Alemanha: ‘tomem banho frio’ para atender sanções contra Rússia
O ministro da Economia alemão, o verde Robert Habeck, instou os cidadãos, diante da iminente escassez de gás, a tomarem banho frio e bem como a largarem os carros por bicicletas e fecharem as cortinas ao ligar o aquecimento. Todas essas “medidas” sugeridas pelo ministro Habeck fazem parte do seu esforço para que os alemães se submetam ao veto de Biden ao fornecimento de gás russo ao país.
Segundo sua ‘regra do polegar’, “é sempre possível economizar 10%”. 55% das necessidades de gás da Alemanha são fornecidas pelos russos, que sempre foram fornecedores confiáveis, mesmo no auge da Guerra Fria.
Agora, os reservatórios de gás estão no osso e Berlim, sob ordens de Washington, brecou o gasoduto Nord Stream 2 e decretou as “sanções do inferno” contra a Rússia, que desencadeou uma operação militar especial para proteger a população russófona do Donbass, ameaçada de limpeza étnica pelo regime de Kiev, e para desnazificar a Ucrânia e barrar sua anexação pela Otan.
Em entrevista ao grupo de mídia Funke, Habeck chamou cada alemão a contribuir “para reduzir a dependência da nação da energia russa”, ao mesmo tempo em que exaltou o “grande projeto conjunto”, com o caro e poluente gás de fracking norte-americano.
“Ficará mais fácil na carteira e irritará Putin”, asseverou o ministro, acrescentando que “protegerá o clima acima de tudo”.
Fechem as cortinas
Nas contas de chegar de Habeck, “fechar as cortinas enquanto aquece o apartamento no final da tarde economizará até 5% do consumo”. “Diminuir a temperatura ambiente em 1 grau permitiria economizar outros 6%”,acrescentou, apontando que embora “possa não ser tão confortável, você não vai ainda congelar”. Trocar o carro pela bicicleta “não apenas nos domingos” e retomar o home office.
Leitores do principal jornal alemão, Die Zeit, reagiram indignados aos desinteressados conselhos do ministro amigo do GNL americano.
“‘Isso deixará Putin zangado’.” Inferno! Agora, se estou de mau humor, desligo o aquecimento para que o Kremlin sinta, e tiro a pressão. Senhor, os Estados Unidos colocaram a economia europeia em jogo por causa de algum tipo de aventura imperialista, e nós, os cidadãos, devemos nos adaptar a isso!”, exasperou-se o leitor Katev.
“Ótimo conselho, senhor ministro! Cortinas? Quem as pendura hoje, exceto os moradores da cidade? A necessidade de aquecer menos as casas decorre do fato de que o preço do gás está subindo há vários meses e agora é três vezes mais alto do que em Abril de 2021. A propósito, aconselho você a pedir às pessoas que “usem menos água quente”, zombou Nogll.
“Citação:” Se você aquecer o apartamento e fechar as cortinas à noite, poderá economizar até 5% de energia. “Uau! Incrível! É necessário introduzir imediatamente cortinas suspensas obrigatórias nas janelas. O limite de velocidade nas estradas não é nada comparado a isso”, brincou soisrecht.
“Quando volto do trabalho para casa às 23h, fico surpreso com a rica iluminação no centro da cidade. Os anúncios estão acesos. As vitrines estão bem iluminadas. Mas você não pode economizar lá?”, indagou Bubgebube.
Reservas de gás
Mas Habech não é o único em Berlim que sabe o caminho das pedras para atravessar o inverno sob gás rarefeito. “Todo mundo está perguntando: ‘o que posso fazer’”, comentou Margrethe Vestager, Comissária Europeia para a Concorrência. “Você pode fazer duas coisas,” ela recomendou. “Controle o seu próprio chuveiro e o do seu filho adolescente, e quando você desliga a água, você diz: ‘toma, Putin’.”
“Devemos fechar a válvula de dinheiro de Putin”, exigiu Peter Hauck, chefe do departamento agrícola do estado alemão de Baden-Württemberg. “Isso significa que também precisamos fechar as torneiras de gás e petróleo para que a liberdade na Europa tenha uma chance. Você pode suportar 15 graus [Celsius] no inverno em um suéter. Ninguém morre com isso!”, asseverou.
Já o chefe da Agência Federal de Redes da Alemanha, Klaus Mueller, em entrevista à n-tv, aconselhou os alemães a pensar duas vezes antes de tomar um banho quente se as autoridades decidirem colocar um embargo ao gás natural russo.
“Vocês terão que se perguntar se realmente precisam tomar banho quente sete dias por semana – com aquecimento a gás”, disse Segundo Mueller, se a Alemanha cortar o fornecimento da Rússia, as reservas de gás no país durarão até o final do verão ou início do outono, o mais tardar.
“Gás russo é a base da indústria alemã”, diz Basf
Na verdade, os problemas decorrentes da histeria contra a ação russa para desnazificar a Ucrânia vão bem além dos banhos frios ou de apelar para um suéter mais grosso.
Martin Brudermuller, executivo-chefe da BASF, o maior produtor de produtos químicos do mundo, advertiu que “o fornecimento de gás russo tem sido até agora a base para a competitividade da indústria alemã”.
Ele também alertou que caso a Europa opte por entregas de gás liquefeito dos EUA isso desencadeará, na forma de preços de energia significativamente mais altos, um “desafio para a competitividade da indústria alemã e europeia”.
A última escalada de sanções se seguiu à provocação executada na pequena cidade de Bucha,em que uma caça às bruxas e aos ‘colaboracionistas russos’ pelo Batalhão Azov, dois dias depois da retirada das tropas russas, foi mostrada nas redes sociais e mídia no melhor estilo ‘Capacetes Brancos’ e, sem investigação, sem testemunhos e sem julgamento, a Rússia foi imediatamente declarada “culpada”.
Estocando lenha
Por sua vez o vice-primeiro-ministro russo Alexander Novak comentou como na Alemanha as pessoas “começaram a estocar massivamente lenha”. “Hoje, em uma situação de crise, os europeus são obrigados a recorrer às fontes de energia mais obsoletas. No contexto do rápido aumento dos preços do gás natural, os alemães começaram a estocar massivamente lenha”
A questão também mereceu um comentário do presidente Vladimir Putin, sob quão absurdas as coisas estavam se tornando. “É uma espécie de populismo ao contrário – as pessoas são instadas a comer menos, se vestir mais quentes para economizar no aquecimento, desistir de viajar – tudo isso supostamente em benefício da … solidariedade abstrata do Atlântico Norte.”
Putin enfatizou que tal ‘solidariedade’ tem o potencial de “empurrar a economia mundial para a crise”, até mesmo fazendo com que alguns dos países mais pobres passem fome – o que seria uma consequência do grande peso que a Rússia e a Ucrânia têm em termos de exportação de trigo e de fertilizantes.
Enquanto isso, o ministro alemão clamava por “mais armas, mais armas” para Kiev, acrescentando que Berlim não podia deixar a Ucrânia “sozinha”. “A Ucrânia não deve perder; Putin não pode vencer”, insistiu, mas observou ser necessário evitar fazer a Alemanha de alvo, com a política sendo de “entregar tudo que seja possível”, excluindo “tanques e jatos”.