Ativista Medea Benjamin condena tentativas de desestabilização de Cuba

Em oposição às promessas de campanha de reverter as políticas “fracassadas” do antecessor, Donald Trump, – que “infligiam danos aos cubanos e suas famílias” -, o governo de Joe Biden anuncia novas sanções contra Cuba, mesmo em meio à pandemia de Covid-19.

A mais recente medida imposta pelo novo governo dos EUA é a de bloquear uma emenda que permitia elevar as quantias em dinheiro que as pessoas poderiam enviar dos Estados Unidos a suas famílias na Ilha.

A destacada ativista pelos direitos humanos nos EUA, Medea Benjamin, em comunicado conjunto com Leonardo Flores, ativista pela paz, sublinha que a imprensa tem dado ênfase a manifestações em Cuba “pálidas em relação às que têm ocorrido na Colômbia, no Haiti, Equador e Chile ou até em Portland, Oregon e Missouri e, no entanto, dão pouca atenção aos que saíram às ruas em defesa da Revolução Cubana”.

Além disso, prosseguem Medea e Flores, “os protestos devem ser entendidos no contexto de uma guerra econômica brutal lançada pelos Estados Unidos contra a Ilha por mais de 60 anos. Uma guerra que foi claramente formulada pelo vice-secretário de Estado em 1960, [Thomas Man em memorando a secretário de Estado] no qual explicitamente chamou para que ‘se negassem dinheiro e suprimentos a Cuba, para fazer decrescer as condições monetárias e de salários reais, para fazer emergir a fome, o desespero e assim derrubar o governo’. Essa estratégia falhou em seu objetivo de mudança de regime por décadas e não deve ter sucesso agora”.

“O bloqueio que tem permanecido por mais de 60 anos, foi apertado em formas significantes sob o governo Trump em sua política de ‘pressão máxima’. Esta estratégia teve como alvo o turismo em Cuba, a produção de energia e outros setores da economia. Estas políticas tiveram efeito especialmente desastroso quando Cuba teve que recorrer à quarentena o que fez com que bilhões de dólares e milhares de empregos fossem perdidos pela Ilha devido ao decréscimo do turismo e Biden, nos últimos seis meses tem prosseguido com essa guerra econômica”.

Como declarou a escritora e colunista da rede Al Jazeera na quinta-feira (29), “a difícil situação de Cuba tem toda a relação com a interferência norte-americana, particularmente pelo bloqueio de 60 anos que, sob a lei internacional, pode ser tecnicamente qualificado por ato de guerra”.

Trump até restringiu a quantia de dinheiro que os cubano-estadunidenses poderiam enviar para casa e fechou as filiais cubanas da Western Union, principal veículo de envio de remessas.

“Embora os principais artigos muitas vezes mencionem as sanções dos EUA”, escreveu Fernández sobre os jornais norte-americanos, “eles quase nunca transmitem sua natureza asfixiante – contexto sem o qual nada da história contemporânea de Cuba pode começar a ser compreendido”.

As novas sanções do governo Biden vêm depois que a liderança democrata na Câmara dos Deputados dos EUA bloqueou uma emenda do deputado Jesús “Chuy” García para reverter o limite de US$ 1.000 por trimestre de Trump nas remessas que as pessoas nos EUA podem enviar à sua família em Cuba.

“Os Estados Unidos não têm como impedir os cubano-americanos de enviar remessas que salvam vidas para suas famílias, especialmente enquanto muitos carecem de alimentos, água e remédios adequados”, disse García ao The Nation.

Deixe Cuba viver

Estampada há uma semana no jornal The New York Times, uma carta aberta exorta Biden a “Let Cuba Live!” (Deixe Cuba Viver) reúne intelectuais, religiosos, artistas, líderes políticos e ativistas de todo o mundo, como Noam Chomsky, Oliver Stone, Gayatri Chakravorty Spivak, Roxanne Dunbar-Ortiz, Jane Fonda, Chico Buarque, Cornel West, Susan Sarandon, Danny Glover, Wagner Moura e os ex-presidentes Lula, do Brasil, e Rafael Correa, do Equador.

“Parece-nos inconcebível, especialmente durante uma pandemia, bloquear intencionalmente as remessas e o uso de instituições financeiras globais por parte de Cuba, visto que o acesso a dólares é necessário para a importação de alimentos e medicamentos”, destaca o documento, frisando que “quando a pandemia atingiu a Ilha, seu povo e seu governo perderam bilhões em receitas do turismo internacional que normalmente iriam para o sistema público de saúde, distribuição de alimentos e ajuda financeira”.

A carta incentiva o presidente dos Estados Unidos a “rejeitar as políticas cruéis postas em prática pela Casa Branca de Trump, que tanto sofrimento impuseram ao povo cubano”, enfatizando que “embora a pandemia de Covid-19 tenha provado ser um desafio para todos os países, foi ainda mais para uma pequena ilha sob o peso de um embargo econômico. “

“Achamos inescrupuloso, especialmente durante uma pandemia, bloquear intencionalmente as remessas e o uso de Cuba de instituições financeiras globais, dado que o acesso a dólares é necessário para a importação de alimentos e medicamentos”, diz a carta, apelando a Biden para “iniciar o processo de fim do embargo e normalização total das relações entre os Estados Unidos e Cuba. “

No mês passado, continuando uma tendência de quase três décadas, 184 membros da Assembleia Geral das Nações Unidas votaram a favor de uma resolução exigindo o fim do bloqueio dos Estados Unidos a Cuba. Apenas os Estados Unidos e Israel votaram contra, enquanto Brasil, Colômbia e Ucrânia se abstiveram.