O mundo é mesmo cheio de contradições e dá muitas voltas. O ainda ministro Luiz Henrique Mandetta – um ex-deputado do DEM que participou da cavalgada golpista contra Dilma Rousseff, que satanizou os cubanos do programa Mais Médicos e que ajudou na eleição do fascista Jair Bolsonaro – agora virou alvo das milícias digitais bolsonaristas. Mesmo após firmar um pacto com o presidente e permanecer na chefia do Ministério da Saúde, a “estrela” que causa tanto ciuminho no “capetão” segue apanhando dos milicianos virtuais.

Por Altamiro Borges*

Segundo reportagem da revista Veja, foi o próprio presidente que “liberou o núcleo ideológico vinculado ao chamado gabinete do ódio para vasculhar o passado de modo a identificar supostos pecados de Mandetta”. Ainda de acordo com a matéria, “o objetivo da ação aloprada é difamar o ministro e criar as condições para que o presidente cumpra a promessa de ‘usar sua caneta’ contra o auxiliar. O foco da ação está no passado das contas eleitorais de Mandetta, mas a turma também procura dentro do próprio governo”.

A ação foi montada antes da reunião ministerial em que o “capetão” foi obrigado a recuar e teve que enfiar sua canetinha no bolso. Mas mesmo com o pacto firmado, sabe-se lá a que custo, as milícias decidiram não dar trégua ao ministro que “está se achando”, como resmungou o ciumento presidente. Acatando as ordens do “capetão”, os jagunços virtuais seguem em campo para difamar Mandetta.

“Queridinho da extrema imprensa”

Pelo WhatsApp, uma fake news espalha que o ministro agiu “de forma silenciosa” para renovar contratos de publicidade de R$ 1 bilhão que “alimentam a mídia contra Bolsonaro”. Outro maluco relincha que “Mandetta virou o ministro queridinho da extrema imprensa, pois o Ministério da Saúde escoa recursos para empresas como Globo e Band”. E ainda tem o bolsonarista alucinado que jura que o ex-deputado do DEM está metido em uma “conspiração com a China, parceiro oculto da imprensa na luta contra Bolsonaro”.

Há também uma postagem “teórica” sobre “estratégia” que argumenta que “Mandetta é do mesmo partido que o Rodrigo Maia, Alcolumbre e Caiado, o DEM. Esse partido está desde o início tentando desestabilizar o Bolsonaro. Portanto, a petulância e arrogância do Mandetta não é ao acaso, é política! Não é atoa [sic] que o Caiado, antes parceiro e baba ovo do Bolsonaro, traiu o presidente. Caiado recebeu proposta da China de compra de terras raras em Goiás, e sabe que com Bolsonaro lá não vai rolar. Caiado é do DEM. Como não é atoa [sic] que o Mandetta tá querendo se assanhar… Mandetta de santo não tem nada e Bolsonaro de bobo não tem nada também. Se tiver que chutar o Mandetta, ele vai chutar”.

Ainda de acordo com a revista Veja, Mandetta até “foi alertado de que o clã bolsonarista vasculhava o seu passado. Ele está em silêncio, trabalhando, mas se cair, não cairá calado”. O ainda ministro da Saúde também sabe que um dos líderes dessa cavalgada virtual é Olavo de Carvalho, o guru intelectual do clã Bolsonaro. Em uma de suas postagens, o filósofo de orifícios exilado na Virginia (EUA) ainda exige do seu pupilo no Palácio do Planalto a exoneração do ministro: “Fora, ministro Punhetta”. Haja malucos!

Os ruralistas e o gado bolsonarista

Em tempo: a milícia digital bolsonarista não difama e irrita apenas o ainda ministro Mandetta. Ela perturba outros setores da direita nativa. Nesta segunda-feira (6), ela lançou a hashtag #BloqueioComercialChinesJa. Os barões do agronegócios, que bancaram e apoiam o escravocrata que ocupa a presidência, devem ter mugido de bronca.

Afinal, a China é quem garante o lucro dos ruralistas. Em 2019, o Brasil exportou para a China o equivalente a US$ 62,87 bilhões. A soja foi o produto mais vendido – US$ 20,5 bilhões. Carne bovina, com vendas de US$ 2,68 bilhões, e frango (1,23 bilhão), também estão no topo das vendas.

O gado digital bolsonarista é mesmo muito idiota!

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

 

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