Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril, o sinistro Ricardo Salles admitiu alegremente que a tragédia do coronavírus servia para distrair a imprensa e “ir passando a boiada” da devastação ambiental. E, de fato, isto está em curso. Segundo reportagem do Estadão, o “desmatamento na Amazônia cresceu 22% neste ano”.

Por Altamiro Borges*

A matéria baseia-se no levantamento do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ele mostra que nos cinco primeiros meses do ano o desmatamento na Amazônia atingiu 1.844 km², ante 1.512 km² de janeiro a maio do ano passado – aumento de 22%.

“O total desmatado neste ano é o maior para o período de cinco meses desde 2015. Em apenas dez meses, os alertas de desmate da Amazônia já respondem por 92% do observado nos 12 meses anteriores. De agosto até 28 de maio deste ano, o Deter divulgou alertas pra derrubada de 6.309 km²”, afirma o Estadão.

Ianomâmis e o genocídio dos povos indígenas

Como aponta o jornalão, “os estados amazônicos são alguns dos mais afetados pela pandemia, mas isso não impediu o avanço de criminosos” que desmatam as florestas. O Estadão ainda alerta que inúmeras “tribos indígenas estão sendo contaminadas, em parte, por garimpeiros ilegais”.

Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Universidade Federal de Minas, com revisão da Fiocruz, estima que quase 40% dos ianomâmis que vivem perto de áreas de garimpo ilegal na Terra Indígena Ianomâmi podem ser contaminados pela Covid-19. O genocídio é iminente!

“A terra indígena tem hoje cerca de 20 mil garimpeiros ilegais em sua área. Conforme o ISA, três ianomâmis morreram da doença e há 55 infectados entre os ianomâmis e os ye’kwana… Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não se manifestou”. O sinistro Ricardo Salles segue passando a boiada!

Fortuna acumulada de R$ 7,4 milhões

Ao mesmo tempo em que “passa a boiada” para ruralistas e desmatadores, o ministro coleciona processos na Justiça e renova a frota de carrões da sua pasta. No fim de maio, o Ministério Público de São Paulo “quebrou o sigilo bancário de Ricardo Salles e descobriu transferências milionárias em suas contas”, informa o UOL.

De acordo com a reportagem, “o ministro repassou R$ 2,75 milhões da conta de seu escritório de advocacia para sua conta pessoal em 54 transferências, entre 2014 e 2017. No período, Salles foi secretário particular do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do Meio Ambiente de São Paulo”.

O inquérito do MP-SP foi aberto em agosto passado para investigar suspeitas de enriquecimento ilícito entre 2012 e 2017. “Ricardo Salles teria acumulado R$ 7,4 milhões em cinco anos, quando ocupou cargos públicos no governo paulista, deixando de atuar como advogado”.

Em 2012, quando foi candidato a vereador em São Paulo pelo PSDB, o atual ministro de Bolsonaro declarou à Justiça Eleitoral um montante de R$ 1,4 milhão, divididos em aplicações financeiras, um automóvel, uma motocicleta e 10% de um apartamento.

Já em 2018, quando foi candidato a deputado federal pelo Partido Novo, ele declarou R$ 8,8 milhões em bens, com dois apartamentos de R$ 3 milhões cada um, um barco no valor de R$ 500 mil e R$ 2,3 milhões em aplicações, totalizando alta de 335% em cinco anos, com valor corrigido pela inflação.

Suspensão dos direitos políticos

Diante desta e de outras denúncias de irregularidades, o exótico integrante do laranjal de Jair Bolsonaro jura que é inocente e vítima de campanhas de difamação. O chororô, porém, não comoveu o desembargador Nogueira Diefenthaler, da 1ª Câmara Reservada do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Na quinta-feira (4), ele deu prazo de cinco dias úteis para Ricardo Salles se manifestar em um processo de improbidade administrativa. Ainda como secretário de Geraldo Alckmin, ele foi acusado de irregularidades na elaboração e aprovação do plano de manejo da área de Proteção Ambiental Várzea do Rio Tietê.

O ministro foi condenado em primeira instância à suspensão dos direitos políticos por três anos e pagamento de multa civil. Mas o processo estava paralisado. Após o vídeo-pornô tornado público pelo ministro Celso de Mello, do STF, que evidencia o comportamento criminoso do sujeito, agora ele foi retomado.

Carros blindados de R$ 1 milhão

Apesar do cerco, Ricardo Salles parece não se incomodar. Ele é um dos queridinhos de Bolsonaro e é o laranja de estimação dos barões do agronegócios. Na semana passada, o ministro da devastação ambiental lançou edital de licitação para locação de carros blindados no valor de pouco mais de R$ 1 milhão.

Pelo edital, “o carro para deslocamento em Brasília deve ser um SUV (veículo utilitário esportivo, na sigla em inglês) a diesel, com tração nas quatro rodas, câmbio automático, vidros e portas elétricos e banco de couro preto ou tom escuro, segundo especificações do termo de referência”. Também é exigida central multimídia contendo, “no mínimo”, câmera de ré e GPS integrados ao painel original de fábrica”, informa a Folha.

Além deste carro, identificado como veículo de representação, o edital inclui o aluguel de carros blindados com e sem motorista para uso nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. “O custo estimado desta contratação é de R$ 1.028.090,25”. A desculpa usada pelo “passador de boiada” é que ele tem sido vítima de ameaças. Haja cinismo!

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