Ex-ministro da Economia, Luis Arce segue à frente nas pesquisas para eleição de outubro | Foto: Nossa Política

Na última pesquisa da consultora Ciesmori, Luis Arce, candidato à Presidência da Bolívia pelo partido Movimento Ao Socialismo (MAS), aparece com 26,2% de respaldo, seguido de Carlos Mesa com 17,1%. Jeanine Añez, presidente autoproclamada após a deposição de Evo Morales, apenas supera os 10% de intenção de voto.

“O MAS continua sendo a primeira força em âmbito nacional. Acreditamos que temos enormes possibilidades. Venho de Santa Cruz e Cochabamba e vejo um voto oculto, que é nosso voto. Há medo, em Santa Cruz há amedrontamento e pressão. E muitas pessoas não querem dizer que vão votar no MAS, pessoas que nos dizem em voz baixa que vamos ganhar”, relatou Arce.

No domingo (6), começou legalmente a campanha eleitoral no país, adaptada aos tempos de pandemia, com Arce promovendo atos através da Internet e caravanas de veículos em Santa Cruz de la Sierra.

O candidato disse que existe um trabalho de setores da mídia e agentes políticos da direita por “reavivar” o “voto útil” em favor de Mesa, já que a candidatura de Añez é um visível fracasso, aumentado particularmente no marco do combate ao coronavírus. Arce afirmou que confia em obter um considerável apoio das pessoas que na mencionada pesquisa disseram estar indecisas ou que vão votar em branco ou nulo (aproximadamente 32% do total dos consultados na pesquisa).

O candidato do MAS à Presidência da Bolívia, afirmou que as forças políticas que o apóiam acatarão a decisão divulgada na noite de segunda-feira (7), em que o Tribunal Departamental de Justiça de La Paz somou-se ao Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), proibindo que Evo Morales se apresente nas eleições de 18 de outubro como candidato a senador pelo departamento de Cochabamba, porque não cumpriria com o requisito de dois anos de residência permanente no local. Desde que foi deposto, em novembro de 2019, o ex-presidente reside na Argentina, o que motivou a proscrição por parte do TSE, referendada pelos juízes constitucionais.

Desde Buenos Aires, Morales também respondeu no Twitter que acata a decisão “porque nosso compromisso e prioridade são com que o povo saia da crise. Não cairemos em nenhuma provocação, o povo voltará a governar-se a si mesmo, pacífica e democraticamente”. O ex-presidente afirmou, no entanto, que o juiz tomou sua decisão “sob ameaças e pressões”, e que a mesma foi “política, ilegal e inconstitucional”.

Em entrevista na rede Bolivisión, Arce esclareceu que “não há possibilidade legal de realizar outro recurso” contra a medida, porém confirmou que Morales continuará sendo o comandante da campanha eleitoral do MAS. O ex-ministro de Economia afirmou que somente uma assembléia das bases do partido pode definir se Evo deve deixar de ser chefe de campanha, e que, no momento, isso não está dentro dos seus planos.

“O MAS é a única opção que pode dar estabilidade econômica, política e social. Confiamos na sabedoria do povo. Já o fizemos no passado e o faremos agora, apontando para um bom futuro econômico. Tivemos os melhores indicadores da região [no mandato de Morales] e o povo o sabe. E sabe que não pode se equivocar; se em dez meses [de governo da autoproclamada Janine Áñez] estamos como estamos, imagine o que será em cinco anos”, observou Arce.

O constitucionalista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, considerado uma das maiores autoridades mundiais em Direito Penal e atual membro da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), declarou que a desabilitação de Morales não o surpreende porque na Bolívia operam “grupos armados que ameaçam os juízes”. “Os juízes bolivianos não estão em uma situação comum, realmente estão sob ameaças. Na Bolívia há grupos civis armados que ameaçam inclusive suas famílias”, assegurou o ex-juiz da Corte Suprema da Argentina, integrante da equipe legal de Morales.

No entanto, “há algo que o Evo fez que não tem retorno. Evo puxou a indiada para a política, ou seja, a maioria da população”, expressou. Diante do complexo panorama atual, Zaffaroni considerou que as eleições são a única solução pacífica e, nesse sentido, que tenha se acertado uma data “é algo bom”, porque a partir da votação poderá haver uma negociação política para sair da crise social, econômica e política que atravessa o país depois do processo que tirou Evo Morales do poder, em 10 de novembro do ano passado.

Por conta de um cenário de grande perseguição perpetrada pelo governo de facto contra os dirigentes e militantes do MAS, a União Europeia (UE) anunciou que nomeará uma missão reforçada para a observação das eleições. “A organização de eleições legítimas e com credibilidade é de suma importância para o povo boliviano, que está disposto a reafirmar seu compromisso com os valores democráticos e restaurar a necessária estabilidade do país”, manifestou em comunicado o alto representante do bloco para a Política Exterior da UE, Josep Borrell.

As eleições gerais na Bolívia estavam previstas para o passado 3 de maio, mas o governo de Añez as adiou primeiro para o 6 de setembro e, até o momento, para 18 de outubro.

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