Jair Bolsonaro | Foto: Alan Santos (PR)

A pergunta feita pelo repórter do jornal O Globo, “presidente, por que Michelle recebeu R$ 89 mil de Queiroz e esposa?” viralizou nas redes sociais, depois que Bolsonaro respondeu, ameaçando o jornalista, “minha vontade é encher tua boca com uma porrada, tá, seu safado”.

O repórter se referia à revelação de depósitos em cheque feitos pelo PM aposentado e ex-assessor Fabrício Queiroz e pela mulher dele, Márcia Aguiar, na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Entre 2011 e 2013 Queiroz depositou cheques de R$ 3 mil regularmente na conta da primeira-dama.

Depois dessa reação destemperada de Bolsonaro, o país inteiro agora quer saber por que Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89 mil do ex-PM amigo do presidente e ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Centenas de jornalistas em todo o Brasil estão fazendo a mesma pergunta: “Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?” Esta agora é a pergunta que não quer calar.

Após a ameaça de Bolsonaro ao jornalista que fez a pergunta, os repórteres questionaram. “Isso é uma ameaça presidente?”. Bolsonaro não respondeu e deixou o local. Ele seguiu para o Palácio da Alvorada, mas os jornalistas foram proibidos pelos seguranças de seguir para o espaço reservado à imprensa na entrada na residência oficial do presidente da República. O jornal O Globo lançou uma nota repudiando a ameaça feita ao seu repórter.

Queiroz e Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, são investigados pelo Ministério Público do Rio por um esquema de lavagem de dinheiro montado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A prática envolve a devolução de parte dos salários por funcionários fantasmas.

A investigação foi deflagrada pouco após a eleição de Bolsonaro à Presidência da República e de Flávio ao Senado a partir de relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que identificou movimentações suspeitas de 74 servidores e ex-servidores da Alerj.

Entre elas, constava a “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão em uma conta no nome de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Quando se analisa o período que vai de 2014 a 2017, esse valor chega a R$ 7 milhões. Segundo o Coaf, as movimentações bancárias seriam “incompatíveis com a atividade econômica” de Queiroz e grande parte delas eram feitas em dinheiro.

Entre as transações, foi identificado um cheque no valor de R$ 24 mil favorecendo a então futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. À época, Bolsonaro afirmou que o cheque era parte de uma dívida de R$ 40 mil que o ex-assessor tinha com ele. O dinheiro não foi declarado em seu Imposto de Renda. Neste mês, após as quebras de sigilo bancário dos envolvidos, reportagem da revista Crusoé revelou que Queiroz fez outros depósitos em cheque na conta de Michelle.

Ao todo, o ex-assessor Queiroz e a mulher dele, Márcia Aguiar, repassaram R$ 89 mil para a conta de Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2016. Foram R$ 72 mil depositados por Queiroz e R$ 17 mil depositados por sua mulher, Márcia Oliveira.

Nota do jornal O GLOBO sobre o ataque do presidente Jair Bolsonaro a um de seus repórteres:

“O GLOBO repudia a agressão do presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal que apenas exercia sua função, de forma totalmente profissional, neste domingo.

Em cobertura de compromisso público do presidente, o repórter solicitou que ele se pronunciasse sobre reportagens da revista Crusoé e do jornal Folha de S.Paulo que, no início deste mês, informaram que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro Fabrício Queiroz e a mulher dele depositaram cheques no valor de R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Anteriormente, o presidente havia prestado uma informação diferente sobre os valores.

Bolsonaro, então, em manifestação que foi gravada, não respondeu à pergunta e afirmou a vontade de agredir fisicamente o repórter.

Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população.

Durante os governos de todos os presidentes, o GLOBO não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos.”

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