Arce: “Evo é bem-vindo, mas não significa que fará parte do governo”
O presidente eleito da Bolívia, Luis Arce, disse na terça-feira (20), em sua primeira coletiva de imprensa após as eleições de domingo (18), que seu governo será apoiado por um Movimento ao Socialismo (MAS) “renovado” e com a intenção de “governar para todos”.
Sobre o retorno do ex-presidente Evo Morales, Arce não deixou dúvidas: “Se Evo Morales quer nos ajudar, será muito bem-vindo. Mas não significa que Morales estará no governo. Ele não terá qualquer papel em nosso governo”.
“Ele pode retornar ao país quando quiser, porque ele é boliviano, mas no governo sou eu quem tem que decidir quem forma parte da administração e quem não forma”, afirmou à Agência Reuters, na sede do MAS, na capital La Paz.
A contagem de votos prossegue com a vitória de Luis Arce já reconhecida inclusive pelos seus adversários políticos e pela comunidade internacional. O portal do Organismo Eleitoral Plurinacional (OEP), na tarde da quarta-feira (21), com 88,76% das atas computadas registrava 54, 51% dos votos para o MAS, e 29, 28% para Comunidade Cidadã (CC), partido de Carlos Mesa, colocado em segundo lugar. A participação foi de 87% dos bolivianos com direito ao voto.
“Em nosso Governo o que vamos fazer é incluir mais jovens, é o MAS 2.0, é um MAS renovado. Um MAS com mudanças que devem ser feitas, há que continuar algumas coisas boas que temos feito mas, é claro, há que modificar outras”, disse em resposta à BBC de Londres.
“O que temos feito (e dito) desde o primeiro dia é que vamos governar para todos. Nosso Governo vai ser para todos, vamos construir um governo de unidade nacional. Nós entendemos que (nossos opositores) são bolivianos e que já basta de estar brigando por temas e interesses estritamente pessoais ou de grupos”, manifestou.
No plano econômico, a agenda de Luis Arce aponta para um plano de industrialização com substituição de importações. “Vamos fazer um programa de seguridade com soberania alimentar, desenvolver o mercado interno, gerar nossos processos de industrialização do lítio [insumo do qual a Bolívia detém a maior reserva mundial], do ferro do Mutún, exportar energia elétrica, continuar com nossos processos industrializadores do gás, promover o turismo interno. E vamos continuar com o nosso plano estratégico de manter os recursos naturais em mãos do Estado”, declarou o novo presidente.
Arce comprometeu-se a virar a página do “modelo neoliberal” implantado no último ano pela presidente de fato, Jeanine Áñez. Assim, afirmou que regressaria ao modelo que está “mais para o lado social”, já que a pandemia de coronavírus fez mais evidente “que a economia não está indo nada bem”.
Artífice das políticas econômicas no governo de Evo Morales, defendeu a capacidade do MAS para combater a corrupção, alegando que, diferentemente do atual governo, no anterior os que cometiam alguma irregularidade rendiam contas perante a Justiça.
O novo presidente receberá um país em recessão, com uma contração prevista do PIB de 6,2% em 2020. Segundo o Centro de Desenvolvimento Trabalhista e Agrário, a pobreza se agravou no período de governo de Jeanine Añez, a taxa de desemprego urbano subiu de 4,2 % para 9,4 % e a informalidade é de cerca de 80 % da população economicamente ativa. Luis Arce deve assumir em uma data a ser definida entre 30 de outubro e 14 de novembro, segundo informou a presidenta do Senado, Eva Copa.