Temendo a abertura de processo de impeachment e entraves para a sua pauta fascistoide no Congresso Nacional, Jair Bolsonaro abriu as torneiras dos cofres públicos e já liberou R$ 3 bilhões para os parlamentares. O esforço maior do governo é para garantir a vitória já no primeiro turno de Arthur Lira (PP-AL) na eleição para a presidência da Câmara Federal, em 1º de fevereiro.

Por Altamiro Borges*

A denúncia sobre o descarado “balcão de negócios” foi publicada pelo Estadão nesta sexta-feira (29). O jornal “teve aceso a planilha interna de controle de verbas, até então sigilosa, com os nomes dos parlamentares contemplados com os recursos ‘extras’, que vão além dos que eles já têm direito de indicar”. A lista inclui 250 deputados federais e 35 senadores.

General Ramos comanda liberação da grana

Segundo o jornalão, “a oferta de recursos foi feita no gabinete do ministro Luiz Eduardo Ramos. A Secretaria de Governo, que o general comanda, virou o ‘QG’ das candidaturas dos governistas Arthur Lira (Progressistas-AL), que disputa o comando da Câmara Federal, e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que concorre no Senado”.

Do seu jeito abestalhado, o “capetão” não esconde de ninguém seu desespero com essas disputas. Na quarta-feira (27), durante uma solenidade oficial, Jair Bolsonaro afirmou descaradamente que vai “participar e influir na presidência da Câmara” – “se Deus quiser”. Além de verbas, o governo também tem oferecido cargos aos que prometerem voto nos governistas.

“Dos 221 deputados que já declararam apoio a Arthur Lira, conforme o placar do Estadão, 131 nomes estão na planilha do governo. Ao todo, 41 dos parlamentares estiveram em ao menos uma reunião no Planalto com Ramos desde dezembro, quando começaram as campanhas nas Casas”, relata o jornal.

Uma planilha informal e sem timbre

Ainda segundo a denúncia, “a planilha, informal e sem timbre, inclui repasses de recursos do Orçamento da União que não são rastreáveis por mecanismos públicos de transparência. São os chamados ‘recursos extraorçamentários’, no linguajar do Congresso. Neste tipo de negociação, os valores são repassados a prefeitos indicados por deputados ou senadores sem que o nome do político fique carimbado, como ocorre na emenda parlamentar tradicional”.

O próprio Arthur Lira, como líder do Progressistas, garfou R$ 109,5 milhões para distribuir a projetos indicados por seus colegas de partido. Ele repassou outros R$ 5 milhões para obras de pavimentação e drenagem em Barra de São Miguel (AL), onde seu pai, Benedito Lira, é prefeito.

Procurado pelo jornal Estadão, o general Luiz Eduardo Ramos jurou inocência: “Não está havendo nenhuma conversa relativa a negociação de voto. Seria até ofensivo, de minha parte, negociar voto em troca de cargos e emendas”. Será que alguém acredita nos militares, já tão desacreditados e desgastados?

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

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