O Partido Social-Democrata (SPD) deve vencer, por pouquíssima margem, as eleições na Alemanha. Com 25,7% dos votos totais, a legenda superou a União Cristã Democrata (CDU), partido de Angela Merkel, que teve 24,1%. A diferença minúscula entre as siglas, de apenas 1,6 ponto percentual, deixa o futuro político da Alemanha sob impasse.

O resultado final deve ser divulgado somente durante a semana. O sistema eleitoral alemão é diferente do brasileiro e cada eleitor tem direito a dois votos: o primeiro, chamado de mandato direto, escolhe um candidato do distrito onde esse eleitor mora. O segundo voto é dado a um partido, que apresenta uma lista de candidatos.

Liderados por Olaf Scholz, os sociais-democratas tiveram uma significativa melhora de desempenho em relação às últimas eleições – há quatro anos, o partido teve cinco pontos percentuais a menos de votos. Segundo Scholz, os alemães votaram no SPD porque querem uma mudança de governo.

Como o resultado, o partido terá mais força para conseguir formar uma coalizão de maioria no Bundestag, o Parlamento alemão – mas só se saberá quem será de fato o primeiro-ministro depois das negociações. Na sede do SPD, as pessoas já começaram a comemorar no domingo (26), quando foram divulgados os resultados das pesquisas de boca de urna. Os primeiros boletins oficiais saíram nesta segunda (27).

Metade do Bundestag é escolhido pelo mandato direto; a outra, pelos votos nas listas. Se um partido não atinge os 5% no segundo voto ou não obtém ao menos três deputados no primeiro, não perde os mandatos, mas deixa de ser considerado um bloco partidário e perde força no Parlamento.

A CDU, o partido de Merkel, teve o seu pior desempenho nas urnas. Em 2017, a CDU teve 9 pontos percentuais a mais de votos. No começo da campanha, Armin Laschet, o candidato da CDU, era tido como favorito. Ele foi à sede do partido algumas horas após o fim da votação e disse que ainda não era claro qual era o resultado. Laschet também avisou que vai tentar negociar um governo mesmo se o seu partido tiver ficado em segundo lugar.

Quem é Scholz

O líder do partido que teve mais votos é o atual ministro da Economia e vice-chanceler da Alemanha (o SPD faz parte da coligação que sustenta o governo de Merkel). Scholz é advogado, especializado em leis trabalhistas, tem 63 anos, é membro do SPD desde 1975 e foi eleito pela primeira vez para o Bundestag, o Parlamento alemão, em 1998.

Ele também já foi ministro do Trabalho e prefeito de Hamburgo. Considerado extremamente pragmático, já foi alvo de piada ao ser apelidado de “Scholzomat”, uma brincadeira com seu nome e a palavra “automat”, sugerindo que seria mais próximo de uma máquina do que de um ser humano.

Como ninguém conquistou maioria no Parlamento alemão, nas próximas semanas haverá debates entre os principais partidos alemães para formação de uma coalizão de governo. As negociações podem durar meses —um novo governo pode se formar só no Natal. Até lá, a chanceler Angela Merkel continuará governando o país.

Esquerda

O Die Linke, maior partido da esquerda alemã, obteve seu pior resultado desde 2002. A agremiação deve terminar a apuração com 5% dos votos, no limite da cláusula de barreira, e três assentos de mandatos diretos, garantindo seu status como bloco partidário no Bundestag, o Parlamento alemão. Se não tivesse passado pela cláusula de barreira, os assentos que seriam destinados ao Die Linke (com exceção dos de mandato direto) seriam redistribuídos aos outros partidos.

Nas últimas eleições, em 2017, quando teve 9,2% do segundo voto, o partido conseguiu cinco mandatos diretos (de primeiro voto), cumprindo, assim, a cláusula de barreira. O Die Linke é forte em regiões ao leste da Alemanha, principalmente na antiga Berlim Oriental. Neste domingo, o partido também ganhou dois distritos do leste de Berlim e um (por pouco) no sul de Leipzig, cidade a 150 km da capital alemã.

E isso não é à toa: o partido é herdeiro do SED (Partido Socialista Unificado da Alemanha), que governou a Alemanha Oriental durante praticamente toda a existência do país (1949-1990). A força de Die Linke no leste alemão fica mais visível quando se observam os mapas de votação: normalmente, nesta região, o partido ultrapassa os dois dígitos nos votos. O problema é que, no oeste (na antiga Alemanha Ocidental), Die Linke tem baixíssima quantidade de votos.

Com informações do G1 e do Opera Mundi