África do Sul quer cooperação com BRICS e Cuba para produzir vacina
A África do Sul anunciou na terça-feira (16) a intenção de produzir a sua própria vacina contra a Covid-19, em cooperação com os parceiros dos BRICS, do qual faz parte, e com Cuba. “O governo ouviu o ‘toque de clarim’ feito pelos sul-africanos para acelerar a nossa capacidade para desenvolver e produzir as nossas próprias ferramentas covid-19, incluindo vacinas”, afirmou o ministro da Saúde, Zweli Mkhize, no parlamento, na Cidade do Cabo.
“É por esta razão que estamos em conversações com os nossos parceiros do BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e com o governo de Cuba para colaborar na partilha de tecnologia que nos tornará independentes e autossuficientes no futuro em que haverá mais ameaças de saúde pública”, assinalou.
Mkhize, do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), o partido no poder na África do Sul desde 1994, após o fim do apartheid, adiantou que as autoridades sul-africanas estiveram “em discussões com Cuba para envolvê-los no desenvolvimento da sua vacina candidata”. País do continente africano mais afetado pela pandemia, a África do Sul registrou 1.492.909 casos de infecção pelo corona vírus e 48.094 mortos.
No debate no parlamento, Mkhize também se referiu à “decepcionante” descoberta de que a vacina AstraZeneca tem eficácia muito limitada diante da variante detectada na África do Sul. “No entanto, estamos determinados a não atrasar o nosso objetivo de vacinar em fevereiro”, salientou.
Ele explicou que a África do Sul assegurou a aquisição de nove milhões de vacinas da farmacêutica norte-americana Johnson & Johnson, cujo primeiro lote de 80.000 doses será entregue esta semana.
Nas próximas quatro semanas, o país deverá receber outras 500.000 de doses da mesma vacina. Até o final de março, estarão chegando 20 milhões de doses da vacina da Pfizer/BioNTech.
Segundo o ministro, 380 mil profissionais da saúde já se registraram para a vacinação. São 20 centros de vacinação em todas as nove províncias do país, com a previsão de imunizar 80.000 profissionais de saúde nas próximas duas semanas. O governo pretende vacinar 67% da população até ao final do ano. Desde março, mais de 8,7 milhões de testes de Covid-19 foram realizados.
Na quarta-feira, a ministra das Relações Internacionais e Cooperação, Naledi Pandor, anunciou que a África do Sul assegurou pelo menos 50 milhões de vacinas para três meses de vacinação, entre abril e junho, no continente africano.
“Na qualidade de presidente da União Africana, o Presidente [Cyril] Ramaphosa relatou, em 13 de janeiro de 2021, numa reunião especial da Assembleia da UA, que garantiu 270 milhões de doses provisórias de vacinas para os países africanos, com pelo menos 50 milhões disponíveis para o período crucial de abril a junho de 2021”, referiu a ministra sul-africana.
O Governo sul-africano anunciou em dezembro o acesso à iniciativa Covax da Organização Mundial de Saúde (OMS), para acesso equitativo às vacinas da Covid-19, através de um pagamento de US$ 19,2 milhões.
Uma semana depois de a África do Sul anunciar a suspensão do uso da vacina da AstraZeneca, o jornal The Economic Times disse que o governo estuda devolver as 1 milhão de doses da vacina contra a Covid-19 que recebeu do Instituto Serum da Índia. Um milhão de doses da vacina chegaram à África do Sul na semana passada, e outras 500 mil deveriam chegar nas próximas semanas.
Desde agosto, o número de novos casos cresceu rapidamente no país devido a uma segunda vaga de contágio impulsionada pela variante do coronavírus detectada na Cidade do Cabo, que se espalha 50% mais rápido, e em que os anticorpos naturais são menos eficazes.
“A variante 501.V2 do vírus SARS-COV-2 foi identificada por investigadores sul-africanos e comunicada à Organização Mundial da Saúde (OMS)”, disse em comunicado Mkhize. Uma equipe de cientistas da Universidade do KwaZulu-Natal sequenciou centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia em março.
“Os pesquisadores notaram que uma determinada variante dominou os resultados dos últimos dois meses”, explicou Mkhize, salientando que notaram também uma mudança no panorama epidemiológico, “principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença”.
“Tudo indica que a segunda vaga que estamos atravessando é transportada por esta nova variante”, acrescentou o ministro. Mkhize relatou, ainda, que os cientistas sul-africanos alertaram também o Reino Unido da identificação da nova variante, o que permitiu “estudar suas próprias amostras e encontrar uma variante semelhante”.