AGU defende secretário que obstrui extradição de blogueiro fugitivo
A Advocacia Geral da União (AGU) solicitou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que rejeite o pedido de afastamento do secretário nacional de Justiça, Vicente Santini. O despacho foi enviado ao Supremo na última sexta-feira (31).
Santini é apontado como responsável por interferir no processo de extradição do blogueiro Allan dos Santos, apoiador de Jair Bolsonaro, que está foragido nos Estados Unidos.
A prisão preventiva do blogueiro, que é alvo de duas investigações no STF, foi determinada por Moraes em outubro passado. A ordem ocorreu a pedido da Polícia Federal no inquérito das fake news, que apura a atuação na internet de grupos contra a democracia e as instituições.
O pedido para afastar o secretário foi feito pelo líder da Oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Após ouvir denúncias de pressão por parte do Ministério da Justiça para que fossem criados obstáculos à extradição, o senador entrou com a ação na Corte.
Servidores do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI) prestaram depoimento à PF no qual relataram atos irregulares de superiores no ministério com a finalidade de tentar brecar o processo de extradição de Allan dos Santos.
Entre os integrantes da cúpula está Santini, de quem teria partido um ofício pedindo alteração do fluxo do procedimento de extradição do blogueiro.
A fuga de Allan dos Santos do Brasil foi facilitada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho 03 de Jair Bolsonaro. Os obstáculos à sua extradição também tem o DNA do clã.
Além da exoneração da delegada Silvia Amélia Fonseca de Oliveira, que chefiava o setor do Ministério da Justiça responsável por fazer os pedidos de extradição, a cúpula do órgão também mudou o fluxo em casos de extradição. Agora, a atribuição de assinar o pedido foi transferida para o próprio secretário nacional de Justiça.
Ainda perdeu o cargo a assessora internacional do Ministério da Justiça, Georgia Sanchez Diogo. Outra delegada que participou do pedido de extradição exonerada do posto foi Dominique Oliveira. Ela trabalhava na Interpol no Brasil.
Vicente Santini já foi exonerado do governo, em janeiro de 2020, quando ocupava o cargo de secretário-executivo da Casa Civil. O motivo da demissão foi ter usado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar à Índia, enquanto outras autoridades fizeram a mesma viajem em voos regulares. Na época, ele ocupava o cargo de ministro interino, uma vez que o então titular da Pasta, Onyx Lorenzoni, estava de férias.
Amigo íntimo dos filhos do presidente da República, entretanto, ele foi nomeado em fevereiro do ano passado para exercer o cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República. Meses depois, em agosto, foi remanejado para chefiar a Secretaria Nacional de Justiça.