Homenagem foi proposta pela vereadora Aladilce Souza (PCdoB).

O técnico do Bahia Roger Machado foi condecorado com a medalha Zumbi dos Palmares na noite de sexta-feira (6) em cerimônia realizada na Câmara Municipal de Salvador. A honraria foi concedida pelo destaque do treinador na luta contra o racismo. A homenagem foi proposta pela vereadora Aladilce Souza (PCdoB).
O técnico Roger Machado foi um dos destaques do Bahia na temporada. O treinador é engajado nas pautas de ações afirmativas defendidas pelo clube. Essa homenagem na Câmara é concedida a pessoas, grupos ou entidades que se destacam no combate ao racismo e intolerância religiosa.
Este ano, durante uma coletiva de imprensa concedida após o empate de 1×1 entre Bahia e Fluminense, no Maracanã, o treinador abordou e se posicionou sobre o racismo estrutural existente no Brasil e no futebol.
Nesta temporada do campeonato brasileiro da série A, apenas dois treinadores eram negros: Roger Machado e Marcão, do Fluminense.
“A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. Nós negamos. “Ah, não fala sobre isso”. Porque não existe racismo no Brasil em cima do mito da democracia racial. Negar e silenciar é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol, é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: “Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui”. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui”, disse o técnico na ocasião.
Durante a cerimônia, o treinador afirmou que “um país que tem na sua população mais de 50% de negros e que proporcionalmente não há representatividade nesse patamar, no mínimo nós devemos questionar por que. Um país que foi criado em cima de um modelo colonial escravocrata repete até hoje, de uma forma mascarada, moderna, os mesmos conceitos que muito subjugaram, maltrataram e aprisionaram negros durante a escravidão”, continuou Roger. “Se nós não dialogarmos com nosso passado e repararmos essas mazelas que tanto nos prejudicam até hoje, dificilmente nós faremos as pazes com ele”, concluiu.
CORAGEM
Autora da homenagem, Aladilce Souza reafirmou a importância da mobilização contra o racismo. “O racismo envergonha, limita e apequena a nossa humanidade”, discursou.
“O futebol é também um espaço político. O racismo também se manifesta e é perverso com jogadores, que na sua maioria são negros”, lembrou a legisladora, que enalteceu a atitude “corajosa” do treinador. “Como Zumbi dos Palmares, Roger se mantém firme na determinação de afirmar que existe racismo no Brasil e precisamos enfrentá-lo”, disse.
A solenidade presidida por Aladilce Souza reuniu diversas personalidades de enfrentamento ao racismo na Bahia. Torcedora do Vitória, a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) valorizou a homenagem ao técnico tricolor. “Isso aqui não é um Ba-Vi, é a afirmação de uma pauta política transformadora. Queria que todos os jogadores, todos os técnicos e dirigentes assumissem esta pauta de combate ao racismo”, declarou Olivia.
Presidente do Olodum, João Jorge exaltou a representatividade de Roger; enquanto que a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, afirmou que o esportista “conseguiu reverberar a luta antirracista”.
O evento contou com apresentação poética do Sarau da Onça, formado por jovens do bairro de Sussuarana, e um minuto de silêncio dedicado às nove vítimas de Paraisópolis (SP) e a estudante quilombola Elitânia Souza da Hora.
Além dos citados, compuseram a mesa do evento a vereadora Marta Rodrigues (PT), que dirigiu a sessão durante o discurso de Aladilce; Thiago César, coordenador do Núcleo de Ações Afirmativas do Bahia; a defensora Fabíola Margherita Pacheco de Menezes, representando a Defensoria Pública da Bahia. O vereador Hélio Ferreira (PCdoB) prestigiou a solenidade, finalizada com o Hino do Bahia cantado em coro.