Altamiro Borges: Caos da vacina reabre luta pelo impeachment
Na sexta-feira (11), o Brasil atingiu a trágica marca de 180 mil mortos pela Covid-19. É o segundo país no mundo com mais óbitos – atrás apenas dos EUA de Donald Trump, o fascista derrotado. Há sinais de uma nova onda do vírus, mas o genocida Bolsonaro afirma que estamos “no finalzinho” da pandemia.
Por Altamiro Borges*
Além de menosprezar a vida de milhares de brasileiros, o insano ainda arruma tempo – já que não faz nada de útil – e desperdiça recursos públicos para inaugurar uma vitrine com as roupas usadas por ele e pela primeira-dama “Micheque” na posse. Ou o Brasil se livra desse genocida, ou ele mata o Brasil!
A bandeira do impeachment deveria ganhar novamente as ruas! Motivos não faltam – como o uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para defender seu filhote Flávio Rachadinha, ou o relatório da Polícia Federal sobre as milícias digitais bolsonaristas sob comando de Carluxo e Dudu Bananinha.
Clima para deflagrar a campanha amadurece
O motivo mais evidente, porém, é o descaso com a vida dos brasileiros. Após tratar a mortal Covid-19 como “gripezinha” e “histeria da imprensa”, o genocida faz agora campanha contra a vacinação. Seu “craque em logística”, o incapaz general Eduardo Pazuello, nem sequer comprou seringas e agulhas.
Enquanto o mundo já agenda vacinações em massa, Bolsonaro segue preocupado só com sua famiglia e promove uma guerra das vacinas. As imagens das filas em outros países talvez sirvam para despertar até os bolsominions mais tapados. O fim do auxílio-emergencial também deve gerar maior revolta.
O clima para deflagrar uma campanha pelo impeachment amadurece – infelizmente – na desgraça! As esquerdas partidárias e sociais deveriam tomar a dianteira nessa batalha de vida ou morte. Sobre isso, vale conferir o artigo de Janio de Freitas, um decano do jornalismo que mantém seu espírito crítico.
*****
A conduta na balbúrdia da vacina basta para justificar impeachment de Bolsonaro
Janio de Freitas – Folha de S.Paulo – 12/12/2020
É impossível imaginar o que falta ainda para a única providência que salve vidas – quantas, senão muitos milhares? – da sanha mortífera de Jair Bolsonaro.
Mas não é preciso imaginar a indecência da combinação de “elites” e políticos, para ver o que e quem concede liberdade homicida em troca de ganhos.
Pessoas com autoridade formal para o conceito que têm emitido, além de suas respeitabilidades, como o jurista Oscar Vilhena Vieira, o ex-ministro da Justiça e criminalista José Carlos Dias e o médico Celso Ferreira Ramos Filho, presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, entre outros altos quilates, têm qualificado com clareza e destemor a anti-ação de Bolsonaro e seus militares na mortalidade pandêmica.
Crime, criminoso(s), organização familiar criminosa, homicidas, desumanidade – são algumas das palavras e expressões aplicadas ao que é feito contra a vida.
Contra o próprio país, portanto.
A conduta da Presidência e de seus auxiliares na Saúde, na balbúrdia da vacina, basta para justificar o processo de interdição ou de impeachment, sem precisar dos anteriores crimes de responsabilidade e outros cometidos por Bolsonaro e pelo relapso general Eduardo Pazuello.
Nem se sabe mais o número de requerimentos para processo de impeachment apresentados à Câmara. Sobre eles, Rodrigo Maia, presidente da casa, lançou uma sentença sucinta: “Não há agora exame de impeachment nem vai haver depois”.
Nítido abuso de poder, nessa recusa a priori.
É dever do presidente da Câmara o exame de tais requerimentos, daí resultando o envio justificado para arquivamento ou para discussão em comissões técnicas.
Rodrigo Maia jamais explicou sua atitude.
Daí se deduz que não lhe convém fazê-lo, com duas hipóteses preliminares: repele a possível entrega da Presidência ao vice Mourão ou considera a iniciativa inconveniente a eventual candidatura sua a presidente em 2022.
Seja como for, Rodrigo Maia macula sua condução da Câmara, bastante digna em outros aspectos, e se associa à continuidade do desmando igualado ao crime de índole medieval.
Os constituintes construíram um percurso difícil e longo para o processo de impeachment, e que assim desestimulasse sua frequência.
Mas deixaram com um só político o poder de consentir ou não na abertura do processo. Fácil via para o abuso do poder. E sem alternativa para o restante do país, mesmo na dupla calamidade de uma pandemia letal e um governo que a propaga.
Há denúncias protocolares da situação por entidades, não muitas, e por um número também baixo de pessoas tocadas, de algum modo, pelo senso de responsabilidade, a inquietação, a dor.
Movimento para que os genocidas vocacionais sejam enfrentados, nenhum. As camadas sociais que continuam tranquilas com seus rendimentos são, entende-se, as que podem manipular os ânimos públicos.
São também as que têm mais noção do que se passa, mas sem que isso atenue o seu egoísmo e desprezo pelas camadas abaixo. Assim, não há reação ao duplo ataque. Diante de todos os desastres que o corroem, o Brasil parece morto.
Mas nem com esse aspecto, ou essa realidade, precisaria descer tão baixo na imoralidade.
Sobrassem alguns resquícios de decência nas classes que, a rigor, são o poder no Brasil, a descoberta de que a Abin, a abjeta Agência Nacional de Informação, foi mobilizada para ajudar Flávio Bolsonaro no processo criminal da “rachadinha” criaria alguma indignação.
E levaria ao pronto afastamento de todos os beneficiários e comprometidos com esse crime contra a Constituição, as instituições, os trâmites da Justiça e a população em geral.
O general Augusto Heleno Pereira negou a revelação da revista Época. É um velho mentiroso.
Isso está provado desde os anos 90, quando me escreveu uma carta negando sua suspeita ligação com Nicolau dos Santos Neto, o juiz da alta corrução no TRT paulista.
Tive provas documentais para desmenti-lo.
Estava então no Planalto de Fernando Henrique.
Com Bolsonaro, além de desviar a Abin em comum com Alexandre Ramagem, que a dirige, Augusto Heleno já esteve em reuniões com os advogados de Flávio, que é agora quem o desmente.
Ramagem, por sua vez, é o delegado que Bolsonaro quis na direção da Polícia Federal, causando a saída de Sergio Moro do governo.
Fica demonstrado, portanto, pelas figuras de Augusto Heleno e Ramagem no desvio de finalidade da Abin, que Bolsonaro tentou controlar a PF para usá-la na defesa de Flávio, de si mesmo, de Carlos, de Michelle, de Fabrício Queiroz e sua mulher Márcia e demais componentes do grupo.
Se nem essa corrupção institucional levar à retirada de toda a corja, será forçoso reconhecer um finalzinho. Não da pandemia, como disse Bolsonaro. Do Brasil, mesmo.
__
Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.
As opiniões aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do Portal PCdoB