Flávio “Rachadinha”, como é apelidado carinhosamente o filhote 01 do presidente Bolsonaro, segue no alvo. O procurador-geral de Justiça do RJ, Eduardo Gussem, denunciou ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado o atual senador, o ex-faz-tudo Fabrício Queiroz e outros 14 assessores por “rachadinhas” na Assembleia Legislativo do Rio de Janeiro (Alerj).

Por Altamiro Borges*

Segundo o jornal O Globo, “na denúncia de cerca de 300 páginas, Flávio Bolsonaro é apontado como líder da organização criminosa e Queiroz como o operador do esquema de corrupção… Ambos foram acusados pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa”.

A denúncia foi oferecida à Justiça do Rio de Janeiro em 19 de outubro. O relator do caso é o desembargador Milton Fernandes, que estava em férias. Agora, Flávio Rachadinha será notificado para oferecer resposta em 15 dias. Com a notificação, serão entregues aos acusados cópias da denúncia e do despacho do relator.

Movimentação ‘atípica’ de R$ 1,2 milhão

A investigação do MP-RJ teve início em julho de 2018, depois que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz. Havia transferências para aspones e para a mulher e as duas filhas do operador e ex-militar.

Com o avanço das investigações, após a quebra de sigilo bancário e fiscal de 106 pessoas e empresas, o MP verificou provas de um esquema no qual assessores eram nomeados e devolviam a maior parte dos salários a Fabrício Queiroz. Muitos eram “funcionários fantasmas” na Alerj.

O Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) do MP-RJ apontou nos autos que 13 ex-assessores depositaram ao longo dos 11 anos R$ 2,06 milhões na conta do ex-faz-tudo do clã Bolsonaro (69% do valor em dinheiro vivo). Além disso, a quadrilha sacou R$ 2,9 milhões em espécie no mesmo período.

“Depois, segundo o MP, o dinheiro era lavado e retornado para Flávio. A partir dos dados das quebras de sigilo bancário e fiscal, os promotores apontam que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) usou, pelo menos, R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo do esquema”, enfatiza o jornal O Globo.

Chocolate, imóveis e Fernando de Noronha

Uma loja de chocolate do filhote do presidente recebeu R$ 1,6 milhão em espécie e de “recursos ilícitos inseridos artificialmente no patrimônio da empresa”, segundo o MP-RJ. “Já o dinheiro em espécie usado nas transações imobiliárias dá um total de, pelo menos, R$ 892,6 mil”, afirma.

Em junho último, Fabrício Queiroz foi preso na casa do advogado Frederick Wassef, em Atibaia (SP), que era o defensor do senador na investigação até aquele momento. Ele foi levado ao presídio de Bangu (RJ), mas um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantiu-lhe prisão domiciliar.

Na semana passada, a revista Veja já havia noticiado que o desembargador Milton Fernandes iria apresentar a denúncia contra Flávio Rachadinha após seu retorno de férias. O trauma da notícia talvez explique a baita confusão das passagens áreas do senador para Fernando de Noronha neste feriadão de Finados.

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

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