Fernández e Cristina logo após o resultado das primárias. Presidente anuncia o programa “Compre Argentino”

O presidente argentino Alberto Fernández admitiu revés nas primárias para a composição das Casas Legislativas ocorridas no domingo e anunciou medidas de fortalecimento e ativação da economia nacional.

As Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias, chamadas de Paso, elegem os candidatos que disputarão 127 vagas sobre um total de 257 na Câmara dos deputados e 24 dos 72 senadores que compõem a Câmara Alta. Com mais de 98% dos votos contabilizados, a coalizão de oposição Juntos por el Cambio obteve 40,2% dos votos (comparecimentos às urnas) nas primárias para deputados e a governista Frente de Todos, 31,3%. Nas primárias para o Senado, cuja eleição ocorrerá apenas em algumas regiões do país, a diferença foi maior: 40,47% para a oposição contra 27,79% dos governistas.

Embora a votação na prática defina apenas quais candidatos poderão concorrer no pleito, o resultado é considerado uma avaliação da gestão governamental. Mais de 34 milhões de argentinos estavam aptos a votar.

“Algo não fizemos bem para que as pessoas não nos tenham acompanhado, e todos os que estamos aqui escutamos o veredicto. Há uma demanda que não satisfizemos, e à qual prestaremos atenção a partir de amanhã”, disse o presidente Fernández admitindo a vitória da oposição em pronunciamento ao lado dos principais candidatos e da sua vice, Cristina Kirchner.

“A campanha acaba de começar e faltam dois meses [para as eleições legislativas]. Tenho dois anos de Governo pela frente, e não vou cruzar os braços. Peço humildemente que nos ajudem. Vamos adiante, que em novembro vamos virar esta história porque continuamos convictos de que estamos frente a dois modelos de país: um que inclui a todos e outro que deixa milhões de lado”, assinalou o presidente.

Em seu breve discurso, Fernández destacou que ainda tem dois anos de governo. “Só quero terminar este mandato sem pobres e com trabalho para todos”, frisou antes de parabenizar a oposição pelos resultados.

O chefe da Casa Civil, Santiago Cafiero, também reconheceu o revés eleitoral e comentou que o governo “está empenhado em ouvir a mensagem das urnas” e em trabalhar para “aprofundar a agenda de reativação econômica”, num contexto em que a pobreza atinge 42% da população e o desemprego 10%.

A Argentina está em recessão que herdou do governo de Mauricio Macri desde 2018 e no ano passado, em meio a uma longa e rígida quarentena devido à pandemia de Covid-19, a queda do PIB foi de 9,9%, uma das mais acentuadas da região.

Em meio a alta inflação e problemas com a dívida pública, o país começou a se superar em 2021, mas alguns fatos políticos recentes ligados à gestão da pandemia parecem ter deixado os eleitores mais distantes do governo.

Fotos do presidente comemorando o aniversário de sua esposa desrespeitando a quarentena que ele mesmo impôs e denuncias de distribuição ilegal de vacinas por vários funcionários públicos foram amplamente divulgadas pela oposição que, na medida em que escondeu suas ações negacionistas, apareceu como defensora dos interesses da população e desgastaram o governo.

Porém, a reação não esperou. Na mesma segunda-feira (13), Fernández apresentou o projeto de lei Compre Argentino, Desenvolvimento de Fornecedores e Compras para Inovação, com um ato na Casa Rosada. “A lei reflete o espírito do governo. Para nós, a indústria é o motor central da economia e queremos que ela ocupe um lugar preponderante porque gera trabalho formal, principalmente para as pequenas e médias empresas que têm que saber que o Estado está atento às suas necessidades”, afirmou. A medida também busca promover investimentos e transferências de tecnologia para setores da economia nacional com maiores capacidades tecnológicas e produtivas, bem como estimular e regular o papel das compras públicas na inovação e na agregação de valor em setores estratégicos.