Alemanha repudia ameaças dos EUA de novas sanções ao Nord Sream 2
A Alemanha reiterou seu repúdio às sanções dos EUA contra o gasoduto russo-alemão Nord Stream 2, em meio às notícias de que um grupo de senadores norte-americanos está buscando enfiar novas punições no meio do orçamento do Pentágono para o próximo ano, que deverá ser votado em breve. Dos combustíveis fósseis, o gás natural é o ecologicamente menos poluente.
“Rejeitamos fundamentalmente o uso de sanções contra aliados, por isso não devia haver nada de surpreendente aqui”, disse o porta-voz da diplomacia alemã, Christopher Burger. Ele relatou, também, que Berlim vem realizando contatos “regulares” e produtivos com as autoridades dos EUA.
A discussão voltou à tona pela publicação, no portal norte-americano Axios, no domingo (28), de documento confidencial atribuído à Embaixada da Alemanha em Washington e enviado ao Congresso dos EUA, em que o atual governo alemão pede aos legisladores norte-americanos que não imponham sanções contra o Nord Stream 2, observando que o gasoduto não representa uma ameaça para a Ucrânia e muito menos aos Estados Unidos.
O gasoduto, apesar das sanções decretadas contra empresas russas e ameaça às europeias, já está concluído e em fase de certificação pelas autoridades de energia da Alemanha e da União Europeia.
A gritaria por mais sanções contra o gasoduto russo-alemão também tem como pano de fundo as provocações que vêm sendo realizadas por EUA/Otan nas fronteiras da Rússia, sob o pretexto da “ameaça russa” aos países bálticos e à Ucrânia, e com a entrada dos verdes no novo governo de coalizão ‘semáforo’ (vermelho-amarelo-verde), que são ferozmente anti-Nord Stream 2 e anti-Rússia.
Historicamente, os social-democratas alemães, e o novo primeiro-ministro será um deles, Olaf Scholz, têm atuado a favor do gasoduto, desde o primeiro, inaugurado há uma década, com o ex-primeiro-ministro Gerhard Schroeder encabeçando a empresa conjunta.
O documento mostrado pelo Axios aparentemente é voltado a reafirmar que Berlim mantinha seu compromisso de julho com Biden caso os russos usassem a energia “como arma”, mas registrando que a alta do preço do gás nos meses recentes “é um fenômeno global e não pode ser atribuído exclusivamente à Rússia”. Diz ainda, que a Rússia estaria respeitando estritamente os acordos de fornecimento existentes.
Na semana passada o Departamento de Estado dos EUA informou o Congresso norte-americano que impôs novas sanções a uma embarcação e uma “entidade ligada à Rússia”, chamada Transadria Ltd, relacionada com o projeto Nord Stream 2. O que foi considerado por senadores como o republicano Ted Cruz manifestação da “inconsistência e fraqueza” na política externa, que causa “danos incomensuráveis à segurança nacional dos Estados Unidos e de nossos aliados”.
O Nord Stream 2 é um gasoduto gêmeo de 1.200 quilômetros de extensão, que carreará até 55 bilhões de metros cúbicos de gás por ano da Rússia para a Alemanha, através do Báltico. Um investimento de 12 bilhões de euros, bancado pela gigante estatal russa Gazprom e por cinco empresas europeias: OMV (austríaca), Wintershall (do grupo Basf, alemã), Engie (francesa), Uniper (alemã) e Shell (anglo-holandesa).
Tendo decidido abrir mão da energia nuclear e do carvão, como parte de seu plano de energia limpa, a Alemanha precisa do gás russo barato e de fornecimento seguro para o bom andamento de seu projeto de desenvolvimento nas próximas décadas.
Enquanto Washington diz que o gasoduto russo-alemão é uma “grave ameaça à segurança energética da Europa e à segurança nacional americana”, em Berlim ninguém acredita nisso: “eles só querem nos vender seu gás de fracking”, registrou o portal Politico.
A Rússia tem denunciado o desejo de Washington de “impor à Europa” o mais caro o gás liquefeito dos EUA, obtido a partir do poluidor fracking, para “retardar o desenvolvimento” da economia europeia e “minar sua capacidade de competir com os EUA nos mercados mundiais”.
Já quanto às mais recentes ameaças de sanções, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse não considerar o tema “prioritário nos nossos contatos bilaterais”, acrescentando que a fase atual do gasoduto é “de espera que o regulador cumpra suas ações de certificação da infraestrutura instalada”.
“É muito importante, claro, que os Estados Unidos não exerçam qualquer tipo de pressão relativamente à realização da certificação em curso deste projeto”, acrescentou Peskov.
Em meados de outubro, no fórum da Semana da Energia Russa, o presidente Vladimir Putin chamou as acusações de que a alta do preço do gás fora provocada por Moscou de “tagarelice com motivação política”. Ele lembrou que a Rússia está cumprindo integralmente suas obrigações contratuais de fornecimento de energia para a Europa – que são de longo prazo -, enquanto Bruxelas apostou no mercado à vista e os especuladores fizeram a festa.
“Mesmo durante os períodos mais difíceis da Guerra Fria, a Rússia regularmente, de forma contínua, cumprindo integralmente suas obrigações contratuais, forneceu gás para a Europa”, frisou Putin.
Ele observou ainda que a Gazprom aumentou o fornecimento de gás à Europa em cerca de 10% e, levando em consideração o GNL, o fornecimento de gás à Europa aumentou 15%.
“Se formos solicitados a aumentar mais, estamos prontos para aumentar mais. Aumentamos tanto quanto nossos parceiros nos pedem. Não existe uma recusa única. Nenhuma”, completou o presidente russo.