O general Eduardo Villas Bôas, que confirmou em livro que o Exército enquanto instituição conspirou criminosamente para assaltar o poder, ainda assistirá a traição do capitão Bolsonaro? Para sobreviver no laranjal, o presidente depende hoje da turma de profissionais do Centrão, que não esconde mais sua cobiça pelos “carguinhos” dos milicos.
Por Altamiro Borges*
Em matéria intitulada “Centrão mira espaço ocupado por militares”, o jornal Estadão revelou na segunda-feira (8) que a vitória do bloco parlamentar fisiológico nas eleições da Câmara Federal e Senado impulsionou o “apetite por espaços no governo do presidente Jair Bolsonaro, que agora terá um novo esteio para blindar seu mandato”.

Segundo o jornal, “o bloco de partidos da chamada ‘velha política’, atacada por Bolsonaro na campanha eleitoral, busca dividir protagonismo com os generais na Esplanada dos Ministérios e voltar aos cargos de seus antigos redutos na máquina pública”. A cobiça é grande e a listinha de exigências não para de crescer.

A listinha dos ministérios
“O grupo mira as pastas da Saúde, chefiada pelo general Eduardo Pazuello, e de Minas e Energia, comandada pelo almirante Bento Albuquerque, e setores da Infraestrutura, de Tarcísio Gomes. Esses ministérios têm órgãos espalhados pelo país, chefiados por militares”, realça o jornal.
O Centrão também estaria de olho na bilionária Itaipu Binacional, presidida pelo general da reserva Joaquim Luna e Silva e ocupada por dezenas de oficiais. Outro alvo é o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), presidido pelo general Antônio Leite dos Santos Filho.
Sabendo do apetite incontrolável do Centrão, Jair Bolsonaro – que hoje é refém e devedor – até andou especulando que iria recrear algumas pastas. Mas a isca não convenceu os “profissas” do bloco. “Quem está correndo atrás de ministério da Cultura, do Esporte e da Pesca?”, desdenhou Ricardo Barros (Progressistas-PR), um dos líderes do Centrão.

Milicos estão constrangidos ou temerosos?

O golpista Estadão até tenta limpar a barra suja dos generais, jurando que “o ingresso do Centrão no primeiro escalão de Bolsonaro constrange os militares”. Será mesmo? Ou o que está incomodando é a possibilidade de perder as boquinhas. Segundo levantamento do Tribunal de Contas da União, os milicos ocupam mais de 6 mil cargos no laranjal de Bolsonaro.

O Centrão quer vários desses cargos para lotear com a sua turma. “Sob anonimato, generais da ativa reconhecem que a chegada do grupo pode reduzir a presença militar, mas lembram que os partidos já ocuparam ‘silenciosamente’ grande parte dos cargos de segundo escalão”. Villas Bôas talvez não esperasse esse infame desfecho. A conferir no que vai dar!

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

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