Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal e ex-prefeito do Rio de Janeiro

Jair Bolsonaro desistiu da indicação de Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal e ex-prefeito do Rio de Janeiro, para a embaixada do Brasil na África do Sul.

A indicação junto às autoridades sul-africanas foi retirada oficialmente pelo governo. O pedido de agrément, consulta formal em que o Brasil pediu autorização de Pretória para nomear Crivella embaixador, aguardava a aprovação do governo sul-africano há mais de seis meses.

A informação saiu na “Folha de S.Paulo” desta segunda-feira 29. O jornal lembra que, na linguagem diplomática, um agrément que fica sem resposta significa que o indicado não foi aceito pelo país anfitrião.

Diante disso, o Brasil comunicou a chancelaria sul-africana que decidiu retirar o pedido.

A escolha do bispo para o cargo de embaixador no país africano teria sido a forma encontrada pelo presidente Bolsonaro de mostrar que estava prestigiando o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), do qual Crivella é sobrinho.

O movimento do governo era visto como uma tentativa de resolver os problemas da igreja de Edir Macedo no continente, com denúncias de lavagem de dinheiro. Em Angola, a Universal e a TV Record foram expulsas do país com o aval da Justiça depois de denúncias de evasão, lavagem de dinheiro e racismo contra pastores angolanos.

De acordo com a “Folha”, a resistência da África do Sul em dar aval à indicação de Crivella tem relação com a situação em Angola e também Moçambique.

As autoridades dos dois países fizerem chegar ao governo sul-africano o receio que o bispo licenciado da IURD transformasse a missão diplomática num posto avançado da Universal no território africano.

Os bispos angolanos denunciaram para as autoridades do país que a Igreja Universal do Reino de Deus levou ilegalmente de Angola para a África do Sul, a cada três meses, US$ 30 milhões. Os valores somados chegam a US$ 120 milhões por ano (R$ 675 milhões pelo câmbio atual).

Segundo a denúncia, o pastor e ex-diretor da TV Record África Fernando Henriques Teixeira foi o responsável pela operação, que se repetiu nos últimos 11 anos, desde quando o religioso brasileiro chegou ao país.

O ex-prefeito do Rio já morou na África do Sul, fala inglês e até escreveu um livro, intitulado Evangelizando a África, publicado no final da década de 1990 — obra que causou muita polêmica por causa de críticas a outras religiões, sobretudo as africanas.