Alemanha apoia sanções da Otan e colhe 1º déficit comercial em 31 anos
A Alemanha, maior exportadora europeia, registrou no mês de maio o primeiro déficit comercial em 31 anos, desde 1991. A informação é do Bureau Federal de Estatísticas alemão (Destatis), com as exportações caindo 0,5% em relação ao mês anterior, enquanto as importações aumentaram 2,7% no mesmo período.
Em relação a maio do ano passado, enquanto as exportações aumentaram 11%, as importações tiveram uma alta de 27%. Números que expressam, em última análise, o impacto na Alemanha das sanções contra a Rússia.
Segundo o Destatis, em maio de 2022 as exportações alemães foram de 125,8 bilhões de euros, enquanto as importações foram a 126,7 bilhões de euros. Ou seja, a balança comercial teve um saldo negativo de 900 milhões de euros.
O que se compara com um saldo positivo de 3,1 bilhões de euros um mês antes, em abril. Note-se que, no mesmo período em 2021, o saldo comercial foi positivo em 13,4 bilhões de euros.
Em relação à União Europeia, as exportações alemãs diminuíram 2,8%, para 67,5 bilhões, dos quais 46,8 bilhões referentes à zona do euro. Já as importações da UE aumentaram 2,5%, para 61,8 bilhões de euros – dos quais 42,5 bilhões de euros da zona do euro, onde a alta foi um pouco menor, de 1,6%
As exportações alemãs exceto para a UE, somaram em maio 58,3 bilhões de euros, um acréscimo de 2,3% em relação a abril, enquanto as importações cresceram 2,9%, até 65,0 bilhões. De acordo com o Destatis, as maiores exportações foram para os Estados Unidos, 13,4 bilhões de euros, uma alta de 5,7% em relação a abril. As exportações para a China chegaram a 8,7 bilhões de euros, um aumento de 0,5%.
A maior parcela das importações em maio foram procedentes da China, 18 bilhões, com uma queda de 1,6% em relação a abril. As importações dos EUA totalizaram 7,4 bilhões de euros, o que corresponde a um aumento de 9,7%.
As exportações alemãs para a Rússia caíram em mais da metade (54,6%) em relação a igual período do ano passado. Em maio, com relação a abril, as exportações foram de 1 bilhão de euros – o que representa 29,4% a mais comparado com o mês anterior. As importações desde a Rússia totalizaram 3,3 bilhões, uma redução de 9,8% em relação ao mês anterior.
Naturalmente, esses valores não incluem a exportação de petróleo russo Urals sob nova ‘denominação’, após transferido em alto mar, nem, no caso das importações, do sistema “paralelo” que vem sendo implementado por Moscou com a ajuda de parceiros comerciais.
Central sindical DGB alerta para colapso de “indústrias inteiras”
As principais indústrias alemãs podem entrar em colapso devido a cortes no fornecimento de gás russo, alertou a presidente da central sindical alemã (DGB), Yasmin Fahimi, em entrevista ao jornal Bild am Sonntag.
“Por causa dos gargalos de gás, indústrias inteiras correm o risco de entrar em colapso permanente: alumínio, vidro, indústria química”, disse Fahimi. “Tal colapso teria consequências enormes para toda a economia e empregos na Alemanha”, acrescentou.
A Alemanha entrou no “estágio de alarme” de seu plano de emergência para o gás natural, em decorrência da escassez. O ministro da Economia, Robert Habeck, anunciou que o governo está trabalhando para lidar com os custos crescentes de energia para serviços públicos e custos de energia para empresas e residências, segundo a Bloomberg.
Habeck também comparou o aperto nos suprimentos russos de gás e seus efeitos prejudiciais nas indústrias a um catalisador, que poderia desencadear uma crise “semelhante ao Lehman Brothers” . O estrategista-chefe de câmbio do Deutsche Bank, George Saravelos, disse a clientes dias atrás que estava cada vez mais preocupado com a crise de energia na Alemanha.
Ele apontou que a diminuição do fornecimento de gás para a Alemanha e o aumento resultante nos preços da eletricidade criaram grandes problemas para as indústrias e serviços públicos. Na semana passada, a gigante alemã do gás e energia, Uniper, foi abalroada pela crise e suas ações despencaram.
A Gazprom foi forçada a reduzir o gás injetado no Nord Stream 1 para 40%, após a corporação alemã Siemmens, responsável pela manutenção dos compressores, falhar em devolver os que haviam sido retirados para revisão, que por ser feita em uma fábrica no Canadá, deu margem à proibição, pelo governo de Ottawa, de sua devolução à Rússia, alegando as sanções.
Em consequência, a Uniper teve de comprar o volume em falta do gás no mercado aberto, onde os preços estão em disparada, com uma perda diária de mais de US$ 30 milhões por dia, o que, se anualizado, poderia virar uma perda de US$ 11 bilhões.
Saravelos também disse aos clientes que se os problemas de fornecimento de gás via Nordstream não forem resolvidos nas próximas semanas, isso causaria a uma ampliação da interrupção de energia e suas consequências para o crescimento econômico e, claro, inflação muito mais alta.