Destroços do Airbus do voo AF447 são recolhidos no Atlântico em 2009

A Corte de Apelações de Paris decidiu, na quarta-feira (12), levar adiante o processo por homicídio culposo contra as empresas Air France e Airbus por sua responsabilidade na queda do voo AF 447 da Air France, entre Rio de Janeiro e Paris, que vitimou 228 pessoas em 2009.

O parecer reverte uma decisão de 2019 de não processarnenhuma das empresas pelo acidente, no qual os pilotos perderam o controle do jato Airbus A330 depois que o gelo bloqueou seus sensores de velocidade no ar.

As famílias das vítimas aprovaram a decisão agora tomada, mas a Airbus e a Air France disseram que buscariam anulá-la na Cour de Cassation, a mais alta corte de apelação da França.

Em 1º de junho de 2009, um Airbus A330 cobrindo a rota Rio de Janeiro-Paris caiu no Oceano Atlântico. Todos os passageiros e tripulantes – 228 pessoas de 34 nacionalidades – morreram no acidente, o pior da história da companhia aérea francesa.

Os restos do aparelho e as caixas pretas foram encontrados dois anos depois, a quase 4.000 metros de profundidade.

Em 2019, depois de uma década de batalhas judiciais, a procuradoria de Paris solicitou um julgamento apenas contra a Air France, avaliando que a companhia aérea “cometeu negligência e imprudência” no treinamento de seus pilotos.

Mas os juízes de instrução não seguiram a recomendação e resolveram a suspensão geral do processo. Para eles, o acidente se deveu “a uma combinação de elementos que nunca haviam ocorrido e que, portanto, revelaram perigos nunca antes percebidos“.

Familiares das vítimas bem como sindicatos de pilotos recorreram à corte de apelação, e a Procuradoria-Geral foi além das exigências dos promotores de Paris ao solicitar que não só a Air France, mas também a Airbus fosse levada a tribunal.

Investigadores franceses descobriram que a tripulação lidou mal com a situação decorrente da perda de dados de velocidade de sensores bloqueados com gelo e causou um estol (quando o avião arremete diante de perda de sustentação) desnecessário e exagerado, mantendo o nariz da aeronave muito alto e provocando o desequilíbrio que acabou causando a queda da aeronave.

Mas, sem descartar o argumento da “causa direta imputável à tripulação”, a Procuradoria-Geral considerou que é necessário buscar as causas indiretas da queda em erros cometidos pelas duas empresas: a Air France não teria oferecido a formação e as informações necessárias à tripulação e a Airbus teria subestimado a gravidade dos defeitos dos sensores de velocidade (os chamados tubos Pitot) – sujeitos a bloqueio a baixas temperaturas durante o voo – e não teria feito o suficiente para corrigir esses defeitos.

Em meses anteriores à tragédia já haviam sido registrados vários incidentes com origem em falhas nos Pitot, alegaram os investigadores.

Segundo os especialistas, o congelamento em voo dos sensores de velocidade alterou as medições de velocidade do Airbus A330, o que desorientou os pilotos durante a travessia noturna até eles perderem o controle do avião, em menos de quatro minutos.

As partes da aeronave foram localizadas no Brasil, a uma profundidade de 3,9 mil metros, e só foram encontradas por submarinos controlados remotamente. As primeiras investigações iniciaram com Airbus e Air France indiciadas em 2011.

A Airbus SAS é uma empresa filial do conglomerado neerlandês Airbus SE, que é hoje o principal fabricante de aeronaves do mundo.