A mídia hegemônica solta rojões e afirma que o segundo turno das eleições municipais confirmou “a derrota dos extremos, de Bolsonaro e da esquerda”. Na Globo News, os comentaristas não escondem os sentimentos de alegria – só falta um Guga Chacra chorando como no pleito ianque. Será que o resultado foi esse mesmo?

Por Altamiro Borges*

Quanto a Jair Bolsonaro, o fascista que foi chocado pela própria mídia, o resultado foi mesmo um fiasco no seu primeiro teste como presidente. Os candidatos que receberam seu apoio direto foram derrotados. Alguns até esconderam o “capetão” na campanha. A eleição tornou o frágil presidente um refém dos profissionais do DEM e do “Centrão”, que cresceram no pleito.

Forças de esquerda estancaram a sangria

Já no que se refere às forças de esquerda, tão demonizadas pela mídia venal, é preciso analisar melhor o resultado do segundo turno. Aparentemente, elas estancaram a sangria, contiveram os danos – o que já é uma vitória política importante. Em 2016, a esquerda levou uma surra nas urnas. Muitos inclusive decretaram sua morte!

Na capital paulista, por exemplo, a esquerda sequer foi ao segundo turno no pleito passado – apesar de estar na máquina, na prefeitura. Desta vez, com a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), que uniu o campo, ela obteve 40,62% dos votos e deu um susto no tucanato e na cloaca burguesa de São Paulo.

Já em Porto Alegre, capital do Fórum Social Mundial e de experiências avançadas de administração – como o orçamento participativo –, a esquerda ficou de fora do segundo turno nas duas eleições passadas. Agora, com a candidatura de Manuela D’Ávila (PCdoB), que também uniu as forças populares, ela teve 45,37% dos votos.

Unidade das esquerdas e juventude cativada

Tanto em São Paulo como em Porto Alegre, só pra ficar nestes dois casos, as jovens candidaturas da esquerda cativaram a juventude, uniram os movimentos sociais e os coletivos de luta contra todas as formas de ódio e preconceito fascista, promoveram o debate político de alto nível, encheram as pessoas de esperança.

Em 2016, o ano da sangria, o PT despencou de 18 para uma única vitória no chamado G96 – grupo que reúne as 26 capitais e as 70 cidades com mais de 200 mil eleitores. Agora, o partido mais estigmatizado pela direita elegeu prefeitos em quatro cidades do G96 (Diadema, Mauá, Contagem e Juiz de Fora) e disputou em 15.

Neste balanço parcial é preciso contabilizar a emblemática vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém (PA). Já no campo ampliado da centro-esquerda, o PDT venceu em três das quatro prefeituras que disputou José Sarto, em Fortaleza (CE), Edvaldo Nogueira, em Aracaju (SE) e Sergio Vidigal, em Serra (ES). E o PSB elegeu João Campos, em Recife (PE); João Henrique Caldas, em Maceió (AL) e Rubens Bomtempo, em Petrópolis (RJ).

Não dá para falar em “vitória” das esquerdas nas eleições municipais deste ano. Mas também não dá para fazer coro com a mídia hegemônica e gritar que foi uma “baita derrota”. A sangria foi estancada e há sinais de recuperação. Agora é preciso tirar ensinamentos para o futuro.

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

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