Enquanto o “capetão” Jair Bolsonaro insiste na tática diversionista com o seu piriri verborrágico, o novo coronavírus segue matando milhares de brasileiros. Segundo levantamento do consórcio dos veículos de imprensa divulgado nesta terça-feira (29), o país registrou 1.075 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas.

Por Altamiro Borges*

Desde o começo da pandemia, já são 192.716 mortos. O número assustador de óbitos de terça-feira é o maior registrado em um só dia desde 15 de setembro. O contingente de infectados também é crescente: 7.564.117 brasileiros já tiveram ou têm o coronavírus, com 57.227 desses confirmados no último dia.

Brasil tem 2,4% das seringas e agulhas

E o pior nesse cenário sombrio é que não há perspectivas de melhora. A morte ronda o Brasil. Segundo nota do Estadão, “enquanto diversos países já iniciaram a imunização contra a covid-19, o Ministério da Saúde fracassou na primeira tentativa de comprar seringas e agulhas para a vacinação no Brasil”.

Das 331 milhões de unidades que o governo projetou comprar, o general Eduardo Pazuello, o “craque em logística”, só conseguiu oferta para adquirir 7,9 milhões no pregão eletrônico. “O número corresponde a cerca de 2,4% do total de unidades que a pasta desejava adquirir”, relatou o jornalão nesta terça-feira.

Ainda de acordo com o Estadão, “o Ministério da Saúde terá agora que realizar novo certame ainda sem data definida. A compra de seringas e agulhas costuma ser feita por Estados e municípios. Durante a pandemia, porém, o ministério decidiu centralizar estes insumos”. Mais um crime da macabra dupla Bolsonaro-Pazuello.

A incompetência da dupla Bolsonaro-Pazuello

Além da ausência desses materiais básicos, o Brasil ainda não tem vacina nenhuma autorizada e nem estoque – diferente de várias partes do mundo. A imunização dos brasileiros depende do aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E não foi por falta de alerta sobre a lentidão do laranjal bolsonariano.

A Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) afirma que desde julho advertiu o Ministério da Saúde sobre a necessidade de planejar a compra das vacinas. Agora, o produto está mais escasso e os preços aumentaram. Haja incompetência!

Até parece que o negacionista Jair Bolsonaro, partidário da necropolítica, torce pela morte de mais brasileiros. Diante desse quadro dramático, mais do que nunca é preciso unir todas as forças favoráveis à vida, independentemente de suas diferenças políticas e partidárias, em uma ampla frente em defesa da vacinação já para todos! É urgente aumentar a pressão, com muita criatividade, nessa batalha pela vida.

No início de dezembro, ex-ministros da Saúde de todos os governos pós-redemocratização – inclusive de dois que foram defenestrados do laranjal bolsonariano – divulgaram um manifesto em defesa da vacinação universal. Foi uma iniciativa positiva, mas insuficiente. É preciso fazer mais para salvar vidas no Brasil das trevas!

Reproduzo abaixo o manifesto:

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Vacina para todos já!

A história da ciência brasileira está profundamente ligada ao processo de pesquisa, desenvolvimento e produção de imunobiológicos e vacinas. Entre os países em desenvolvimento, o Brasil é um dos poucos a dispor hoje de uma base produtiva e tecnológica em vacinas. Dois dos maiores produtores mundiais estão no Brasil: o Instituto Butantan (São Paulo) e o Instituto Bio-Manguinhos, na Fundação Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro).

Essa base produtiva e o esforço de ação coordenada do SUS nas três esferas de governo permitiram que o país disponha hoje de um dos melhores e mais abrangentes programas de imunizaçõesdo mundo, capaz de garantir altíssima cobertura vacinal e que tem possibilitado a prevenção e o controle de várias doenças. Exemplos recentes são a vacinação da população brasileira, em 2010, contra o H1N1, quando 100 milhões de pessoas foram imunizadas com vacinas produzidas localmente no Instituto Butantan; a erradicação da rubéola e da síndrome da rubéola congênita, em 2010; e a introdução de novas vacinas, como a anti-HPV, em 2014, que nos próximos anos reduzirá drasticamente a mortalidade por câncer de colo uterino.

Contando com a proteção do SUS, um sistema de saúde de caráter universal e com vários centros de P&D (pesquisa e desenvolvimento) voltados para o campo da vacinologia, o Brasil produz em seus laboratórios a maioria das doses utilizadas pelo país em seu programa nacional de vacinação. Se considerado apenas o ano de 2018, nosso programa de imunizações utilizou mais de 300 milhões de doses de vacinas.

Essa capacidade endógena na produção de imunizantes, que reduz nossa dependência do exterior e garante altas coberturas vacinais, foi construída a partir de uma visão estratégica de distintos governos com parcerias de transferência de tecnologia entre laboratórios públicos e empresas multinacionais do setor farmacêutico.

Inovamos também na nossa capacidade logística, que nos permite dispor de milhares de pontos de vacinação em todo o território nacional e de mobilizar milhares de profissionais plenamente capacitados na organização e execução de campanhas de vacinação em massa.

Infelizmente, todo esse acúmulo de competências está sendo colocado em risco pela desastrada e ineficiente condução do Ministério da Saúde em relação à estratégia brasileira de vacinação da população contra a Covid-19.

O país necessita de um plano sólido, abrangente, que contemple todas as vacinas que consigam registro na Anvisa, sem qualquer tipo de discriminação. E que permita, ao longo do ano de 2021, garantir a vacinação para toda a população brasileira, prevenindo o surgimento de doença grave e suas consequências, reduzindo substancialmente a atual pressão sobre nosso sistema de saúde e garantindo o pleno retorno às atividades econômicas e sociais.

– Alexandre Padilha
– Arthur Chioro
– Barjas Negri
– Humberto Costa
– José Agenor Álvares da Silva
– José Gomes Temporão
– José Serra
– José Saraiva Felipe
– Luiz Henrique Mandetta
– Marcelo Castro
– Nelson Teich

* Ex-ministros da Saúde

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Altamiro Borges* é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e membro do Comitê Central do PCdoB.

As opiniões aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do Portal PCdoB