Estudos apontam que o sonido emitido por grilos ativa neuroses entre enviados de Washington

Segundo o jornal The Wall Street Journal, pelo menos cinco famílias vinculadas à embaixada dos EUA em Bogotá, na Colômbia, apresentaram sintomas da assim chamada ‘síndrome de Havana’: vertigem súbita, náusea, dor de cabeça e no pescoço e falta de concentração.

A CNN asseverou que alguns tiveram de ser “retirados” da Colômbia. A maioria dos afetados opera para a CIA e, segundo a mídia, descrevem também um som ‘intenso e doloroso’ nos ouvidos, que atribuem a ondas eletromagnéticas no espectro de microondas.

Desde que o alegado fenômeno teve início durante o governo Trump, já há casos similares supostamente registrados nos próprios Estados Unidos, China, Alemanha, Austrália e Áustria, e na semana passada o presidente Biden assinou uma lei em benefício das “vítimas”.

Uma das descrições dos sintomas, da BBC, diz que “tudo começa com um som, um que as pessoas têm bastante dificuldade de descrever. ‘Zumbido’, ‘ruído metálico’, ‘gritos penetrantes’ são algumas dessas tentativas”.

Ainda: “um zumbido baixo e uma pressão intensa em seu crânio, relata uma mulher; outro sentiu uma pulsação de dor. Há quem não tenha ouvido nenhum som ou sentido calor e pressão. Mas para aqueles que ouviram o som, tapar os ouvidos não fez diferença. Algumas das pessoas que enfrentaram essa síndrome ficaram com tonturas e fadiga durante meses”.

Uma instituição científica norte-americano chegou a atestar a existência dos misteriosos raios de microondas, mas estudo de um grupo especializado de consultores científicos norte-americanos que opera desde a Guerra Fria para assessorar Washington, o Jason Group, que veio à tona, revelou que a explicação se resume a canto de grilos e neurose.

O relatório de 2018, obtido este ano pela Lei de Liberdade de Informação pelo portal Buzzfeed News, originalmente classificado como ‘secreto’, concluiu que os sons que acompanham pelo menos oito dos 21 incidentes originais da ‘síndrome de Havana’ foram “muito provavelmente” causados por insetos e por “efeitos psicogênicos”.

Sem armas de raios

Após a análise de oito gravações de incidentes e de duas gravações de vídeo de celular de uma das vítimas e extensa comparação com gravações de várias espécies de insetos, os cientistas concluíram com “alta confiança” que os sons, naquele caso, vinham de uma espécie de som particularmente alto de grilo, Anurogryllis celerinictus .

A revisão descartou microondas pulsado e ultrassom como culpados, em parte porque o Wi-Fi e outros aparelhos eletrônicos na casa onde os ruídos foram gravados pela primeira vez funcionaram bem durante o incidente.

E calculando a potência necessária para tais ataques, eles concluíram que os ruídos não correspondiam aos gerados pelas frequências de microondas ou ultrassom.

O relatório também descartou outra ‘explicação’, o chamado efeito Frey, um ruído indolor na passagem interna do ouvido. “Consideramos altamente improvável a noção de que a RF pulsada [radiofrequência] imita os sinais acústicos tanto no cérebro (via efeito Frey) quanto na eletrônica”, conclui o relatório.

“Nenhuma fonte única plausível de energia [nem rádio/micro-ondas, nem sônica] pode produzir tanto os sinais de áudio/vídeo gravados quanto o efeito médico relatado. Acreditamos que os sons gravados são de origem mecânica ou biológica, em vez de eletrônica […]. A causa mais provável é o grilo de cauda curta das Índias”, afirmou a pesquisa.

Esses cientistas norte-americanos também observaram que, embora “o sofrimento relatado pelos indivíduos afetados seja real”, a psicologia de massa também pode desencadear lesões neurológicas nas pessoas. “JASON acredita que tais efeitos psicogênicos podem servir para explicar componentes importantes das lesões relatadas”. O relatório acrescentou que, sem dados básicos sobre os diplomatas antes dos sintomas, é improvável determinar sua causa real.

Informe de especialistas da Academia das Ciências de Cuba (ACC) chegou a conclusões análogas, refutando as suposições sobre as “misteriosas armas de energia”.

Os cientistas cubanos concluíram que, possivelmente, alguns funcionários norte-americanos [uma forma educada de se referir aos espias de Washington] se sentiram doentes devido a um conjunto heterogêneo de condições clínicas, algumas pré-existentes à ida para Cuba e outras adquiridas devido a causas simples ou bem conhecidas.

“Muitas doenças prevalecentes na população geral podem explicar a maioria dos sintomas”, afirma o relatório.

O estudo cubano igualmente sublinhou que nenhuma forma de energia conhecida pode causar seletivamente danos cerebrais (com uma precisão espacial semelhante a um raio de laser), acrescentando que as leis da física que regem o som, os ultrassons, os infrasons ou as ondas de radiofrequência (incluindo as microondas) não permitem.

Essa impossibilidade foi também assinalada por estudo realizado pelo professor de Bioengenharia da Universidade da Pensilvânia e estudioso das micro-ondas, Kenneth Foster, que realizou cálculos sobre a quantidade de energia necessária para causar danos ao cérebro, desmontando tal hipótese.

Para o professor de neurologia na Universidade da Califórnia, Robert W Baloh, que estuda há anos sintomas de saúde inexplicáveis, os relatos da suposta síndrome de Havana levaram-no a concluir que eram “uma condição psicogênica em massa”.

Placebo inverso

Ele compara isso à maneira como as pessoas se sentem mal quando são informadas de que comeram comida contaminada, mesmo que não houvesse nada de errado com ela. O inverso do efeito placebo.

“Quando você vê uma doença psicogênica em massa, geralmente há alguma situação subjacente estressante”, diz ele. “No caso de Cuba e da massa de funcionários da embaixada, particularmente os agentes da CIA que foram os primeiros afetados, certamente estavam sob uma situação estressante.”

Em sua opinião, sintomas do dia a dia, como névoa cerebral e tontura, são agrupados — pelos pacientes, pela mídia e pelos profissionais de saúde — como uma síndrome.

“Os sintomas são tão reais quanto quaisquer outros sintomas”, diz ele, argumentando que os indivíduos se tornaram hiperconscientes e temerosos à medida que os relatos se espalharam, especialmente dentro de uma comunidade fechada. Isso, ele acredita, então se tornou contagioso entre outros funcionários norte-americanos atuando no exterior.

Um ex-oficial, segundo a BBC, admitiu que “tivemos um bando de militares no Oriente Médio que alegou ter tido este ataque: descobriram que eles tinham intoxicação alimentar”.

O advogado de vários dos ex-agentes que se sentem vítimas da ‘síndrome de Havana’ – ou seria ‘maldição?’ -, Mark Zaid, reconheceu que pessoas comuns, algumas com problemas de saúde mental, o abordaram alegando terem sofrido ataques de microondas.