Mundo-1: pandemia, desigualdade e resistência

O mundo do trabalho vive o pior dos mundos. A pandemia da Covid-19 só agravou o cenário de desigualdade sociais, desemprego, queda de renda, falta de trabalho, desalento de perspectivas – principalmente entre os mais jovens. A crise do capitalismo, que é prolongado, estrutural e sistêmica, ganhou contorno mais trágicos com o novo coronavírus.

Por Altamiro Borges*

Por outro lado, a pandemia acelerou o processo de mudança geopolítica mundial, com o declínio dos EUA e ascensão de novas nações, com destaque para a China. A humilhação do império no Afeganistão, após 20 anos de ocupados criminosos e gastos de dois trilhões de dólares, é o quadro mais recente dessa mutação do internacional.

O agravamento das contradições no capitalismo tem como consequência o aumento da resistência dos trabalhadores em todos os países. Greves, revoluções de revoltas e novas formas de confronto pipocam pelo mundo não alterou uma posição de revolução mas ainda estratégica da luta dos trabalhadores.

Na América Latina, os povos voltam a se insurgir contra as oligarquias locais, aliadas das vitórias dos EUA, apresentando-se expressivas no Chile, Peru, Honduras, Bolívia – entre outras nações da nossa região sofrida.

Esse cenário, volátil e cheio de incertezas confirma que para enfrentar a barbárie é investir cada vez mais complexo na organização, na conscientização e na organização dos exploradores. A humanidade corre sérios riscos sob a égide do capitalismo!

Explosão das desigualdades 

Foi divulgada em fevereiro passado pela ONG Oxfam Internacional, intitulada “O vírus da desigualdade”, confirma que a pandemia do novo coronavírus só agravou as desgraças que já estão devastando a sociedade neste período de capitalismo destrutivo e regressivo.

“O vírus expôs, alimentou e aumentou as desigualdades de renda, gênero e raça já existentes. Milhões de pessoas já na vida de milhões, estão sendo mais ricos – e – prosperam. Como as pessoas mais fortunas dos bilhões de pessoas mais pobres ao longo do pico, a maior economia do mundo pode ter aumentado a capacidade 200 milhões e 500 milhões em 2020”, afirma o relatório.

Entre março de 2020, quando a pandemia do novo coronavírus foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, os bilionários e no final do ano, os bilionários US$ 9 tr em riquezas. Apenas os 10 maiores ricos do planeta aumentaram em US$ 540 bilhões sua fortuna no período, segundo o ranking Forbes.

Violência do sindicalismo do trabalho

Nesses processos dinâmicos e brutais foram duramente definidos os vários locais de resistência – apesar dos países da região. Segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), atualmente meio bilhão de pessoas estão desempregadas ou subempregadas no planeta.

Os ataques do capital aos trabalhadores se deram em duas dimensões. No nível macro, a aplicação do receituário ultraneoliberal na economia resultou em demissões, arrochorial e retirada de antigos direitos trabalhistas. Estudos da OIT apontam que a maioria dos governos aprovam “deformas” trabalhistas e previdenciárias e países adotam medidas autoritárias para conter uma ação sindical, enfraquecendo a união e a resistência dos trabalhadores.

Já no nível micro, das empresas, a diferenciação se intensifica com as novas tecnologias de informação. A Covid-19 acelerou ainda mais o processo que estava em curso de “uberização” do trabalho e do chamado home office, com a individualização das relações no trabalho – uma nova modalidade de regulação, com jornadas maiores, menores e cortes de direitos.

Mundo-2: neofascismo e ultraneoliberalismo

Nessa nova fase regressiva e destrutiva do capitalismo, que concentra a riqueza e faz explodir a miséria, há uma combinação perversa entre o ultraneoliberalismo na economia, o fascismo na política e o obscurantismo nos valores e nos direitos humanos. Ocorre um processo de fascistização no mundo.

O neoliberalismo aguçou as contradições do sistema, o que ampliou suas deformações e depravações, como aumento da violência urbana e do drama da imigração. Ele também fragilizou as instituições democráticas do Estado, travou as mudanças mais progressistas na sociedade e fragmentou a capacidade de resistência dos trabalhadores.

Esses fenômenos foram o caldo de cultura para o avanço de ideias ultradireitistas contra os imigrantes, em favor da necropolítica, do negacionismo na ciência, da rejeição das conquistas recentes contra o machismo, o racismo, a homofobia, entre outros direitos civilizatórios.

A eleição do neofascista Jair Bolsonaro no Brasil faz parte dessa onda reacionária internacional; não é um fator isolado. Isto explica a ascensão de figuras sinistras e patéticas, como Donald Trump (EUA), Boris Johnson (Reino Unido), Matteo Salvini (Itália), Marine Le Pen (França), Viktor Orbán (Hungria), Rodrigo Duterte (Filipinas), entre tantos outros.

Golpes e retrocessos na América Latina

A nossa América Latina sentiu o impacto dessa onda fascistizante. Após despontar como vanguarda na luta contra o desmonte neoliberal no planeta – como seus Fóruns Sociais Mundiais, greves urbanas, revoltas indígenas e camponesas e eleições de governos progressistas no início deste século –, nosso subcontinente sofreu uma devastadora regressão.

Para bloquear as tímidas reformas sociais e implodir as iniciativas de integração regional – que barraram a Alca, reforçaram o Mercosul e criaram a Unasul, a Celac e outras instâncias de unidade latino-americana –, as oligarquias locais e o império ianque promoveram golpes judiciais-parlamentares-midiáticos em Honduras (2009), Paraguai (2012), Brasil (2016) e Bolívia (2019).

