Alta da Selic pode contribuir com aumento da inflação
Ao aumentar a Selic em meio ponto percentual, para 13,25% ao ano nesta quarta (15), o Comitê de Política Monetária (Copom) levou a taxa básica de juros da economia ao maior patamar desde dezembro de 2016, em um movimento que vem sendo atribuído pelo próprio comitê à alta da inflação. Doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, a economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) Juliane Furno adverte que, contudo, ao invés de conter a carestia, o atual ciclo de elevações na Selic poderá ter efeito adverso.
“A alta dos juros não tem impacto na redução na inflação ou tem impacto muito dirimido porque o que tem causado pressão inflacionária são múltiplos elementos, especialmente de custo, tais como energia, combustíveis e alimentos. Nesse caso, os juros podem ser mais um elemento de pressão de custos, contribuindo para elevação da inflação e não a seu amortecimento”, afirmou a economista ao Portal Vermelho.
Na visão dela, como a decisão do Copom acarreta mais um custo ao setor produtivo, ela reforça a tendência de alta dos preços. “Os juros são um custo. Se aumenta o custo do crédito para uma empresa, ela tenta (para manter margem de lucro) repassar esse custo maior para o preço do serviço ou mercadoria que ela vende. Assim as coisas podem ficar mais caras, justamente, porque os juros são um custo a mais”, explicou.
Apesar de a alta desta quarta ter sido a décima primeira seguida na taxa Selic, a inflação oficial do país, medida pelo IPCA, remanesce no patamar de dois dígitos no acumulado de 12 meses. Ainda de acordo com a economista-chefe do IREE, para além de possivelmente realimentar a inflação de custos, o ciclo de alta de juros pelo Copom terá impacto negativo sobre a economia brasileira. “Se os juros são inócuos para controlar e dirimir esse tipo de inflação, por outro lado eles são expressivos em produzir outros impactos, sobretudo freando a retomada do crescimento econômico, o emprego e o consumo”, previu.
Em nota divulgada logo após a decisão do Copom, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) ressaltou que a taxa básica de juros vem sendo elevada desde março de 2021 e, desde dezembro, a taxa real (descontada a inflação) se encontra em patamar que inibe a atividade econômica. “Este aumento adicional da taxa de juros no momento é desnecessário para o controle da inflação e trará custos adicionais à economia, como queda do consumo, da produção e do emprego”, afirmou, na nota, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.