Com a publicação de Madura Mulher, composto no último 8 de Março, voltamos a destacar a poesia de Ana Bueno. Geógrafa de formação, jornalista de ofício, poeta por vocação, Ana alia sensibilidade e amplitude para abordar diversas faces das mulheres. Confira.

 

MADURA MULHER
(Por Ana Bueno)

À Conchita

A beleza do corpo dela

dos tempos na matéria,

acumula histórias

e se revela nela

o sorriso discreto,

do profundo olhar respeito…

 

A bela madura mulher

sente descrente,

entre camadas viventes,

que muita gente indecente

tem destruído o mundo, infelizmente.

 

Ela sabe que para ser descente

o humano tem que evoluir

e decidir compartilhar, dividir,

a afluência da vida em reciprocidade

 

Tem a sapiência de que sem serenidade

não se chega à verdade,

tampouco à liberdade

de amar com igualdade.

 

Compreende que se amar é antes

depois o próximo,

mas com compreensão

e uma dose de concessão.

 

Sem pressa ela espera

a alegria primavera

depois do frio inverno,

pois bem sabe

do passar das dores,

mesmo vindas de outonos,

porque do lusco-fusco

se morre um dia

e se nasce noutro.

 

Em seu rosto o relevo

das narrativas vividas,

contendas de outrora

não sabe se haverá hora

de parar e descansar.

 

Assim, segue seu caminho a enfrentar

qualquer desafio que porvirá,

sempre firme e a amar.

 

No rosto da jovem pressente

combates da mulher à frente,

mesmo que hoje essa jovem

seja inocente e pense

que com ela será diferente

e não precise ser resistente

contra o patriarcado onipresente.

 

Ela que deu luz

sobre tantas resistências

não se aflige com as formas

de seu corpo maduro,

porque leva consigo evidências

de lutas existidas vencidas,

mesmo em porto inseguro.

 

De natureza igual,

só quer força pro sorrir

esperança no porvir

e paz em seu acabamento.

 

(SP, 08 de março, 2021)