Alemanha: Partido de Merkel sofre derrotas em dois Estados
A União Democrata Cristã (CDU), o partido da primeira-ministra Angela Merkel, registrou derrotas significativas em duas eleições regionais neste domingo (14), assinalou a Deutsche Welle. São os piores resultados da história do partido em Baden-Württemberg e na Renânia-Palatinado.
Analistas creditaram o resultado às crescentes críticas sobre a lentidão na distribuição das vacinas na Alemanha, a que se somou o escândalo de corrupção na compra de máscaras envolvendo parlamentares do CDU.
Até o momento, apenas 7,5% dos alemães receberam uma dose da vacina. O país registrou mais 6.604 casos de infecção por Covid-19 e 47 mortes nas últimas 24 horas, segundo o Instituto Robert Koch (RKI), responsável pela prevenção e controle de doenças na Alemanha. Na segunda-feira anterior, tinham sido 5.011 infecções e 34 mortes. Em uma semana, o contágio por 100 mil habitantes subiu de 68 para 82,2. A pandemia já causou 73.418 mortos e 2.575.849 contágios.
Na primeira onda, a Alemanha teve um comportamento considerado acima da média na Europa diante da pandemia, mas as coisas não se saíram tão bem depois e a vacinação tem andado a passos de cágado.
O atual líder da CDU, Armin Laschet, que pretende nas eleições gerais de 26 de setembro vir a substituir Merkel, que irá se aposentar, relacionou o desempenho eleitoral “decepcionante” do partido nos dois Estados “à gestão da crise” da pandemia da Covid-19, acrescentando que “é preciso melhorar”.
Seu oponente ao posto na “União”, como é popularmente chamada a aliança conservadora alemã, Markus Löder, governador da Baviera, admitiu que “não é mais 100% certo” a vitória em setembro e chamou o resultado de “sinal de alarme”.
Outro dado importante das duas eleições regionais é o enfraquecimento do partido xenófobo e negacionista Alternativa pela Alemanha (AfD). Em Baden-Württemberg, sua votação caiu de 15,1% em 2016 para 9,7%. Na Renânia-Palatinado, de 12,6% para 8,3%.
Projeções iniciais apontam que a CDU perdeu, respectivamente, 2,9 pontos percentuais e 4,1 pontos percentuais em eleições que tiveram um número recorde de cédulas pelo correio. Na reta final, pesou também o escândalo da propina na compra de máscaras faciais e renúncia ao mandato do deputado federal da CDU pelo Estado de Baden-Württemberg, Nikolas Löbel, que embolsou 250 mil euros como ‘consultor’ entre uma importadora e duas empresas alemãs.
No Estado de Baden-Württemberg, a CDU caiu de 27% em 2016 para 24,1. Os verdes, que governam o Estado em coalizão com a CDU, deverão ficar com 32,6% dos votos, acima dos 30,3% de 2016, o que reflete a boa avaliação do governador Winfried Kretschmann.
Tal desempenho colocou em risco a continuidade dessa coalizão, já que, com o avanço eleitoral do Partido Liberal Democrático, de 8,3% para 10,5% no pleito de domingo, e dado o peso dos social-democratas no Estado, os verdes ficam com mais alternativas para a formação de governo.
A derrota na Renânia-Palatinado foi considerada ainda mais dura. O CDU recuou de 31,8% em 2016, para 27,7% dos votos no domingo. A CDU não fazia parte da coalizão que governa o Estado e, com esse resultado, está afastada qualquer chance disso.
No Estado, o Partido Social-Democrata (SPD) está no poder desde 2013, e o atual governo de coalizão inclui os verdes e os liberal-democráticos. Segundo as agências de notícias, a social-democrata Malu Dreyer deverá ser reconduzida à chefia do executivo. O SPD teve 35,7% dos votos, um pouco abaixo dos 36,2% de 2016.
Um resultado reconfortante para o SPD, considerando que, em nível nacional, as pesquisas só lhe dão 15% nas eleições de 26 de setembro, atrás da CDU e dos verdes. Este ano, seis Estados devem renovar seus parlamentos regionais e a Alemanha toda irá às urnas para escolher um novo Parlamento nacional e chefe de governo.
Escândalos de propina também atingem deputados da CDU nos Estados da Baviera e da Turíngia. Georg Nüsslein foi acusado de receber mais de 600 mil euros para intermediar a venda de máscaras contra covid-19 feita para dois ministérios e o governo da Baviera. O deputado Mark Hauptamann renunciou após vazamento de que recebeu
dinheiro do governo do Azerbaijão via anúncio de promoção de turismo num pequeno jornal de propriedade do político.
São variadas as reações a essa situação de pato manco que começa a se esboçar na CDU. Pesquisas em Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado apontaram que apenas um terço dos eleitores locais estavam satisfeitos com a forma que a pandemia vem sendo combatida – e a maioria atribuiu a culpa ao governo federal, e não aos seus respectivos governos estaduais.
O governador da Baviera, Söder, tem cobrado que a União Europa aja para obter as vacinas russa e chinesas. Analistas avaliaram que o resultado ruim pode enfraquecer as aspirações de Armin Laschet, atual presidente da CDU, que está atrás de Söder nas pesquisas.
No talk show de domingo do canal de tevê ARD, o candidato a primeiro-ministro SPD, Olaf Scholz, ressaltou que “é possível um resultado para a CDU abaixo de 30 por cento, e fico feliz em admitir isso. É também aquele pelo qual me esforço para que tenhamos espaço de manobra suficiente”.
Ou seja, não descartou deixar de lado a atual coalizão CDU-SPD, por outra, com outras forças, que podem ser os verdes e os liberal-democráticos.
Indagado se consideraria a inclusão na coalizão do Partido A Esquerda, a chamada opção vermelha-vermelha-verde, Sholz saiu pela tangente, dizendo que “agora ficou claro que existem várias opções e que estreitar o debate seria completamente absurdo” – embora sem se chocar com a caracterização, pela entrevistadora, de A Esquerda, que agrupa social-democratas de esquerda e comunistas, como um “bicho-papão”.
O ex-ministro e deputado Thomas de Maizière (CDU) tentou abalar o otimismo de Scholz, dizendo que às vezes é tênue a linha “entre a autoconfiança e a arrogância”, registrou a Sputnik em alemão. Mas acabou deixando escapar que “a arrogância de que é claro que o CDU fornecerá o próximo chanceler também acabou”.
Dado o precedente do fim da era Kohl em meio às denúncias de tráfico de influência e de dinheiro na CDU, o atual flagrante de propinas na compra de máscaras faciais, em meio à mais grave crise sanitária em um século e dezenas de milhares de vidas perdidas para a Covid, é ainda mais desmoralizante para a CDU.