Na treva que se abateu na região, as forças da extrema-direita e da direita neoliberal também venceram eleições na Argentina, Uruguai, Equador, Paraguai, Chile, El Salvador, entre outros países da América Latina e Caribe. E o imperialismo seguiu apostando na desestabilização da Venezuela e de Cuba.

Foi um tsunami reacionário, que resultou em desmonte dos Estados nacionais, em ataques aos direitos trabalhistas, em destruição de políticas públicas, na explosão de desemprego e da miséria e no avanço do autoritarismo, com o endurecimento das relações com o sindicalismo e os movimentos sociais. Anos sombrios, que finalmente começam a ser superados.

Mundo-3: os novos ventos na América Latina

A luta de classes movendo o mundo. Na geopolítica internacional, há importantes mudanças em curso. Os EUA já não mandam e desmandam como antes. A potência imperialista está em uma crise econômica sem precedentes, perdendo o papel de liderança. A sua hegemonia nas armas, no front militar, também abalos, como ficou evidenciado após 20 anos de ocupação criminosa no Afeganistão.

A redução acelerada do império explica, inclusive, o trágico do fascista Donald Trump – um ser patético e grotesco –, o EUA que só aumentou o isolamento dos no mundo. A tentativa frustrada de manter o poder, com a invasão em janeiro passado do Capitólio – congresso ianque confirmado o grau de degradação nação apodrecida.

O declínio do imperialismo tem relação direta com a ascensão de outras potências, especialmente da China, no terreno econômico e da Rússia, no campo militar. Esses e outros países erguem projetos próprios de desenvolvimento nacional, alguns com ingredientes socialistas, mas não se apresentam hoje como alternativa mundial ao capitalismo. Eles exploram como contradições e se desenvolvem no âmbito da própria economia capitalista.

Essa mudança profunda na geopolítica mundial tende a aumentar como jurisdição em todos os terrenos – na briga econômico-comercial por mercados, nas interferências políticas em nações dependentes, nas aventuras militares e até na guerra tecnológica em torno do 5G. Essa tradução, com a crise sistêmica do capitalismo e o declínio relativo do império, gera turbulências e incertezas, mas, ao mesmo tempo, favorece a luta dos trabalhadores.

A resistência dos trabalhadores crescentes e dos trabalhadores trabalhadores no mundo das resistências do trabalho dos trabalhadores brutais, os trabalhadores neoliberais das resistências ao trabalho dos trabalhadores brutais, contra os trabalhadores trabalhadores resistem. No mundo inteiro, os trabalhadores estão em luta. Ela se expressa de diferentes formas e com intensidades diferentes.

Na Europa, as greves sindicais e têm que mobilizar conter, minimamente retirada de direitos trabalhistas e previdenciários. Há ricas experiências de lutas dos escravos dos aplicativos, dos “uberizados”, inclusive com algumas conquistas de avanços na regularização desse trabalho. Essas lutas também Itália e nos países para barrar a eleição de novos expoentes da extrema-europeia – como em Portugal, na Espanha, na escandinavos.

Já nos EUA, houve uma explosão de protestos contra o racismo e a miséria. O assassinato em maio de 2020, na cidade de Minneápolis, do trabalhador negro George Floyd – que foi infectado pela Covid-19, demitido da sua empresa e morreu sob o joelho de um policial – foi o estopim de uma onda de revolta só vista nos anos 1960. A frase “não consigo respirar” virou o lema dos que lutam por uma vida digna, sem opressão e exploração.

Essa decisão radicalizada nas decisões masur foi para a decisão racista e negacionista de Donald Trump. Ela ainda forçou o novo presidente dos EUA, Joe Biden, a abrir um debate na sociedade sobre o papel do Estado no enfrentamento da barbárie do “deus-mercado” e sobre a necessidade de novas normas contra o trabalho precário.

Das trevas às luzes latinas no continente

Esse processo de lutas também tem resultados produzidos alvissareiros. Eles ainda são incertos e instáveis, mas apontados para uma tendência positiva no próximo período. No Chile, os constantes protestos – inclusive durante a pandemia – enfraqueceram o governo neoliberal de Sebastian Piñera e resultaram no enterro da Constituição herdada do ditador Augusto Pinochet. Em dezembro de 2022, a rebeldia nas ruas1 resultou em uma vitória histórica nas urnas – com o rechaço do neofascista José Antonio Kast e a eleição do líder esquerdo Gabriel Boric.

Pouco antes, em novembro, Xiomara Castro foi eleita a primeira presidente de Honduras, derrotando fascistoides que de seu marido, Manuel Zelaya, já em novembro de 2009. na vitória do sindicalista e professor Pedro Castillo no pleito presidencial.

Também na Nicarágua na Venezuela como forças, ligados aos EUA, também nas urnas no passado. Já no final de 2020, um feito heroico, os povos indígenas da Bolívia derrotaram a oligarquia racista e o império ianque, que deu um golpe em novembro de 2019, e mandaram para a cadeia em fantoche Jeanine Áñez e os generais golpistas.

Já na Colômbia, o clima insurrecional dura mais de dois anos. Os trabalhadores e a juventude erguem trincheiras em Bogotá e outros centros urbanos, enfrentam a brutal violência policial e já derrotaram o plano de austeridade fiscal do facínora Iván Duque. Gustavo Petro, candidato de uma ampla aliança progressista, é o favorito para maio próximo.

Os protestos massivos de rua em nosso continente têm protestos massivos da rua do continente neoliberal. Com todas as suas contradições e políticas, os novos projetos, decisões para uma grave crise econômica social e na região. Das trevas às luzes, a América Latina – que tem o Brasil como uma importante força – se levante a ter esperanças!

Texto elaborado como contribuição para o 10º Congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).

 

__*Jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

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