O 28º Congresso da ANPG elegeu Vinícius Soares, o primeiro presidente pernambucano, LGBTQIA+ e residente em saúde

por Cezar Xavier

Entre 23 e 25 de julho, aconteceu na UnB, em Brasília, o 28º Congresso Nacional da Associação Nacional de Pós-graduandos, com o tema “O Papel da Ciência Nacional e da Pós-graduação para a Reconstrução de um Brasil Independente”. No encontro, estudantes do Brasil inteiro debateram questões fundamentais para o país como democracia, valorização do pesquisador e desenvolvimento nacional e também elegeram a diretoria para o período de 2022 a 2024.

Foi escolhido, em consenso, o nome do pernambucano Vinícius Soares, 29 anos, como presidente. Para a próxima gestão, Vinícius reforça que a ANPG seguirá exercendo um papel fundamental na garantia da democracia brasileira.

“Até outubro, estaremos vigilantes para que as eleições sejam livres e democráticas. A nossa gestão também estará focada na valorização da ciência e do pesquisador. Isso passa pela continuidade de nossa campanha de reajuste das bolsas de pós-graduação e de recomposição do orçamento do Ministério da Educação e do Ministério da Ciências e Tecnologia.”

Balanço e perspectivas

A vice-presidente Stella Gontijo (UFMG) disse que esta gestão formulou meios diferentes de fazer acontecer o movimento de pós-graduandos conforme surgiam novos desafios. Após o período de expansão da pós-graduação durante os governos Lula e Dilma, a luta tem sido de resistência pela dimensão do desmonte e das derrotas sofridas.

“Mas a ANPG sai fortalecida com uma outra capacidade de intervenção na disputa e no debate da comunidade acadêmica e científica no Brasil, mas enquanto movimento estudantil e social que mobiliza uma base muito importante da sociedade brasileira que são os pesquisadores”, diz ela.

A Resolução aprovada pelo Congresso fez um balanço do desmonte promovido por Bolsonaro na Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, evidenciado com a pandemia e a sabotagem negacionista à saúde e à pesquisa científica. A isso, se soma a austeridade fiscal de Paulo Guedes que sequestra recursos das universidades e do Sistema Único de Saúde (SUS) para a festa do sistema financeiro.

Diante do autoritarismo que prejudica a liberdade de cátedra, a entidade defende mobilização em torno de um observatório da democracia.

A ANPG critica o modo como se deu a disputa privada pelo desenvolvimento das vacinas, sem compartilhamento de conhecimento e resultando em desigualdade da distribuição de vacinas. O contingenciamento de recursos de fomento ameaça instituições como CNPq, Capes, Inpa, Impe e Fiocruz, depois de cair de R$ 200 para R$ 30 milhões em dez anos, paralisando milhares de projetos científicos.

A ANPG defende os recursos do pré-sal para o desenvolvimento industrial e científico nacional. Com isso, mencionou a precarização das bolsas desestimulando o desenvolvimento dos talentos científicos. Com, isso, é preciso fortalecer o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e estimular a salvaguarda de empresas públicas para avançar a cadeia industrial de produção tecnológica e científica.

O PNPG (Plano Nacional de Pós-Graduação) que vigorou até 2020 conseguiu cumprir suas metas antes do tempo nos primeiros 15 anos deste século, ampliando o acesso a pós-graduação, dobrando o número de mestres e doutores no país, reduzindo as desigualdades regionais. O desafio de reconstruir estas metas, dar continuidade e avançá-las é o desafio do novo PNPG. A resolução pontua as propostas para isso.

As moções homenagearam os dez anos sem o reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira (23/7/2012). Outra moção protesta com a mudança na gestão da Unisinos (São Leopoldo/RS), que descontinua o programa de pós-graduação da universidade. Nesta terça (26), os estudantes se manifestam em protesto. A ANPG ainda se manifestou contra ataques racistas ao candidato presidencial Leonardo Péricles (UP). O 11 de agosto também foi agendado para mobilizações estudantis em defesa das eleições democráticas e o Fora Bolsonaro.

Conheça Vinícius Soares

Rogean Vinicius Santos Soares é nascido em Recife. Cursou biologia na Universidade de Pernambuco e entrou para o movimento estudantil em 2011, quando disputou o diretório acadêmico de ciências biológicas da UPE. “Em 2015, tive a oportunidade de participar do Ciências Sem Fronteiras e fui para os Estados Unidos estudar na Marshall University. Foi uma experiência transformadora e voltei ao Brasil decidido a seguir na carreira acadêmica”, conta.

Mestre em biologia celular e molecular aplicada, Vinícius é atualmente residente de saúde coletiva pelo IMIP-Recife. “Acrescentar essa experiência da residência à direção será essencial nesta nova gestão”, diz Soares, que também será o primeiro estudante LGBTQI+ a assumir o cargo.

Assista à plenária final da ANPG:

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