalassem colchões para os sem teto. “Na cidade mais rica da Argentina há milhares de pessoas em situação de rua e isso não se resolve. Não sei o que estão fazendo”, disse Horacio Avila, coordenador do Proyecto 7, organização que, através de trabalhos assistenciais, defende os desempregados e os sem teto.

Esses movimentos organizaram um censo que encontrou 7251 pessoas morando nas ruas da capital argentina, mas o governo minimizou a situação, rechaçando esse número e divulgando sua versão: seriam 1146.

“Há um total descaso do governo, que saiu dizendo que os números do censo eram mentira. Mas o clube River Plate abriu seu estádio que lotou duas horas depois, e com outros clubes aconteceu o mesmo”, afirmou no Obelisco Anahí Benítez, da Frente Popular Darío Santillán. “Todos gostamos que na cidade se inaugurem obras de infraestrutura e se destinem fundos para deixá-la linda. Porém, há uma realidade de falta de trabalho, de moradia e de impossibilidade de pagar um aluguel e eles têm que dar uma resposta integral”, assinalou.

O secretário-geral da União de Trabalhadores da Educação, UTE, Eduardo López, insistiu dizendo que “o grande ausente é o Estado, esse governo é que deve garantir o trabalho e o teto digno. Como pode ser que os governantes digam que o problema é que as pessoas não querem ir aos abrigos, quando vimos que vão a um estádio de futebol sem quaisquer problemas?”. “Os governantes não podem manter abrigos em que as pessoas não tenham uma limpeza mínima, cobertores, espaço, onde não possam levar suas coisas e de onde sejam expulsas às 7 da manhã. Está claro por que não querem parar em um abrigo: nós recebemos nas escolas alunos que às vezes dormem em abrigos e não lhes deixam entrar com algumas roupas, seus livros e cadernos e o pouco que eles têm é isso. Estamos numa etapa quase medieval, onde as pessoas em situação de rua ficam à mercê da solidariedade que, voluntariamente, outras pessoas possam oferecer”.

Vanesa Escobar, do movimento La Dignidad, participante do censo, ressaltou que a maioria dos sem teto são pessoas que ficaram na rua durante a gestão de Mauricio Macri. “Vemos como novo o fenômeno de famílias inteiras sem moradia, quando antes o problema era principalmente de homens solitários. É uma consequência do aumento dos despejos. Também encontramos pessoas que, mesmo sem estar na rua, buscam comida no lixo dos bairros menos pobres”.