O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) só executou 29% dos programas de crédito criados para as empresas que sofrem com os efeitos econômicos da Covid-19, diz documento do BNDES enviado ao Congresso. Dos R$ 87,1 bilhões disponibilizados pelo banco de fomento, só foram liberados R$ 25 bilhões em empréstimos, doações e suspensão de pagamentos.
A pior execução é do Pese (Programa Emergencial de Suporte ao Emprego). Esta linha que oferece crédito para o pagamento da folha de funcionários demonstrou-se um completo fiasco. Dos 40 bilhões oferecidos pelo governo, o BNDES entregou apenas R$ 4,6 bilhões a 114 mil clientes, segundo divulgou o Valor Econômico.
Outro programa que não decolou foi a suspensão dos pagamentos de empréstimos para empresas por seis meses. O BNDES autorizou que R$ 29,5 bilhões fossem suspensos, mas apenas 39%, cerca de R$ 11,6 bilhões, foram destinados a 28,4 mil clientes.
Segundo o documento, apenas o programa destinado ao financiamento de capital de giro de micro, pequenas e médias empresas, lançada em março, foi acima da meta. Esta linha liberou R$ 5,3 bilhões e já não permite mais contratações. As críticas dos empresários a esta linha é que o governo disponibilizou pouco dinheiro para este tipo de financiamento, que é uma das necessidades mais urgentes das empresas que apresentam dificuldade de caixa para pagarem as contas do dia a dia.
O documento também revelou o desempenho fraco dos financiamentos para hospitais e laboratórios médicos se equiparem para a Covid-19. Foram apenas nove clientes, atingindo só 13% dos R$ 2 bilhões colocados à disposição.
O presidente da Associação dos Funcionários do BNDES, Arthur Koblitz, diz que o nível baixo de execução dos programas do BNDES pode ser explicado pela elevação da TLP (Taxa de Longo Prazo). “O ideal era modificar a TLP e trabalhar mais articulado com bancos públicos para conseguir prêmios de risco menores”, disse.
Os custos dos empréstimos das linhas de financiamento do BNDES têm sido alvo de críticas de empresários e economistas. O governo Temer substituiu nas operações de crédito do BNDES a Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP) – que desde 1994 era usado como referência na maioria das operações de financiamento do banco de fomento para garantir crédito barato à indústria – pela Taxa de Longo Prazo (TLP), aproximando as taxas de juros do BNDES às altas taxas cobradas pelos bancos privados.
Em abril, o pior mês da pandemia até agora, os empresários que buscavam financiamento no BNDES só conseguiam se tomasse a custo que variava de 12% a 15% ao ano, somando a TLP e os spreads cobrados pelo BNDES e pelos bancos privados. “Quem pegar vai morrer do remédio”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, ao criticar a linha de crédito de emergência do BNDES à micro, pequenas e médias empresas. “A gente acha que uma linha com esse custo não é uma linha emergencial. A gente entende que linha emergencial é uma linha para alguém que está sofrendo, que é o infeliz que está com a fábrica parada”, disse Velloso na época.
O economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro também criticou o uso da TLP nas operações do BNDES. Para Oreiro, o banco de fomento “poderia estar desempenhando um papel fundamental nessa crise”.
“O BNDES é um banco de investimento, como é que você quer que ele se comporte como o mercado. Isso não faz sentido nenhum. Se você quer ter um banco de desenvolvimento é porque você não quer, ou você acha que o mercado não funciona, ou não cobre tudo o que deveria”, disse.
“A TLP foi na verdade um instrumento que foi utilizado para realmente desmontar o banco. Para fazer o banco recuar na sua importância no financiamento de longo prazo. E aí o que aconteceu, as grandes empresas foram pegar dinheiro no exterior, o que é ruim porque quando o câmbio desvaloriza elas têm um enorme aumento nos seus encargos financeiros como está acontecendo agora, mas as outras empresas que já não tinham acesso ao mercado de capitais continuaram sem acesso ao mercado de capitais, só que agora não têm acesso ao BNDES porque a taxa de juros não é favorável”. “Você fica no pior dos mundos”, criticou Oreiro, em uma videoconferência realizada pela Associação dos Funcionários do BNDES.