Levantamento feito pela organização global Vital Strategies, com base no Sivep-Gripe, principal banco nacional de dados da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), aponta que a subnotificação está ocultando milhares de mortes pelo novo coronavírus no Brasil. A tragédia imposta pelo vírus e pelo verme (Bolsonaro) é ainda pior do que o noticiado.

Por Altamiro Borges*

Segundo matéria publicada na Folha nesta terça-feira (4), “a subnotificação dos casos graves e mortes de Covid-19, principalmente pela falta de testes de diagnósticos, está ‘escondendo’ ao menos 30% de óbitos que não aparecem nas estatísticas oficiais. Se eles fossem considerados, o Brasil já estaria com 530 mil mortos”.

O estudo analisou casos e mortes de SRAG desde o início da pandemia que aparecem na estatística oficial como “etiologia não especificada ou sem classificação final para Covid” – ou seja, sem identificação do agente causador. Os dados foram comparados aos registros dos anos anteriores à doença.

Mais casos nas regiões e por faixa etária

O estudo mostra a evolução do contágio e mortes. Até o último 19 de abril, os resultados foram os seguintes: aumento de 57,4% (de 1.098.254 para 1.728.955) para os casos graves de SRAG e de 29,9% (356.536 para 462.973) para os óbitos. Esses números comprovariam a subnotificação.

“Não tem outra explicação [se não a Covid] para um aumento tão grande de casos e dos óbitos [por SRAG]. Não há outro vírus respiratório agudo agindo concomitantemente ao Sars-CoV-2”, explica Ana Luiza Bierrenbach, conselheira técnica sênior da Vital Stratregies e autora do estudo.

Excluindo algumas possibilidades de óbitos por outras causas respiratórias, ela garante: “Fazendo os descontos, a gente acha que todos os outros casos são Covid. [A subnotificação] está no país inteiro. Não é localizada numa região só e nem numa única faixa etária”.

Doença nas crianças é atípica

Segundo o estudo, na faixa etária até um ano de vida foram registradas 567 mortes por Covid. Com o ajuste, elas subiram para 1.397. Entre 1 e 4 anos, a diferença também é grande. Foram reportadas 230; com a reclassificação, elas somam 498. Entre 5 e 9 anos, as mortes passam de 143 para 321.

“No início da pandemia, não existia essa suspeita de que esses casos eram Covid. A manifestação clínica da doença nas crianças é atípica, às vezes aparece depois dos sintomas virais e progride rapidamente para uma doença de maior gravidade e até mesmo óbito”, argumenta a estudiosa.

Segundo ela, em função da baixa testagem se perde a chance de se fazer diagnóstico precoce e, muitas vezes, as pessoas se internam tardiamente, quando a testagem já não é mais tão efetiva. “Aí fica assim. Parece Covid, cheira a Covid, tem sintoma de Covid, tem vínculo epidemiológico, mas não tem confirmação diagnóstica”.

“Pesquisa é até conservadora”

“Os números são chocantes, mas a gente já achava que não tinha outra explicação para casos inespecificados tão grande. Muitos pesquisadores já estavam com a pulga atrás da orelha. O nosso mérito foi dar voz a isso”, conclui a pesquisadora, para quem “a pesquisa é até conservadora”.

O estudo não levou em conta casos leves diagnosticados, casos graves que não tiveram acesso ao diagnóstico, eventuais óbitos que ocorreram em casa ou ainda mortes em consequência da Covid (infarto, por exemplo) depois de internação prolongada.

“Isso tudo não está contabilizado nos nossos números. Se começarmos a somar, vai longe. Os números são assustadores. Espero que eles sensibilizem a população e os nossos governantes”, afirmou Ana Luiza Bierrenbach à Folha. Esse apelo, porém, não deve incomodar muito o genocida Jair Bolsonaro e os seus serviçais – civis e militares.

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

 

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