Ana Prestes: De Olho no Mundo
A cientista política e membro da Comissão de Relações Internacionais do PCdoB, Ana Prestes, destaca o enfrentamento da pandemia de coronavírus pelo mundo em suas notas sobre o noticiário internacional nesta terça-feira (24).
Após ser enquadrado e mudar a política de enfrentamento ao coronavírus nos EUA, Trump já dá sinais de que pode arrefecer as medidas. Segundo o jornalista Kennedy Alencar que está nos EUA para cobrir as eleições americanas de 2020, há sinais de que Trump pressional a força-tarefa da Casa Branca para aliviar a política de distanciamento social e fechamento do comércio e empresas já a partir de segunda-feira. O discurso é o mesmo de Bolsonaro e seus amigos aqui no Brasil, como o dono do Madero, que hoje está no topo dos comentários no Twitter, de que é preciso “salvar a economia”. Esse discurso é bem forte nos EUA e o vice-governador do Texas foi ontem pra TV defender que os idosos voluntariamente se sacrifiquem para salvar a economia do país em nome de seus netos. Tudo isso acontece enquanto a OMS alerta que os EUA podem se tornar o epicentro da pandemia em todo o mundo, hoje são mais de 40 mil casos. Para completar não há testes suficientes para mapear os infectados e descobrir os principais focos.
Enquanto Trump vacila, Andrew Cuomo, governador do estado de Nova Iorque, toma a cena de liderança nacional contra o coronavirus nos EUA. Nova Iorque é o epicentro da pandemia. Com a testagem mais sistemática dos moradores, o número de casos saltou em um dia de 5700 para 20.875. As restrições no estado estão bastante rígidas, a ampliação de leitos de hospitais acelerada e medidas econômicas como proibição de despejos foram tomadas.
Enquanto isso, Boris Johnson se rendeu às medidas mais duras de distanciamento social. Após liderar uma política de “herd immunity” que defendia a necessidade de uma parcela significativa da população se infectar para ficar imune. Na noite de ontem (23) ele anunciou que o coronavirus é a maior ameaça que o país enfrenta há décadas e que a partir de agora os britânicos só poderão sair para o trabalho, caso não possa fazer home office, comprar itens essenciais e ter atendimento médico. Todas as lojas de produtos não essenciais também estarão fechadas, assim como bibliotecas, igrejas e etc. Usando o mesmo termo alemão, não poderá haver reunião de “mais de duas pessoas”.
Um estudo do CMMID – Centro de Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas – da London School of Tropical Medicina do Reino Unido feito sobre a subnotificação de infecções por covid19 em diversos países aponta que o Brasil pode ter já cerca de 17 mil casos da doença. O estudo foi publicado ontem (23) e aponta que o Brasil pode ter diagnosticado apenas 11% dos casos, sem considerar os assintomáticos. Outros países, como a Coreia do Sul, podem ter encontrado 83% dos casos (lá houve testagem em massa). Países como o Reino Unido podem ter registrado menos ainda, em torno de 6% dos casos. Com relação aos EUA, o Brasil pode estar registrando mais. Lá faltam muitos testes. Para quem tiver interesse, o estudo está aqui: https://cmmid.github.io/topics/covid19/severity/global_cfr_estimates.html
Mais de 600 brasileiros estão no Peru aguardando por repatriação ao Brasil. São principalmente turistas que estavam no país, espalhados por mais de 30 países. Eram mais de 1300, portanto apenas metade conseguiu voltar. O Itamaraty diz estar cuidando da repatriação.
E os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tokio foram finalmente adiados. Anteriormente previstos para começarem em 24 de julho, ficarão para 2021. O anúncio foi feito hoje após reunião entre o premiê japonês Shinzo Abe e o COI.
