Painel com Tutu e Mandela na Câmara Municipal do Cabo, no dia do falecimento do arcebispo

Milhares de pessoas fizeram fila para se despedirem do arcebispo sul-africano, dos principais líderes da luta contra o apartheid, Desmond Tutu. As homenagens ao companheiro de lutas de Nelson Mandela tiveram início na quinta-feira (30), na Catedral de São Jorge da Cidade do Cabo, onde o corpo do arcebispo está sendo velado.

Tutu ganhou notoriedade quando, como líder religioso, liderou marchas contra a segregação racial oficialmente instalada na África do Sul e apoiou internacionalmente medidas contra o regime de supremacia branca de Pretória.

Apesar da árdua disputa contra um regime ditatorial e extremamente agressivo com seus opositores (inclusive mantendo o líder do Congresso Nacional Africano, Nelson Mandela, na cadeia por 27 anos), manteve uma postura firme e, ao mesmo tempo< serena: “Numa discussão nunca altere a voz, melhore os argumentos”, afirmava, sem deixar de frisar que “se você ficar neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor”.

O arcebispo Desmond Tutu veio a falecer no domingo, dia 26. No início da semana, com todos os cuidados impostos pela pandemia, realizou-se na Câmara Municipal da cidade do Cabo um evento em homenagem a Tutu com a presença de familiares e políticos e onde líderes cristãos, budistas, judeus, tradicionais africanos e muçulmanos ofereceram suas orações, mostrando o reconhecimento de toda a sociedade sul-africana. Os funerais estão programados para também acontecer em Johanesburgo e outras cidades do país.

Tutu será velado na catedral até esta sexta-feira (31), antes de uma missa com réquiem seguida de seu enterro no sábado, quando o presidente Cyril Ramaphosa fará o principal discurso fúnebre.

Graça Machel, viúva de Nelson Mandela, divulgou um comunicado em que lamentou a perda de quem chamou de um irmão, amigo leal e seu líder espiritual. “Ele (Desmond Tutu) magistralmente usou sua posição como clérigo para mobilizar sul-africanos, africanos e a comunidade global contra as brutalidades e imoralidade do governo do apartheid”, lembrou.

“Ele sempre foi a voz dos que não tinham voz e sempre a voz da razão”, disse o colega de ativismo anti-apartheid Chris Nissen, na fila diante da catedral.

“Basicamente, estou aqui só para prestar minhas homenagens”, disse Randall Ortel, médico e um dos primeiros membros do público em fila para entrar na igreja. “Ele certamente é um dos meus exemplos e quero copiar o que ele fez na vida”, disse.

Após a libertação de Nelson Mandela da prisão, onde passou 27 anos, foi o religioso quem conduziu o ativista a uma varanda na Prefeitura da Cidade do Cabo, onde ele proferiu seu primeiro discurso público.

Tutu recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1984 em reconhecimento à sua oposição não-violenta à odiosa discriminação imposta por uma minoria branca. Com o fim do regime, durante o governo de Mandela foi designado presidente da Comissão de Verdade e Reconciliação, em 1995, organismo criado por lei para promover a unidade nacional e fazer justiça às vítimas das políticas do apartheid imposto ao país em 1948. A Comissão entregou o informe oficial sobre o regime ao presidente em 1998.

Tutu, que pediu o caixão mais barato e não queria um enterro caro e suntuoso, será cremado e suas cinzas serão enterradas atrás do púlpito da catedral de onde ele pregou com tanta frequência.