Altamiro Borges: Carta de 300 diplomatas detona ‘Beato Araújo’
O chanceler Ernesto Araújo – batizado jocosamente de “Beato Araújo” nas rodas diplomáticas – parece que está para cair. Ninguém mais aguenta o olavete que só obra besteiras e ajudou a transformar o Brasil num pária internacional. Agora é uma carta assinada por mais de 300 diplomatas que detona o ministro aloprado.
Por Altamiro Borges*
Neste sábado (27), o texto foi divulgado acusando a atual política externa do laranjal bolsonariano de causar “graves prejuízos para as relações internacionais e a imagem do Brasil” e pedindo a saída imediata do fanático seguidor do filósofo de orifícios Olavo de Carvalho do comando do estratégico Ministério das Relações Exteriores.
Condutas incompatíveis com a prática diplomática
“Esperamos, com essas reflexões, oferecer elementos para que as necessárias e urgentes mudanças na condução da política externa ganhem maior apoio na sociedade… A crise da Covid-19 tem revelado que equívocos na política externa trazem prejuízos concretos à população”, diz o manifesto.
O texto destaca que, nos últimos dois anos, “avolumaram-se exemplos de condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo com os códigos mais elementares da prática diplomática”. Diante da pandemia, essas condutas ficaram ainda mais nocivas. “Além de problemas mais imediatos, como a falta de vacinas, de insumos ou a proibição da entrada de brasileiros em outros países, acumulam-se danos de longo prazo na credibilidade internacional do país”.
Carta reforça pressão pela queda do olavete
O documento, obtido pela Folha de S.Paulo, é mais um petardo no desgastado chanceler. Na semana passada, em sessão no Senado, ele foi bombardeado e ridiculizado por parlamentares de distintos partidos – inclusive da base governista. Já na Câmara Federal, o presidente Arthur Lira, cacique do Centrão, também pediu a cabeça do ministro. A carta divulgada agora, com a adesão de mais de 300 diplomatas, acelera o movimento pela queda do olavete.
“Entre os autores do manifesto há ao menos dez embaixadores, cargo do topo da carreira do Itamaraty. Eles, porém, não se identificam, porque, se assim fizessem, estariam violando a Lei do Serviço Exterior. O artigo 27 determina que é necessário ‘solicitar, previamente, anuência da autoridade competente para manifestar-se publicamente sobre matéria relacionada com a formulação e execução da política exterior do Brasil’”, explica Patrícia Campos Mello.
Como a jornalista enfatiza na Folha, “Ernesto atravessa sua maior crise desde que assumiu o Itamaraty. Ele está ameaçado de demissão devido a pressões da cúpula do Congresso, de militares, do agronegócio e de grandes empresários”. Ouvidos pela jornalista, vários signatários do texto afirmaram que o sentimento geral é de “vergonha e frustração” com os rumos recentes do Itamaraty.
Ernesto Araújo “ultrapassou todos os limites”
“Um dos idealizadores da carta afirma que, devido à disciplina dos diplomatas e ao senso forte de hierarquia dentro Itamaraty, até agora não havia ocorrido um movimento organizado de resistência, apesar do crescente descontentamento com Ernesto ‘desde os primeiros absurdos da sua gestão’. Segundo esse diplomata, no entanto, a situação nas últimas semanas ‘ultrapassou todos os limites’. Ele cita, como exemplo, o fato de Ernesto Araújo ter tentado deixar o Brasil fora do Covax, mecanismo da OMS para distribuição de vacinas a países em desenvolvimento, por achar que se trata de uma iniciativa globalista”.
As declarações e ações do olavete – “que beiram a irresponsabilidade criminosa”, segundo um diplomata – levaram a publicação da carta. “Ainda de acordo com esse funcionário do Itamaraty, existe um sentimento muito forte de revolta e de impotência, algo que ele diz ouvir todos os dias, de embaixadores no exterior a colegas em Brasília”.
“Por fim, o diplomata relata escutar semanalmente piadas de colegas estrangeiros, porque ‘ninguém leva o Ernesto a sério’. Agora, porém, com a explosão no número de mortes diárias por Covid, ele diz que muitos entenderam não se tratar apenas de ‘um lunático excêntrico’, mas de ‘uma figura nefasta, um criminoso’”.
Será que o olavete “criminoso” finalmente será defecado do laranjal bolsonariano?
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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.
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