A chanceler alemã Angela Merkel que está desde ontem em quarentena após ter seu médico infectado pelo covid19 testou negativo para o vírus. Enquanto isso, o chefe do Instituto Robert Koch, referência em saúde no país, disse que medidas de distanciamento social parecem funcionar mesmo no combate à covid19. Há sinais de que a curva alemã está se estabilizando pela primeira vez há dias. A taxa de mortalidade pelo novo coronavirus na Alemanha é de 0,4%, bem menor que na Itália com 9,2%, no Irã, com 7,8% e na Espanha com 6,1%.
Um homem morreu nos EUA após usar a cloriquina por conta própria para combater o coronavírus.
Um dado da exponencialidade do coronavirus trazido pela OMS é de que foram necessários 67 dias desde o primeiro caso registrado para se chegar aos 100 mil casos, mas apenas 11 dias para atingir 200 mil e somente 4 dias para chegar aos 300 mil.
O destaque de ontem quanto à pandemia do Coronavírus foi a primeira queda em números de casos de infectados e mortos na Itália. A alta de casos caiu de 10% para 8,1%. O número de mortos já está na casa dos 6000 e é o maior de todo o mundo. Enquanto isso, um drama italiano comove o mundo, os pacientes mais velhos que depois de contrair a doença ficam sozinhos nos hospitais até falecerem. Por outro lado, seus familiares impotentes e isolados que não podem se despedir dos entes queridos. Uma médica do hospital San Carlo Borromeo, de Milão, entrevistada pelo jornal Il Giornale e divulgado pelo G1 diz: “você sabe o que é mais dramático? Observar os pacientes morrendo sozinhos, escutá-los pedir que se despeça de seus filhos e netos por eles”. Diante disso, algumas organizações e partidos estão enviando tablets para os hospitais, para que os médicos façam videochamadas entre os pacientes e familiares para uma despedida. A campanha se chama “direito de dizer adeus”.
Já na Espanha há uma luta insana para frear o aumento dos casos que subiu 32% ontem. Cerca de 4000 infectados são profissionais da saúde, entre médicos e enfermeiros. Os profissionais dizem que não estão recebendo kits de proteção suficientes. Um centro de eventos de patinação de Madrid, “Palacio de Hielo”, será usado como necrotério para os falecidos pela epidemia. A ministra da defesa do país, Margarita Robles, disse que lares de idosos estão sendo vasculhados e em alguns foram encontrados idosos abandonados à própria sorte, alguns já falecidos, demonstrando o grande drama da epidemia no país.
Segundo a secretária executiva da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o os países latino-americanos viverão em 2020 “entrará para a história como uma das piores crises” já vistas no mundo. Interrupção de cadeias produtivas, desemprego, aumento da pobreza para um terço da população regional, hoje com 620 milhões, são alguns dos efeitos. Número de pessoas na extrema pobreza pode ir para 90 milhões. Fazendo um comparativo, na China a atividade econômica caiu 20% nesse trimestre, na Europa 18%, comparando ao primeiro trimestre de 2019. Quanto cairá na América Latina? (reportagem Janaína Figueiredo – O Globo)
A diretora do Latinobarômetro, Marta Lagos, também apresenta um cenário incerto para a América Latina. Segundo ela, “para a desigualdade social esta crise será devastadora”, pois a região não está preparada. “Sairemos desta crise com mais desigualdade. Será como uma pós-guerra”, reforça. E se os governos não conseguirem dar respostas mínimas, assevera, quando terminar a quarentena “as pessoas irão em massa às ruas e o desfecho pode ser traumático”. (reportagem Janaína Figueiredo – O Globo)
O Brasil fechou a fronteira com o Uruguai, a última que faltava. A fronteira não estará fechada para tráfego de cargas e mercadorias, execução de ações humanitárias e passagem de residentes das cidades fronteiriças.
Secretário geral da ONU pediu ontem um cessar fogo geral em meio à pandemia por covid19. A maior preocupação é a Síria.
Em entrevista à FSP no final de semana o chanceler iraniano disse que os EUA fazem terrorismo médico e econômico contra o país. Segundo ele, “somos um país rico, mas por causa das sanções não conseguimos os recursos necessários para atender a população atingida”.