Anvisa libera Coronavac para crianças de 3 a 5 anos, após 300 mortes em 2022
por Cézar Xavier
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu hoje (13) autorizar a aplicação emergencial da vacina CoronaVac em crianças de 3 a 5 anos de idade, após registro da taxa de duas mortes diárias pela doença nesta faixa etária. O imunizante é produzido pelo Instituto Butantan para combate à covid-19.
Durante reunião da diretoria colegiada, em Brasília, por unanimidade, a agência seguiu recomendação das áreas técnicas e autorizou a imunização com duas doses da vacina, no intervalo de 28 dias. A aprovação vale somente para crianças que não são imunocomprometidas.
Especialistas consideram que houve atraso na decisão, favorecendo a nova onda de contágios e mortes em todo o país. Ainda nem há prazo para início da campanha, que será decidida apenas após avaliação do Ministério da Saúde.
O Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19 da Associação Médica Brasileira (CEM COVID AMB) afirmou no dia primeiro de julho, que a vacinação contra covid-19 em crianças menores de 5 anos é urgente, sobretudo depois de um levantamento apontar que ao menos duas crianças morrem diariamente por causa da doença no país. Sáo dezenas de médicos e cientistas que expressaram sua opinião especializada em um comunicado público.
Pesquisa realizada em conjunto pelo Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD- Fiocruz Amazônia), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel) apontou redução do número de óbitos (40%) por covid-19 entre adolescentes de 12-17 anos, durante o período mais crítico da epidemia em 2022 e substancial aumento (74%) em menores de 12 anos, principalmente nos menores de 5.
De acordo com o levantamento da Fiocruz, a média de duas mortes diárias de crianças menores de 5 anos se mantém em 2022, já que entre janeiro e 13 de junho deste ano o Brasil registrou ao menos 291 mortes por covid nesta faixa etária. Em 2020, foram registradas 599 mortes por Covid-19 nesta faixa etária e em 2021, o número aumentou para 840.
“Nas crianças, as taxas de mortalidade foram iguais ou piores do que em fases anteriores da epidemia, se contrapondo ao registro de queda consistente e forte dos adultos, reforçando não só a efetividade da vacina contra COVID-19, mas também a importância do seu uso oportuno e massivo”, explica o epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana, um dos signatários do estudo. Ele observa o alto número de mortes de crianças, enquanto adultos reduzem drasticamente os óbitos, conforme avançava a vacinação.
Para a diretora Meiruze Souza Freitas, da Anvisa, relatora do pedido, a CoronaVac está aprovada em 56 países pela Organização Mundial da Saúde (OMS), teve cerca de um bilhão de doses aplicadas e tem contribuído para reduzir mortes e hospitalizações. Apesar disso, o Brasil só mantinha vacinação de crianças pela Pfizer, e acima de 5 anos, desde janeiro.
“Vacinar crianças de 3 a 5 anos contra a covid-19 pode ajudar a evitar que elas fiquem gravemente doentes se contraírem o novo coronavírus”, explicou.
A decisão foi baseada em estudos nacionais e internacionais sobre a eficácia da vacina em crianças. No Chile, a Coronavac mostrou efetividade de 55% contra a hospitalização de crianças que testam positivo para a covid. As crianças também receberam a vacina melhor que os adultos, em termos de reações.
As pesquisas foram realizadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan, além de entidades internacionais. Também foram levados em conta pareceres de sociedades médicas e das áreas de farmacovigilância e de avaliação de produtos biológicos da Anvisa.