Ana Prestes: De Olho no Mundo
A cientista política e membro da Comissão de Relações Internacionais do PCdoB, Ana Prestes, destaca nesta segunda-feira (23) o número de casos de contaminação e de pessoas que morreram no mundo por causa do novo coranavírus. Trata também da crise econômica causada pela pandemia e das medidas adotadas por diversos países.
Hoje, 23 de março de 2020, há no mundo mais de 350 mil pessoas infectadas por coronavírus e 15 mil mortas. Mais de 100 mil pessoas estão recuperadas após serem infectadas. Mais de 1,7 bilhão estão confinados em casa. Wuhan, berço da epidemia, começa a retomar suas atividades. Nova Iorque, nos EUA, surpreende com 20 mil contaminados.
Nos Estados Unidos o pacote (que ainda não saiu) para a economia enfrentar o coronavírus pode chegar a 2 trilhões de dólares. Deve ser votado hoje. Uma proposta inicial não foi aprovada ontem em plenário.
O diretor-executivo de emergências da OMS, Mike Ryan, disse ontem (22) que não basta somente a quarentena domiciliar para derrotar o novo coronavírus, mas que é preciso fazer testagem em massa. Ele alega que primeiro é preciso parar a movimentação, mas em seguida urge buscar o vírus e isolar pessoas infectadas e seus contatos. Segundo o especialista, se simplesmente impedirmos a mobilidade, quando ela for novamente relaxada, a epidemia volta.
A China registrou casos de transmissão local primeira vez em quatro dias. Os novos infectados chegam do exterior. O impacto econômico no país começa a se revelar. A produção industrial caiu 13,5% (primeira vez desde 1990).
Nova Iorque é o epicentro da crise nos EUA. O prefeito Bill De Blasio alerta que pessoas podem morrer por falta de respiradores nos hospitais. Segundo ele disse ontem (22) “estamos a dez dias de termos uma escassez generalizada”. Os EUA agora têm 31.057 casos com 390 mortes. Atacando Trump, ele disse: “não posso ser mais direto se o presidente não agir, pessoas que poderiam viver vão acabar morrendo. Essa vai ser a maior crise, domesticamente, desde a Grande Depressão” (1929).
Já há sinais de que a epidemia por covid-19 nos EUA pode mudar o rumo das eleições presidenciais. Primeiro, ninguém mais fala do tema no país. Democratas pararam por completo as divulgações das primárias. O democrata que mais tem aparecido é Andrew Cuomo, governador do estado de Nova Iorque, antagonista de Trump na crise. Cuomo disse ontem na CBS News que a crise pode demorar de quatro a nove meses, fácil.
A África já registra 800 casos de coronavírus em 42 países (são 54). A maioria são pessoas que vieram do exterior.
A Europa já tem o dobro de casos de covid-19 da China, com 160 mil casos e mais que o dobro de mortes da China.
A Espanha ultrapassou a barreira das 2 mil mortes. Foram 462 novos casos nas últimas 24 horas. Já são 2182 falecidos. Os contágios agora estão na casa dos 33.089.
A chanceler alemã, Angela Merkel, está de quarentena após ter contato com médico infectado pelo coronavírus. O anúncio foi feito pelo porta-voz do governo Steffen Seibert. Segundo os jornais, o médico aplicou nela uma vacina pneumocócica. A Alemanha vem surpreendendo o mundo por ter ao mesmo tempo um alto número de casos de covid19 (13 mil) e poucas mortes (31), em relação a outros países, como a Itália, por exemplo. Há uma determinação no país de que duas pessoas não podem se reunir ao mesmo tempo, a menos que sejam familiares da mesma casa.
Na Bolívia, o Supremo Tribunal Eleitoral anunciou que estão suspensas as eleições presidenciais e parlamentares de 3 de maio, sem nova data. Devido ao coronavírus. A princípio há uma prorrogação de 14 dias, mas podendo ser estendida.
E o uruguaio Luis Almagro conseguiu se reeleger para Secretário Geral da OEA. Os EUA participaram ativamente chantageando os países votantes. Uma das pressões foi feita sobre o embaixador do Peru nos EUA, Hugo de Zela, para que retirasse sua candidatura, o que poderia fracionar os votos de Almagro. A oponente de Almagro foi a ex-chanceler equatoriana María Fernanda Espinosa. Ele teve 23 votos e ela 10. México e Argentina votaram nela. A representante do México na votação, Luz Elena Baños Rivas, fez uma dura fala com relação ao papel de Almagro na instabilidade política latino-americana no último período. Entre outras coisas, ela disse: “o senhor (Almagro) inicia seu segundo período (secretaria geral da OEA) com falta de apoio, sem falar no rechaço de um grupo importante de Estados. Sua eleição é uma patética expressão do que qualquer Missão de Observação Eleitoral (MOE) observaria como praticas danosas. Expressa o aprofundamento das diferenças e das fraturas no hemisfério.”
Amanhã a Argentina passará um 24 de março (44 anos do golpe de Estado) “sin marcha pero com memoria” como dizem eles. As pessoas colocarão panos brancos na janela e cantarão nas varandas. Será um “pañuelazo blanco”. Aplausos também ecoaram em memória dos mais de 30 mil desaparecidos e mortos da ditadura.
O caso do Japão chama atenção. O país está tentando aparentar controle sobre a crise do covid-19 e aos poucos apresenta retorno de atividades sociais, como aulas escolares. Há uma grande pressão sobre o país quanto ao adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Países como Canadá e Austrália já anunciaram que mantida data dos jogos, não participarão. O país tem 1101 casos registrados do coronavírus e 41 mortes.
ONU, Unicef e OMS vão lançar um plano humanitário esta semana. A ideia é de que centenas de milhões de dólares sejam mobilizados para dar uma resposta à crise. Estimativas são de que a economia mundial pode ter perda de 2 trilhões de dólares, provocando aprofundamento da pobreza em todo o mundo. Segundo a ONU, será a maior crise global em 75 anos e pode gerar uma recessão inédita. O número de desempregados pode aumentar em 25 milhões, além de redução na renda de quem permanecer empregado. O anúncio é acompanhado de outro do Banco Mundial com a disponibilização de uma linha de crédito de 12 bilhões de dólares para os pequenos empresários.