Vacina | Imagem: divulgação

O governo de São Paulo anunciou nesta segunda-feira (26) que as primeiras 6 milhões de doses da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com Instituto Butantan, chegarão ao Brasil “no mais tardar” até a próxima segunda-feira, em voo especial.

O acordo do Butantan com a Sinovac prevê a aquisição este mês de seis milhões de doses já embaladas da vacina, além da produção, até dezembro, de outros 40 milhões de doses do imunizante no Brasil. Para esta segunda fase, no entanto, o instituto depende da liberação de importação de insumos da China, o que ainda não foi autorizado pela Anvisa.

“Os primeiros seis milhões de doses chegarão até segunda em voo a São Paulo. Os outros 40 milhões de doses serão produzidos a partir de insumos que ainda esperam manifestação da Anvisa, para que o Butantan possa (ter os insumos e) produzir a vacina”, afirmou João Doria.

O governo do Estado de São Paulo aguarda ainda a conclusão dos testes clínicos e autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para início da aplicação do imunizante na população.

Bolsonaro tem feito da vacina terreno de disputa com o governo do Estado de São Paulo. Na última semana, Bolsonaro desautorizou a intenção de compra assinada pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para uso da vacina pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Doria, é a terceira vez que em “um ato condenável” o presidente desautoriza o ministro da Saúde.

De acordo com Doria, é “inacreditável” que o presidente do país não torça pela salvação e vida dos brasileiros. “Parece até que torce pelo contrário, porque, se torcesse a favor, torceria por todas as vacinas que, de maneira eficaz e mediante aprovação da Anvisa, pudessem ser aplicadas aos brasileiros”, disse o governador. “Essa é a visão que se esperaria de um líder no Brasil”, afirmou.

Doria ainda sugeriu um encontro de Bolsonaro com os governadores e prefeitos para tratar do assunto. “Se o senhor presidente Bolsonaro falou tantas e tantas vezes que acredita no sistema federativo e quer manter o sistema federativo, convide os governadores para um encontro, cuja pauta seja exatamente a preservação da saúde e da vida dos brasileiros”, disse Doria.

O governador de São Paulo disse lamentar que o presidente Bolsonaro “volte a dar o mau exemplo” ao não utilizar máscaras, promovendo aglomerações e sem dirigir palavras de solidariedade às vítimas da Covid-19. “São 500 pessoas que morrem todos os dias. Não vejo o presidente manifestar solidariedade aos familiares dessas pessoas que perdem entes queridos”, afirmou o governador tucano.

A liberação da importação da matéria-prima para produção da Coronavac no Brasil foi alvo de polêmica na semana passada, depois que o Butantan denunciou que a Anvisa estava com análises relacionadas ao imunizante atrasada. Além de nota emitida pelo órgão paulista, o diretor-geral do instituto, Dimas Covas, afirmou que esse atraso poderia impactar na produção da vacina e nos prazos de imunização se a vacina se mostrar eficaz. A Anvisa prometeu decisão sobre o tema em até cinco dias úteis, prazo que vence nesta semana.

A liberação da importação de doses e insumos é parte importante do caminho, pois para a conclusão dos estudos e posterior submissão do registro na Anvisa, o Instituto Butantan precisa apresentar dados que comprovem a eficácia da vacina.

Para essa comprovação de eficácia, é preciso um número mínimo de voluntários infectados pelo coronavírus para comparação entre o grupo que tomou placebo e o grupo que recebeu a vacina em teste.

“Dependemos da transmissibilidade da doença. Precisamos que esses voluntários apresentem sintomas e confirmem casos de Covid. Não temos como evitar essa fase, nem (temos) previsibilidade sobre esse processo”, explicou na coletiva o infectologista e secretário de estado da Saúde, Jean Carlo Gorinchteyn.

“Precisamos de um número mínimo de 61 casos confirmados (entre os voluntários) para que esse estudo possa ser aberto e comparemos os dois grupos. Daí veremos quem tomou vacina e quem tomou placebo, para então comprovar se a vacina tem eficácia superior a 50%, que foi o patamar mínimo estabelecido pela Anvisa”, afirmou.

Gorinchteyn não informou quantos casos positivos já foram identificados entre os voluntários. Ele citou os protocolos de ética de pesquisa científica e afirmou que o estudo só será aberto quando o número total necessário for atingido.