A turma do Centrão já dá como certa a vitória de Arthur Lira (PP-AL), o candidato de Jair Bolsonaro e das milícias de ultradireita, na disputa pela presidência da Câmara Federal, em 1º de fevereiro. Em entrevista à revista Época, o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, disse em tom arrogante que considera “a eleição resolvida”.

Por Altamiro Borges*

Nas contas da velha raposa política, “Arthur já está com mais de 300 votos. Agora temos o apoio do PSL. E tem ainda o DEM que não formalizou apoio ao bloco dele [Baleia Rossi, do MDB). Resta saber se o Baleia vai desistir”. Pode ser jogo de cena do chefão do PP, mas é bom ficar esperto e não subestimar o inimigo – que é ardiloso e conta com inúmeros recursos.

Evangélicos, ruralistas e bancada da bala

Na quinta-feira passada (21), o jornal Estadão estampou no título: “Evangélicos, ruralistas e ‘bancada da bala’ dão vantagem a Lira”. Segundo o levantamento, “candidato do governo Jair Bolsonaro à presidência da Câmara dos Deputados lidera a corrida pelo cargo nas três principais bancadas temáticas da Casa”.

“Com base no placar Estadão, o líder do Centrão tem mais votos declarados do que seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), entre os deputados que integram as bancadas ruralista, evangélica e ‘da bala’. A maior diferença proporcional entre os dois se dá entre os evangélicos. Neste grupo, Arthur Lira soma cem votos declarados enquanto Baleia alcança 21”.

Entre os ruralistas, o quadro é mais dividido. Tanto que Jair Bolsonaro já espinafrou os deputados do agronegócio, afirmando que o campo “nunca teve um tratamento tão justo e honesto como em meu governo”. A cobrança pública inclusive irritou o líder da bancada ruralista, deputado Alceu Moreira. Pelo “placar do Estadão”, a vantagem de Arthur Lira nesse grupo é menor: 106 a 47.

Erro na leitura do quadro de forças é fatal

“Já na chamada ‘bancada da bala’, que reúne deputados que já foram militares, que compuseram equipes da Polícia Civil e que apoiaram majoritariamente a eleição de Bolsonaro em 2018, a diferença de apoio é da ordem de 40% pró-Lira”, garante o jornal. Como se observa, o cenário é favorável ao laranja de Jair Bolsonaro e à sua pauta regressiva e obscurantista na Câmara Federal.

Há quem afirme que essas contas não refletem a realidade. Mas é bom ficar esperto. Erros na leitura da correlação de forças são fatais na luta política. Já gritamos “não vai ter golpe” e eles depuseram Dilma Rousseff; gritamos “Fora Temer” e o traíra não caiu; gritamos “ele não” e o “capetão” foi eleito. É bom não subestimar os “profissas” do Centrão e o jogo pesado e sujo do laranjal bolsonariano.

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

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